Círio 2022: Conheça a origem do cartaz da festividade

Erika Maués Bastos Fazio, de 37 anos, é paraense e mora há 11 anos no Rio de Janeiro. Todos os anos ela enfeita a porta da casa com a imagem da Santa

Amanda Martins

Quando o cartaz do Círio de Nazaré começa a ser fixado nas portas e janelas das residências é sinal que o mês de outubro está bem próximo. Ao longo do tempo, essa tradição deixou de ser apenas um ritmo que marca a aproximação da festa católica, para se tornar um importante símbolo do Círio, segundo a antropóloga e estudiosa da manifestação religiosa Mariana Ximenes. E, mais do que isso, o ato também pode ser visto como uma maneira de ‘levar” Maria para dentro de casa, de estar com Ela, e receber bênçãos diárias. 

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De acordo com a pesquisadora Mariana Ximenes, os devotos de Nossa Senhora de Nazaré encontram muitas formas de homenagear e expressar a sua  fé, pregar a imagem da Santa em algum objeto seria uma dessas. A antropóloga afirma que essa devoção pública e espontânea nasce da vontade de querer criar um vínculo afetuoso “mais real e palpável” com Maria. 

“Portar e exibir objetos de cunho religioso são usados como elementos de proteção pela humanidade desde os tempos mais remotos, e no Círio, não seria diferente. Colocar o cartaz compõem esse universo, alguns colecionam em suas paredes cartazes de cada ano como forma de demonstrar sua fé e devoção, mas também de pedido de proteção e agradecimento por graças alcançadas”, explica a estudiosa sobre a simbologia do cartaz.

Essa demonstração de fé não fica restrita apenas aos católicos que residem no Estado. Para a antropóloga, desde crianças os paraenses aprendem com as próprias famílias o significado do segundo domingo de outubro, que envolvem o almoço do Círio e a relação afetiva com o pato no tucupi e a maniçoba, as procissões em casa e a emoção de acompanhar a Trasladação e o  Círio de Nazaré. 

Por isso, quando este paraense se muda para outra região do país, costuma querer manter a tradição de querer não apenas acompanhar a procissão do Círio pela televisão ou internet, como pregar o cartaz na porta de casa. “É uma forma de querer transmitir e socializar as crenças para as crianças que estão aqui, mas também para continuar praticando suas próprias vivências",  esclarece Mariana Ximenes. 

Poder do Círio: paraense fala sobre ‘fé aflorar’ mesmo distante da capital

A analista financeira Erika Maués Bastos Fazio, de 37 anos, é paraense e mora há 11 anos no Rio de Janeiro. Desses, em apenas dois conseguiu viajar para Belém e passar o Círio com a família e acompanhar presencialmente uma das procissões. Ela confessa que quando chega essa época costuma sentir-se saudosa e triste, pois relembra toda a plenitude que envolve a festividade. 

Para não se sentir muito distante, Erika conta que costuma acompanhar tudo pela internet e no domingo do Círio tem o costume de almoçar em um restaurante paraense, localizado na capital carioca, onde vende maniçoba - um dos pratos mais servidos durante a quadra nazarena. 

Neste ano, a paraense ganhou de uma amiga um cartaz do Círio de Nazaré 2022 e colocou-o na porta do apartamento como “manda a tradição”.  Para Erika, toda essa preparação e organização para a festividade, mesmo que longe, é muito importante e deve ser mantida.  

“Acho muito interessante que é algo que não dá para explicar, mas mesmo longe na época do Círio é como se algo mudasse em mim, fico mais sensível, a fé aflora, é um sentimento muito peculiar e maravilhoso que só quem vive o Círio sabe. É algo sobrenatural que mexe de verdade com a nossa rotina e emoções”, afirma. 

Conheça a origem do cartaz do Círio de Nazaré

Desde o século XIX eram produzidas peças de divulgação da Festa do Círio, mas estas eram bem diferentes do que são publicados nos dias atuais e os devotos entendem como cartaz. O primeiro que se tem notícia foi confeccionado em Portugal no ano de 1826. Mas foi na década de 70 que o cartaz se tornou um dos principais símbolos da festividade nazarena. 

image Diretor de marketing do Círio, Roberto Souza, mostrando os cartazes do Círio (Márcio Nagano / O Liberal)

De acordo com a pesquisadora do Círio, Mariana Ximenes, antes de 1855, o “cartaz do Círio” nada mais era do que uma peça com texto informativo divulgando quem eram os juízes da festa. Posteriormente, ela passa a ser feita com imagem, mais precisamente uma gravura da Santa, que traz a representação dos milagres atribuídos a Nossa Senhora em Portugal e na Amazônia.

“Já em 1909 é que surge uma peça que se aproxima mais do que chamamos de cartaz atualmente. É apenas em 1979 que o cartaz começa a ser produzido anualmente, indicando a temática da festa e apenas com informações básicas como data, local, e qual a edição do Círio naquele ano”, explicou a professora. 

Em 91, a agência de publicidade Mendes Comunicação começa a produzir o cartaz voluntariamente, e ao longo dos anos, ele passa a assumir “a estética, as técnicas e questões sociais e políticas do seu tempo”,  pontuou Mariana Ximenes. Ainda segundo a pesquisadora, com o tempo, o cartaz passou a ser um elemento de anunciação da proximidade do Círio, e também ter um evento de lançamento dedicado a ele, realizado no mês de maio. 

“Ele [o cartaz passa a ter um vínculo também com as peregrinações de Nazaré, pois é durante essas novenas que um número considerável de pessoas passam a ganhar ou adquirir o cartaz e colocar em suas casas, identificando que ali há um devoto de Nossa Senhora de Nazaré”, explicou a antropóloga. 

Atualmente, o cartaz mede 66 cm de altura e 47 cm de largura, mas nem sempre foi assim. Em 2001, foi criado o primeiro e único cartaz na horizontal. A cada um, um fotógrafo paraense é escolhido para fazer a foto do cartaz. 

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