Conheça a história do guarda de Nazaré que já bordou 14 mantos do Círio
O manto deste ano também foi bordado por ele, que foi convidado para a tarefa pela primeira vez em 2003
O manto deste ano também foi bordado por ele, que foi convidado para a tarefa pela primeira vez em 2003
Antônio José de Souza, bordador de mantos oficiais do Círio de Nazaré e membro da Guarda de Nazaré, é um exemplo de devoção, superação e fé. Ao longo dos últimos 21 anos, ele bordou 14 mantos para a Imagem Peregrina, e sua história está profundamente entrelaçada à Nossa Senhora. Sua trajetória no ofício começou ainda na juventude, quando foi influenciado pela bordadeira Maria de Fátima, que o ensinou e o apresentou ao mundo dos bordados, além de ter sido sua esposa. “Eu aprendi a bordar com ela: roupas de noiva, debutantes, formaturas...”, lembra Antônio, que mais tarde seria convidado a bordar o manto da Padroeira do Pará, em 2003.
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O convite inesperado marcou o início de sua jornada na confecção de uma das peças mais simbólicas do Círio. “Quando eu cheguei lá e vi aquela peça na minha frente, eu tomei um susto. Nem passava pela minha cabeça fazer um manto”, diz. Desde criança, Antônio sempre foi devoto de Nossa Senhora, e bordar o manto é, para ele, um ato de fé. “Fazer os mantos de Nossa Senhora me leva para junto dela. Eu faço uma viagem quando estou bordando, saio de tudo e coloco toda a minha energia, todo o meu amor, toda a minha fé”.
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Antônio acredita que sua cura foi um milagre de Nossa Senhora. Durante o período em que esteve internado, ele relata ter sentido a presença de uma senhora ao seu lado, que o acalmava nos momentos de dor. “Ela chegava, mexia comigo, mexia nos equipamentos e depois pedia para eu dormir. Acordava melhor”, lembra, emocionado. Após sua recuperação, o envolvimento com o Círio se intensificou, tanto como bordador quanto como membro da Guarda de Nazaré. Para ele, esses dois papeis são complementares e fortalecem sua fé. “Na Guarda, nós temos momentos de oração, visitamos hospitais, e tudo isso nos aproxima mais de Nossa Senhora”, explica.
Em meio aos desafios pessoais, como a perda de sua esposa, Maria de Fátima, Antônio encontrou forças na fé e no apoio de amigos. Ele descreve o momento da partida de sua esposa como um dos mais difíceis de sua vida, mas também como uma prova de que nunca esteve sozinho. “Eu achei que estava só, mas Nossa Senhora e Jesus Cristo nunca nos abandonam”, afirma.
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Ao falar sobre os mantos que já bordou, Antônio tem dificuldade em escolher um preferido, mas destaca o de 2020, o ano da pandemia, como particularmente especial. “A gente estava com muito medo, não sabia o que ia acontecer. A estilista [Kátia Novelino] estava se programando para viajar e comprar os materiais, quando veio a notícia de que ia fechar tudo. Ela disse: ‘Antônio, corre para o comércio e vamos trabalhar com o que nós temos aqui’. Eu rezava muito enquanto bordava. Esse manto é inesquecível, ele fala muito para nós”, reflete.
Para Antônio, bordar o manto da Virgem de Nazaré é muito mais do que um trabalho. “O manto é feito com tanto amor que ultrapassa o sentimento. As pessoas chegam ali sofridas, em busca de algo, e o manto dá esse carinho, esse conforto”, conclui.