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Sem Círio Fluvial, ribeirinhos dizem que vão manter homenagens a Nossa Senhora de Nazaré

Procissão que reunia mais de 300 embarcações pelas águas não ocorrerá este ano por causa da pandemia

Dilson Pimentel e Igor Mota

Por causa da pandemia do novo coronavírus, uma das mais bonitas procissões em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré, o Círio Fluvial, que percorre as águas da Baía do Guajará, não será realizada este ano. No entanto, os devotos ribeirinhos da padroeira dos paraenses garantem: eles vão, sim, ao seu modo, celebrar a data mais uma vez, com muita fé.

No ano passado, 307 embarcações foram cadastradas pela Capitania dos Portos da Amazônia Oriental para participar do Círio Fluvial - que, até então, vinha sendo realizado desde 1986. “Todo ano tinha preparativo no dia anterior, na sexta-feira. Preparava a embarcação, os enfeites. Tinha também o almoço de sábado, após o Círio Fluvial. E, cedinho, a gente saía em procissão para Icoaraci, para acompanhar a nossa santinha”, detalha, ao lado da esposa Rosália Quaresma, o empresário Wagner Conceição, 38 anos, tem um restaurante na ilha do Combu, pertinho de Belém. Veja:


“Esse ano, será diferente. Não terá a imagem presente lá. Mas o nosso coração, a nossa fé, a nossa esperança em Deus e em Nossa Senhora estarão firmes e fortes. Vamos estar acompanhando o Círio, fazendo o mesmo trajeto de todos os anos. Vamos enfeitar e decorar a lancha, receber os amigos, e, principalmente, estar em comunhão com todos”, afirma o casal.

“Só vai mudar o fato de não estar presente a imagem. Mas o importante é que ela está em nossos corações, em nossos pensamentos e em nossas orações”, diz Wagner. O empresário já recebeu muitas graças por intercessão de Nossa Senhora de Nazaré. “Nossa vitória no dia a dia, esse despertar, já é uma benção. Cada dia é um milagre”.

“Esse ano será diferente. Não terá a imagem presente lá. Mas o nosso coração, a nossa fé, a nossa esperança em Deus e em Nossa Senhora estarão firmes e fortes. Vamos estar acompanhando o Círio, fazendo o mesmo trajeto de todos os anos. Vamos enfeitar e decorar a lancha, receber os amigos, e, principalmente, estar em comunhão com todos. O mais importante é que Nossa Senhora está em nossos corações, em nossos pensamentos e em nossas orações”, dizem Wagner Conceição e sua esposa, Rosália Quaresma

Comunidade vai enfeitar lancha e marcou missa


Marilda Gomes da Costa, 35 anos, mora na comunidade ribeirinha Menino Deus, que fica na Ilha Nova. De barco, e dependendo da maré, a localidade fica a uma hora e meia de Belém. Lá, uma capelinha e um barracão são os abrigos onde os moradores fazem suas programações religiosas e festivas. “É um ponto onde a gente se reúne para orar, cantar, assistir missa”. 

Dona Marilda já planeja: para o dia em que haveria o Círio Fluvial, uma missa foi marcada, e os moradores vão até o local em uma lancha, toda enfeitada. “Vamos cantar uns hinos e participar da missa. E, após a missa, cada um vai para a sua casa. Essa foi a maneira que a gente achou para participar um pouco das homenagens para Nossa Senhora de Nazaré”.

Até o ano passado, os moradores da comunidade da Ilha Nova enfeitavam suas embarcações, vestiam camisas em homenagem à padroeira dos paraenses e acompanhavam o Círio Fluvial.

“Vamos cantar uns hinos e participar da missa. E, após a missa, cada um vai para a sua casa. Essa foi a maneira que a gente achou para participar um pouco das homenagens para Nossa Senhora de Nazaré”, planeja Marilda Gomes da Costa, moradora da comunidade ribeirinha Menino Deus, que fica na Ilha Nova, a uma hora e meia de Belém. Lá, uma capelinha e um barracão sediarão a programação

 

 

'Não vai ter Círio Fluvial, mas terá almoço em família'


“O Círio significa muito para o povo paraense. A gente se programa o ano todo para experimentar essa emoção, essa fé”, justifica o engenheiro de segurança Elmer Ribeiro, de 29 anos, morador do Telégrafo, em Belém. 

Elmer trabalha por conta própria com venda de peixe, transportando a mercadoria de  Vigia e de Belém para outros estados. “A gente sabe que precisa retroceder um pouquinho para garantir a segurança dos clientes, dos passageiros e nossa também. Mas, se for para o bem de todos, estamos aí de apoio. Mas [não ter o Círio Fluvial] muda, e muda muito”, pondera.

Devota de Nossa Senhora de Nazaré, Jéssica Cardoso, 32 anos, é bombeira civil. “Todo ano [e no dia do Círio Fluvial], a gente trabalhava nas embarcações, fazendo segurança das pessoas. E, agora, não vai ter. Então, a gente não vai poder realizar esse trabalho”.

No entanto, no dia que seria realizado o Círio das águas ela estará trabalhando em um restaurante na ilha do Combu. “Não vai ter o Círio, mas vai ter o almoço. Cada um em suas casas, já que não pode ter aglomeração, fazendo suas homenagens. Pra mim, muda bastante. O Círio é aquela fonte de fé, todo mundo junto, muda tudo”, justifica Jéssica.

Ela e sua família já tiveram várias graças alcançadas por intercessão de Nossa Senhora. “O trabalho foi uma delas. A gente sempre pede saúde e, graças a Deus, nós conseguimos”. 

Pescador lembra graças em naufrágio


O pescador Emerson Ronaldo Souza do Carmo, 48 anos, mora em Salvaterra, no Arquipélago do Marajó. Todos os anos ele viaja para o trapiche de Icoaraci, para ver a saída da romaria fluvial, quando presta suas homenagens a Nossa Senhora de Nazaré. Ele disse que essa tradição começou, há muito tempo, com seu pai, José de Ribamar Malheiros, 74 anos, a quem acompanhava nessas viagens até Belém. Ele faleceu há oito meses.

Há dois anos, seu José de Ribamar sofreu um naufrágio. Ele dizia ter sido salvo graças à Virgem de Nazaré, a quem se apegou para não morrer. A balsa bateu na embarcação em que estava, mas ele sobreviveu. “Estamos na expectativa de ter [a romaria fluvial]. Espero que tenha”, aguarda Emerson, que afirmou já ter tido muitas graças alcançadas por intercessão de Nossa Senhora de Nazaré.

Emerson do Carmo, 48 anos, mora em Salvaterra, no Marajó. Todos os anos viaja para o trapiche de Icoaraci para ver a saída da romaria fluvial. É quando presta suas homenagens a Nossa Senhora de Nazaré. A tradição começou há muito tempo, com seu pai, José de Ribamar Malheiros, de 74 anos, que faleceu esse ano. Seu José sofreu um naufrágio. Dizia ter sido salvo graças à Virgem de Nazaré, a quem se apegou para não morrer. A balsa bateu na embarcação em que estava, mas ele sobreviveu. “Estamos na expectativa da romaria fluvial. Espero que tenha”, diz Emerson

 

De longe para encontrar Nossa Senhora de Nazaré


Seu Edilson de Vilhena Leite, 77 anos, também mora em Salvaterra. Muitos moradores de cidades do Marajó desembarcam no trapiche de Icoaraci. Eles vêm para resolver assuntos particulares ou para comercializar produtos em Belém.

Toda semana, Edilson está na capital, onde vende frutas. Ele disse que é tradição acompanhar o Círio Fluvial. “Todo ano eu venho. Não perco. E, daqui [trapiche de Icoaraci], a gente vê a santa. Eu vejo do meu barco”, contou ele, que, em sua embarcação, leva três horas de Salvaterra até Belém.

Ele afirmou que acompanha a procissão pelas águas há muito tempo. “É bom. Eu gosto”, justfica. Por causa da pandemia, seu Edilson disse que, este ano, não haverá aquela “animação” como ocorria todos os anos. Mas diz que o espírito do Círio e sua tradição serão mantidos. “Vai ter o almoço na casa da minha filha, na Pedreira”, sorri o comerciante.

“Todo ano eu venho. Não perco. Daqui [do trapiche de Icoaraci] a gente vê a santa. Eu a vejo do meu barco”, conta Edilson Vilhena, de 77 anos. Morador de Salvaterra, ela leva três horas até Belém, em sua embarcação. “É bom. Eu gosto”, justfica. Por causa da pandemia, diz que não haverá aquela “animação”. Mas diz que o espírito do Círio e sua tradição serão mantidos. “Vai ter o almoço na casa da minha filha, na Pedreira”, sorri

Diretoria orienta devotos a acompanharem Círio pela TV


Neste ano atípico, o posicionamento da Diretoria da Festa de Nazaré para todas as romarias do Círio tem sido o mesmo: os diretores dizem que não podem impedir as manifestações dos devotos.

Mas, como não terá o mesmo esquema de segurança - o qual seria mantido se houvesse procissão -, a recomendação é que os devotos fiquem em casa e acompanhem as programações pela TV Círio e pela TV Nazaré. "Será cheia de histórias e bastidores do Círio", diz a coordenação da festa. 

A Diretoria da Festa de Nazaré diz que está montando um material bem rico com informações. E também deixa claro que não se responsabiliza por essas manifestações dos devotos.

Fiscalização da Marinha acontecerá


Por sua vez, o Comando do 4º Distrito Naval da Marinha do Brasil confirma que não há ações previstas para atender especificamente demandas do Círio Fluvial, já que a procissão não ocorrerá este ano, por decisão da Arquidiocese de Belém, devido a pandemia do novo coronavírus. 

Porém, a Marinha avisa: a inspeção naval realizada pela Capitania dos Portos da Amazônia Oriental ocorre diariamente na orla de Belém. "Por este motivo, as equipes de inspeção estarão atuando na fiscalização de segurança do tráfego aquaviário na área, com objetivo de garantir a segurança da navegação, a salvaguarda da vida humana no rio/mar e a prevenção da poluição ambiental por parte de embarcações”, disse o Comando do 4º Distrito Naval.

Círio Fluvial: tradição completa 34 anos


Na romaria fluvial, o percurso pelas águas da Baía de Guajará tradicionalmente corresponde a aproximadamente 18 quilômetros, saindo de Icoaraci até a Praça Pedro Teixeira (escadinha do cais - ao lado da Estação das Docas).

Até o ano passado, uma embarcação da Marinha do Brasil levava Imagem peregrina em um nicho, seguida por centenas de embarcações de todos os tipos e tamanhos. Em muitas delas é celebrada a santa missa, com momentos de espiritualidade e muito louvor. 

A primeira romaria fluvial foi realizada pela então Companhia Paraense de Turismo em 1986. Na chegada, na escadinha (Praça Pedro Teixeira), Imagem era recebida com honras de Chefe de Estado, pela Polícia Militar.

Essa homenagem vem se repetindo desde 1999, motivada por uma lei estadual, a de nº 4.371, de 15 de dezembro de 1971, que proclamou a Virgem de Nazaré Padroeira do Pará Rainha da Amazônia e merecedora dessa grande honraria.

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