Círio 2023: produzido em Abaetetuba, brinquedo de miriti faz parte da história do Círio de Nazaré

Segundo os artesãos, esse artesanato é considerado o quarto elemento mais importante do Círio

Dilson Pimentel
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O brinquedo de miriti é considerado o quarto elemento mais importante do Círio de Nazaré. Levantamentos históricos apontam que, já na realização do primeiro Círio, no século 18, esse tipo de artesanato estava presente nessa manifestação de fé católica realizada em homenagem à padroeira dos paraenses.

Diretor do Instituto Multicultural Miritis da Amazônia (Imma), de Abaetetuba, no nordeste paraense, o artesão Rivaildo Peixoto, o “Mestre Riva”, 48 anos, disse que o brinquedo de miriti é o quarto elemento mais importante do Círio, ficando atrás somente atrás da corda, da procissão e da festa da Chiquita. Segundo ele, no primeiro Círio que ocorreu já havia relatos de uma feira de utensílios regionais de miriti. "Não se sabe ao certo aqui em Abaetetuba quem começou, quem protagonizou. A gente só sabe que existe há algumas gerações”, afirmou.

Mestre Riva é filho de Raimundo da Silva Peixoto, 73, que trabalha com miriti há 50 anos. Raimundo é conhecido como “Mestre Diabinho”, um apelido que vem da época em que jogava bola, por causa da cor vermelha do cabelo. Ele lembrou que, no começo, os artesãos “corriam atrás” dos clientes.

Hoje, e com a dimensão que o artesanato ganhou, sendo conhecido em Belém, no Pará e no exterior, são os clientes que vão atrás desses trabalhadores. Antes, a produção era voltada apenas para o período do Círio, que continua sendo a principal vitrine para os artesãos de Abaetetuba, município considerado “a capital mundial do miriti”.

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“No tempo que eu comecei a trabalhar, eu corria atrás para vender minhas peças. Hoje eu tenho muitas encomendas que, às vezes, não dou conta. Nunca pensei que o miriti ia chegar nesse ponto”, contou. “Assim como eu, tem um bocado de artesão que trabalha o ano inteiro”, contou. Diz mestre Diabinho: “O miriti representa tudo. A gente não pode ficar sem fazer, né?”, contou ele, que fará 74 anos.

Dona Maria de Fátima Rodrigues Santos, 71, é conhecida como Dona Pacheco. Este ano completará 40 anos participando do Círio. Ela lembrou que começou a vender artesanato na praça do Carmo, em Belém. “Sem cobertura, sem nada. Naquele tempo a gente ia pelas canoas. Tirava as caixas na feira do Açaí e carregava na cabeça”, contou. Depois de alguns anos, eles começaram a vender na praça da Igreja da Sé. “E deu uma chuva, mano, antes da santa chegar na igreja. Isso faz muitos anos”, disse. Os artesãos protegeram, como puderam, os brinquedos.

Artesão gostaria que jovens se interessassem em produzir brinquedos de miriti

Apesar da chuva, eles venderam todo o artesanato. “Não sobrou um brinquedo de miriti. Todo mundo achou bonitas as tintas”, contou. Dona Pacheco trabalha com o marido, Antonio Rodrigues Santos, 73 anos. Ela disse que vai continuar trabalhando enquanto Nossa Senhora lhe der saúde. “Tenho duas visões, duas mãos, duas pernas. Tudo o que conquistei, inclusive a minha casa, foi por causa do brinquedo de miriti, graças à Nossa Senhora de Nazaré”, contou.

O artesão Valdeli Costa, 53 anos, é presidente da Miritong (Associação Arte Miriti de Abaetetuba), criada em 2005 e que trabalha a partir de três eixos: o social, o ambiental e o cultural. Ele produz peças de miriti desde 1989 no miriti, e trabalha na casa dele, cujo ateliê é conhecido como “Fábrica de Sonhos”.

Valdeli disse que, durante a pandemia, morreram três artesãos que produziam muitos brinquedos de miriti. Segundo ele, a demanda aumentou e há menos artesãos. E chamou atenção para um aspecto importante: a falta de interesse dos jovens em produzir esse tipo de artesanato, o que sobrecarrega os artesãos veteranos. Ele manda uma mensagem para os jovens: “É uma atividade muito bacana. Não pega chuva, não pega sol, não faz força, não corre risco no trânsito. Trabalha na hora que quer, pode estudar. A pessoa pode trabalhar só na hora vaga e ganha um dinheirinho”, disse.

 

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