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Confiança em Maria concede a esperança necessária

Choque inicial diante da doença rara da filha dá lugar à fé incondicional nos mistérios divinos

Fernanda Martins

No dia 24 de janeiro de 2011, Nathália Gonçalves, então com 22 anos, viu o sonho da maternidade começar de um jeito que jamais esperou. Logo após nascer, sua primogênita foi levada pelas enfermeiras sem muitas explicações. Alarmada com a reação da equipe médica, ela fez perguntas, respondidas apenas com um vago “uma assistente social vai conversar com você”. Apenas doze horas depois, Nathália conheceu Kemilly Fernanda. “Ninguém foi me explicar o que havia acontecido. Uma enfermeira simplesmente entrou no quarto e me entregou a Kemilly, dizendo que ela precisava de uma troca de fraldas”, recorda Nathália.

Naquele primeiro contato, a mãe percebeu a gravidade da má formação no crânio que acometeu a filha, algo que depois ela descobriu ser a Síndrome de Crouzon – uma doença rara de origem genética que compromete o desenvolvimento crânio-facial e pode acarretar em problemas mentais, visuais, respiratórios, anatômicos e de comunicação. “Senti um desespero muito grande, pois não sabia o que fazer. Éramos eu e ela a partir dali e ela dependia de mim. Sai da maternidade sem nem sequer um encaminhamento. Precisei correr atrás de tudo, sem dinheiro, sem informações, sem nada. Passei o mês de fevereiro inteiro chorando”, conta.

Já em atendimento pela rede pública, Kemilly colecionava consultas, exames e internações. “Quando ela completou sete meses, foi internada na UTI do Hospital Ophir Loyola. Os médicos que atendiam me disseram que ela teria uma semana de vida e que, se chegasse a ter alta de lá, ela seria um vegetal. Fiquei muito angustiada, mas no meu coração existia esperança”, relembra ela, que decidiu apelar para a Nossa Senhora de Nazaré.

Ali mesmo, Nathália clamou pela Virgem e prometeu acompanhar o Círio de Nazaré na corda se a filha apresentasse melhora. “Conseguimos um encaminhamento para tratamento especializado em São Paulo. Lá, vi minha filha renascer. Grande parte do osso do crânio dela se formou”, comemora. Após algumas cirurgias, Kemilly apresentou melhoras no desenvolvimento. Na volta para Belém, Nathália cumpriu a promessa e, com o passar dos anos, notou a conexão particular que a filha desenvolveu com Nossa Senhora.

“Eu me batizei em outra igreja, mas o laço com Nossa Senhora ficou em mim e passou para ela. Nunca vi uma criança que pede para ir à missa, para acompanhar o Círio. Sempre levo ela na Trasladação”, afirma. Apesar de ainda precisar de uma cadeira de rodas, a menina, hoje com oito anos, adora brincar, assistir TV e fazer selfies no celular – que são postadas diretamente em seu Instagram.

Ainda necessitando de mais cirurgias para afastar um problema respiratório e ter uma melhor qualidade de vida. “Sei que precisamos dar um passo de cada vez, mas tenho fé que ela vai andar”, diz a mãe que é prontamente corrigida pela menina, “andar não, correr”. Durante a visita da imagem peregrina da Virgem ao Abrigo Especial Calabriano, onde Kemilly faz fisioterapia, a menina se emocionou ao tocá-la, o que levou a mãe às lágrimas. “Nossa Senhora e Deus vão nos ajudar. Ela vai conseguir”, finalizou.

Círio de Nazaré