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Círio 2023: corda produzida no Pará sai de Castanhal rumo a Belém

Pela primeira vez na história do Círio de Nazaré, a corda, um dos símbolos mais importantes das principais procissões, tem matéria-prima e fabricação inteiramente paraenses

Patrícia Baía

Produzida no Pará, a corda que será utilizada no Círio 2023 saiu do município de Castanhal, nordeste do Pará, na manhã desta quarta-feira (13), por volta das 10h15, rumo a Belém. A cerimônia para entrega do símbolo de fé começou 8h30, na empresa Castanhal Companhia Têxtil (CTC), onde foi feita a confecção. 


A programação começou com uma celebração presidida pelo bispo Da Diocese de Castanhal, Dom Carlos Verzeletti, que caminhou com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré pela área externa da CTC, abençoando os colaboradores.

A imagem que participou da cerimônia é a mesma peregrina de Belém e foi trazida pelos Guardas da Santa.

Depois o cortejo formado por colaboradores, diretores da CTC , autoridades e a diretoria do Círio de Nazaré seguiu até o galpão onde estava a corda . Dom Carlos derramou água benta na corda e em seguida ela foi colocada no caminhão que a transportou para a Estação Padre Luciano Brambilla (antiga Estação dos Carros), no estacionamento da Basílica Santuário, no Centro Social de Nazaré, em Belém. Com previsão de chegada para 11h.

Dom Carlos Verzeletti falou da valorização do povo paraense. “Existem tantas coisas que o povo do Pará pensa que não pode fazer, mas ele pode fazer tudo. Há no meio de nós um patrimônio de inteligência extraordinária que deve ser cada vez mais aproveitado e a corda agora passa a ter um significado muito mais profundo na vida do nosso povo paraense e em especial aos castanhalenses”, disse o bispo da Diocese de Castanhal.

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A corda foi doada pela empresa CTC à Diretoria da Festa de Nazaré -DFN, em parceria com a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (SEDEME).

O gerente industrial da CTC, Robson Torres destacou que a corda estará representando parte da biodiversidade do estado. “Por 230 anos a corda era feita fora do Pará. Já foi comprada de sisal na Bahia ou industrializada em Santa Catarina e desta vez tivemos a oportunidade de desenvolver a corda do Círio em fibra de malva, que é uma planta nativa da Amazônia. Uma oportunidade de representar toda a biodiversidade paraense, assim como todos os nossos colaboradores”, disse.

A principal matéria prima usada na confecção da corda, a malva, veio do nordeste paraense, sendo um dos principais produtores Castanhal, em uma propriedade localizada na região do Barreirão, distante 2 quilômetros do centro urbano do município.

 “A malva é produção do agricultor familiar de Castanhal que faz parte dos projetos de sementes e fibras assistidos pela empresa e com o apoio da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará – Emater”, disse o gerente industrial da CTC.

Para confeccionar os 800 metros da corda do círio foram usados mais de 1 mil quilos de malva com bitola de 60milimetos. A matéria prima permitirá mais conforto as mãos dos promesseiros.

“Ela permite uma tenacidade mais proveitosa e resistente e não tão áspera e abrasiva como as cordas de sisal ou a industrializada. Os fiéis vão sentir a diferença no tato e poderão pagar suas promessas com um toque mais agradável as mãos. Isso também foi pensado de acordo com a engenharia do produto. O desenvolvimento da corda tem que ser resistente para poder suportar a carga e para não ter ruptura, mas tem a capacidade de corte”, explicou Robson Torres.

Além da fibra de malva a corda também possui em sua composição a fibra de juta, também produzida no Pará, principalmente nos campos de Alenquer.                                          

O começo

A ideia de produzir a corda do Círio surgiu de forma inusitada, quando os executivos da indústria e diretores da SEDEME estavam em visita a um dos campos de malva no município de Alenquer, em setembro do ano passado.

“Ficamos presos e atolados na estrada e a forma como conseguimos sair de lá foi com a ajuda de uma corda de malva. Nós desatolamos quando tracionamos a corda com ajuda de um outro carro, além da força humana. Na mesma hora pensamos que poderíamos produzir a corda do Círio”, contou Robson Torres.

Em março de 2023 iniciaram as conversas entre a empresa e a DFN para a confecção da corda.

“O secretário Carlos Ledo fez a apresentação da nossa empresa a diretoria do Círio e eles nos chamaram. Eu fiz a apresentação e os convidei a conhecer a empresa e eles perguntaram de que maneira poderíamos desenvolver e foi quando a primeira amostra que foi para o laboratório da UFPA e iniciaram os testes de fracionamento e desenvolvemos a ficha técnica da engenharia do produto”, disse o gerente industrial da CTC.

Após a entrega dos laudos, foi iniciada a produção da corda utilizada nas procissões, que tem 800 metros de comprimento com partes de 400 metros, para cada romaria, tendo 50 milímetros de diâmetro.  Ela já vem adaptada às estações de metal que auxiliam no traslado das berlindas durante as romarias.

Antônio Salame, diretor da Festa de Nazaré, enfatiza os benefícios que a corda produzida no estado passa a agregar ao Círio.

“Era sempre um problema porque a gente tinha que importar de outros estados e levava tempo e custo financeiro e hoje a gente sabe que teremos uma corda diferente com mais delicadeza no tato e totalmente produzida em terras paraenses, desde as sementes, colheita e fabricação. Toda essa cadeia de produção está atrelada a Maria e ao seu filho Jesus a partir deste Círio. A nossa parceria só está começando”, explicou Salame.

 

Círio de Nazaré