Feira do Artesanato de Miriti 2025 leva arte e tradição de Abaetetuba para Belém
Programação será realizada de 8 a 12 de outubro, na praça Dom Pedro II, e reunirá 49 estandes de exposição e venda de produtos

Promovida pela Fundação Cultural Abaetetubense, a Feira do Artesanato de Miriti 2025 será realizada de 8 a 12 de outubro, na praça Dom Pedro II, em Belém. O evento antecede o Círio de Nazaré e reúne exclusivamente artesãos de Abaetetuba, cidade reconhecida nacionalmente como o berço do tradicional brinquedo de miriti. Nesta edição, a feira terá como tema “Tradição, Arte e Sustentabilidade rumo à COP 30”, conectando a produção artesanal amazônica aos debates globais sobre preservação ambiental, informou a Prefeitura de Belém.
A programação contará com 49 estandes de exposição e venda de produtos, além de apresentações culturais com artistas de Abaetetuba, fortalecendo a economia criativa e promovendo intercâmbio cultural entre os municípios. Relatos históricos indicam que, já na realização do primeiro Círio de Nazaré, no século 18, os brinquedos de miriti estavam presentes nessa que se tornou uma das maiores manifestações de fé católica do mundo. Ou seja: desde a primeira procissão do Círio de Nazaré em 1793, o artesanato de miriti é um dos elementos da festividade em homenagem à padroeira dos paraenses.
Os brinquedos de miriti são um patrimônio cultural imaterial do Estado do Pará e do Brasil, tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). No ano de 2009, o governo do Pará sancionou a Lei 7.282, que tornou o brinquedo de miriti Patrimônio Cultural de todos os paraenses.
E a confecção desse tipo de artesanato transformou Abaetetuba, no nordeste paraense, na capital mundial do miriti. Rivaildo Peixoto, o “Mestre Riva”, irá participar novamente da feira. Ele levará para Belém 1.300 peças, dos quais já vendeu mais de um terço. “Minhas peças principais são os pássaros, embarcações, pato no paneiro, dentre outras”, disse. Ele também falou sobre a expectativa dos artesãos para a COP 30, em novembro. “Nossa expectativa sobre a COP é o nosso próprio público de Belém, como hotéis, restaurantes e outros órgãos. Esperamos que esse público consuma a cultura do artesanato de miriti para decoração de ambiente”, afirmou.
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Quarto elemento mais importante do Círio, diz artesão
Mestre Riva conta que a família dele já está na quarta geração de pessoas que fazem brinquedos de miriti. “No primeiro Círio que ocorreu já havia relatos de uma feira de utensílios regionais de niriti. Não se sabe ao certo aqui em Abaetetuba quem começou, quem protagonizou. A gente só sabe que existe há algumas gerações”, contou. “É o quarto elemento mais importante do Círio, ficando atrás somente atrás da corda, da procissão e da (festa da) Chiquita”, afirmou.
Mestre Riva é filho de Raimundo da Silva Peixoto, que trabalha com miriti há mais de 50 anos. Raimundo é conhecido como “Mestre Diabinho”, um apelido que vem da época em que jogava bola, por causa da cor vermelha do cabelo. A família da esposa dele, Rosineide Moraes Peixoto, já trabalhava com miriti. Desde os seis anos de idade Raimundo levava o filho, hoje o Mestre Riva, para Belém. “Trabalhei 32 anos na panificação e dois anos e meio como professor de Geografia. Larguei tudo. Essa arte falou mais alto. E é com essa profissão que vou para o caixão. O miriti é tudo pra gente”, lembrou Riva.
Assim como a impressão digital classifica uma pessoa, os traços e cortes de uma peça também identificam o artesão. O pai dele, por exemplo, se sobressaiu nos brinquedos estilizados, com movimentos. “Antes, o jacaré era uma peça fixa e não tinha movimento. E isso foi o ‘pulo do gato’ pra ele”, contou. No caso de Riva, são as canoas, que foi a primeira peça que eu aprendi a fazer. “Faço um pouquinho de cada, mas ela é o meu xodó”, contou.
Museu do Círio expõe peças o ano todo
Outra exposição tradicional dos brinquedos de miriti, em Belém, é a do Museu do Círio, administrado pela Secretaria de Estado de Cultura (Secult), que funciona no Complexo Feliz Lusitânia, bairro da Cidade Velha, em Belém. Com um rico acervo, em torno de 2 mil peças, o Museu do Círio retrata e produz conhecimento acerca da devoção popular em torno da celebração do Círio de Nossa Senhora de Nazaré. São 11 coleções, que vão desde arte sacra do século XIX até a arte popular em objetos de miriti.
Um dos maiores acervos do Museu do Círio traz cerca de 500 peças de miriti. A maioria dos objetos de miriti do Museu foi doada por romeiros, que pagaram promessas durante a procissão do Círio levando os objetos. O acervo de miriti do Museu do Círio também é composto por peças de artistas contemplados em editais de incentivo à produção do artesanato. Os modelos mais interessantes são adquiridos pela Secult e passam a fazer parte da coleção.
A cada exposição anual do Museu do Círio, cerca de 40 objetos de miriti são expostos. A exposição deste ano terá o tema: “Museu do Círio, festa em movimento”, e terá o miriti como destaque, já que irá focar nos símbolos do Círio. “A arte do miriti é de suma importância para a nossa região, porque ela valoriza o trabalho do nativo ribeirinho. Os objetos de miriti retratam as vivências desses ribeirinhos”, disse estaca Márcio Figueiredo, historiador e diretor do Museu do Círio. “É aquele pescador, aquela família que não tem acesso à capital. As peças de miriti têm essa relação de pertencimento com o povo amazônico. Não é só um artesanato, um brinquedo, é um símbolo potente de pertencimento de um povo”, afirmou.
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