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Promessa, cura e primeira vez: histórias de fé que marcam o 70º Círio do Menino Deus

De quem veio de longe a quem venceu uma intubação, relatos de devotos transformaram as ruas de Marituba em local de gratidão nesta manhã de Natal

Gabriel da Mota

As ruas de Marituba amanheceram tomadas por fiéis católicos, cada um com um motivo próprio para acompanhar a 70ª edição do Círio do Menino Deus. Nesta manhã de Natal (25), a romaria se torna um ponto de encontro de diferentes perspectivas de fé: há quem caminhe movido pela novidade, quem enfrente dores físicas para fechar um ciclo de devoção e quem, da porta de casa, transforme a passagem da berlinda em um ato de gratidão pela vida.


Entre a multidão, o olhar atento de Ruan Silva, de 20 anos, denunciava que aquela era uma experiência inédita. Membro da Guarda Mirim de Nazaré, em Belém, ele está acostumado com a grandiosidade de outubro, mas hoje estava à paisana. Decidiu trocar o descanso do feriado para conhecer de perto a fé dos maritubenses.

"Sempre tive o desejo de participar do Círio de Marituba. O que me impressiona é que o povo daqui é muito fervoroso. Normalmente, em outras regiões, o pessoal ainda está em suas casas neste horário. Mas aqui, o católico acorda cedo. É um Círio único, realizado há 70 anos, e estou adorando participar. Ver Marituba saudando seu padroeiro na rua, em pleno 25 de dezembro, é algo maravilhoso", contou o jovem.

image Ruan Silva, membro da Guarda Mirim de Nazaré de Belém (Ivan Duarte / O Liberal)

Dores do corpo não superam a força da fé

Se para Ruan a caminhada é novidade, para a doméstica Zanita Costa, de 66 anos, ela é o fechamento de um ciclo. Moradora da Cidade Nova, em Ananindeua, ela enfrenta dores crônicas no nervo ciático, mas não cogitou ficar em casa. Encontramos dona Zanita em oração em frente ao Hospital Divina Providência, um ponto estratégico para quem pede pelos enfermos.

Para ela, o ano litúrgico é uma longa estrada que começa em janeiro e só termina agora.

"Essa caminhada eu começo dia 20 de janeiro, dia de São Sebastião, na Sacramenta, e termino aqui com o Menino Deus. Ele me estabelece, me dá força", explicou, emocionada.

A devoção supera o incômodo físico e se transforma em intercessão pelo próximo. "Minha fé é o motivo de eu estar aqui, orando por todos, principalmente por aquelas pessoas que estão no leito e precisam de oração. Não queria ter falhado este ano e não falhei. Isso é muito importante para mim", disse ela, antes de seguir o cortejo.

O "Natal do agradecimento" após a UTI

Coincidentemente, as preces de dona Zanita em frente ao hospital encontram eco na vida de quem trabalha lá dentro. Glaucilene Ribeiro, de 58 anos, é gestora pública e atua no Hospital Divina Providência. Mas, neste Natal, ela viu a procissão passar de outro lugar: da porta da sua casa, onde montou um pequeno altar com a imagem do Menino Deus, um terço e a Sagrada Família.

Com os olhos marejados, Glaucilene revelou que este é um "Natal de agradecimento". Recentemente, ela esteve do outro lado do cuidado médico, lutando pela vida.

"É só gratidão ao Menino Jesus. Vejo a passagem dele aqui na frente como um sinal. Há um mês e pouco, passei por um problema de saúde muito sério, onde fui intubada. Com a graça de Deus e a intercessão do Menino Jesus, minha vida renasceu e minha fé se fortaleceu", relatou.

Cercada pela família e vizinhos, ela resumiu o sentimento que parece unificar a multidão em Marituba: "Eu trabalho no hospital e acredito muito na providência. Hoje, estar aqui com a minha família, vivendo esse momento depois de tudo que passei, é divino demais. São muitas bênçãos", concluiu.