Chuva marca o início do Auto do Círio 2025, mas não diminui a celebração da fé e da arte, em Belém

O evento terá shows de Gaby Amarantos e DJ Dinho, encerrando o cortejo em frente ao Palácio Lauro Sodré

Vito Gemaque e Amanda Martins
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A chuva no início da noite desta sexta-feira (10) não impediu que centenas de artistas e admiradores da cultura popular ocupassem as ruas da Cidade Velha para acompanhar o Auto do Círio 2025. Realizado pela Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará (ETDUFPA), o cortejo artístico-religioso chegou à 32ª edição, trazendo o tema “Nossa Senhora de Nazaré, iluminai as lutas dos Povos da Amazônia”. Entre os destaques da programação está Gaby Amarantos, embaixadora do Auto deste ano, e o DJ Dinho, que encerrarão o espetáculo na frente do Palácio Lauro Sodré, na chamada ‘Apoteose’.

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A concentração começou por volta das 17h30, na Praça do Carmo, e, devido à chuva, o cortejo que tomaria as ruas às 19h começou com atraso, iniciando às 20h32. O público acompanhou as apresentações iniciais de dança, teatro e música, em meio a um cenário em que a chuva foi vista como parte da natureza e um elemento a ser respeitado.

Espiritualidade e meio ambiente

Neste ano, o Auto reforça o diálogo entre espiritualidade, arte e temas socioambientais, destacando pautas como as mudanças climáticas, os impactos do garimpo ilegal, a preservação da vida indígena e ribeirinha e a luta contra os combustíveis fósseis.

A estrutura do espetáculo foi dividida em quatro estações cênicas, com cerca de 350 artistas. Eles retratam a trajetória de povos da Amazônia - indígenas, quilombolas, ribeirinhos e moradores das periferias - por meio de apresentações teatrais, musicais e coreográficas. 

image A artista drag queen Ary Filargo (Carmem Helena / O Liberal)

Em grupos distintos, representantes de religiões de matriz africana, comunidades ciganas, anglicanos e artistas saíram em cortejo da Praça do Carmo. Entre os participantes estava Ary Filargo, 58 anos, drag queen que participa do Auto do Círio há 11 anos. Ele desfilou com uma vestimenta que representa a luz da anunciação do Arcanjo Gabriel, símbolo de renovação e renascimento, especialmente em tempos de Círio.

“Mostrar a fé de uma forma diferente, simbólica e artística é o que o Auto nos permite. Aqui expressamos o amor e a devoção à Nossa Senhora de Nazaré de uma maneira que nem sempre é possível na procissão principal”, contou o artista.

Sobre o significado da fantasia, Ary explica que representa ‘uma nova vida, uma nova era e uma nova forma de ver o mundo - especialmente neste momento em que tanto se fala sobre o planeta e a necessidade de renascimento’. 

Mesmo sob chuva, o artista destacou que o fenômeno foi recebido com naturalidade. “A chuva vem muitas vezes para agregar. Durante esses 11 anos em que participei, nunca tinha chovido, mas é o tempo dela e precisamos respeitar a natureza. Se falamos sobre natureza, precisamos aceitá-la também”, afirmou.

Para Olga Silva, de 71 anos, a manifestação representa uma grande homenagem dos artistas a Nossa Senhora de Nazaré. Ela afirmou que o evento é 'lindo' e destacou as fantasias, descrevendo o cortejo como 'arte pura', em que os artistas conseguem explorar todas as formas de expressão artística. "Eu acho que o Alto do Círio é arte pura, onde os artistas conseguem explorar todas as artes. E nós que gostamos de arte, estamos aqui para vermos. Eu acho que é o momento deles", disse.

Homenagem às águas

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Neste ano, a celebração inicial do cortejo prestou homenagem à Nossa Senhora das Águas e ao Rosário, com foco no mistério luminoso. A celebração incorporou elementos das festas de brega e referências às procissões luminosas dedicadas a Nossa Senhora de Fátima. Dividida em setores, a encenação também apresenta uma crítica às mudanças climáticas, simbolizando o “funeral dos combustíveis fósseis”.

image Coordenadora do Auto, a professora Inês Ribeiro (Carmem Helena / O Liberal)

A coordenadora do evento, professora Inês Ribeiro, explicou que a chuva no início da apresentação foi recebida como parte da simbologia amazônica. “Aqui na Amazônia, o rio e a água comandam a vida. Nós vivemos, respiramos e somos quase peixes. A água vem para a limpeza”, afirmou. 

Segundo ela, o cortejo aconteceu ‘com chuva ou sem chuva, porque é uma homenagem à Nossa Senhora das Águas, à Nossa Senhora da Amazônia’.

Sobre o tema deste ano, Inês destacou que buscou inspiração nas luzes e nas manifestações populares. “Peguei as luzes da Senhora das Águas, das festas de brega, das festas de rock, das luzes do açaí, das luzes da periferia e também das procissões luminosas de Nossa Senhora de Fátima”, contou.

Percusso

O cortejo percorre pontos históricos como a Catedral da Sé, o Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP) e o Palácio Lauro Sodré, unindo fé, arte e crítica social. As apresentações incluem grupos como o Tamborimbó, a Companhia Moderno de Dança, o Coro Cênico Ellegbara, além de escolas de samba e artistas independentes.

image Mesmo com o atraso causado pela chuva, o público acompanhou o cortejo com apresentações de teatro, música e dança (Carmem Helena / O Liberal)

Entre os momentos mais simbólicos desta edição está o anúncio da participação do Auto na Marcha Global por Justiça Climática, que ocorrerá em novembro, durante a COP30, em Belém. Também será realizado um funeral simbólico dos combustíveis fósseis, como forma de protesto performático e mobilização internacional.

Em 2025, o Auto do Círio também celebra uma parceria internacional inédita com o grupo ambientalista Alianza, presente na Colômbia e no Chile. A colaboração resultou em cenografias e figurinos sustentáveis, confeccionados com materiais amazônicos como palhas, paneiros e talas. Um minidocumentário sobre o processo criativo será exibido em outros países da América Latina.

Reconhecido este ano como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Pará e, desde 2024, como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Iphan, o Auto  recebeu nos últimos anos importantes títulos que reforçam sua relevância cultural e histórica.

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Círio 2025
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