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Manto do Círio 2025 é apresentado na Basílica Santuário; veja

Peça foi inspirada no tema 'Maria, Mãe e Rainha de toda a criação' e traz a assinatura da estilista Letícia Nassar

Gabriel da Mota e Ana Laura Carvalho

A Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Nazaré recebeu, na noite desta quinta-feira (9), o novo manto que a acompanhará durante o Círio 2025. A cerimônia ocorreu logo após a missa das 18h, na Basílica Santuário, em Belém, presidida por Dom Júlio Endi Akamine, arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Belém. O ato marcou um dos momentos mais simbólicos da quadra nazarena, quando o manto, peça central de fé e arte sacra, é revelado aos fiéis. O manto 2025 contou com uma equipe de artesãos e artistas formada por Letícia Nassar (desenho e estilo), Daniella Guerra, Fernando Machado e Luiz Paulo Ferreira (bordado), Rita Tomé (costura e acabamentos) e Sheyla Craveiro (apoio).


Significado

Inspirado no tema “Maria, Mãe e Rainha de toda a criação”, o manto de 2025 foi concebido para traduzir visualmente a presença de Maria como guardiã da vida e mediadora entre Deus e a humanidade. A criação reflete uma mensagem de evangelização e exalta a devoção mariana, em diálogo com o simbolismo da criação divina. Durante a celebração, Dom Júlio Endi Akamine explicou o significado espiritual que envolve o manto e sua simbologia.

“A gente sempre se pergunta qual é o significado do manto, por que revestir uma imagem? A gente não deve inventar significado. Deve reconhecer, buscar na Sagrada Escritura, na revelação divina, o sentido desse simbolismo. Estudando a Bíblia, encontramos muitas referências que falam sobre a vestimenta e o significado disso tudo para o ser humano. E, portanto, também, para esse símbolo do manto de Nossa Senhora”, afirmou o arcebispo.

Ele acrescentou que o manto traz elementos importantes daquilo que é a criação. “Muitas vezes, as pessoas pensam na natureza, na Amazônia, somente como um depósito de recursos naturais a serem explorados e, às vezes, devastados e esgotados. Nós não vemos a natureza apenas na ordem econômica, mas na ordem do amor. Chamamos de criação porque é o dom do Criador para toda a humanidade, para a gente cultivar e cuidar. Por isso, no manto está também a concepção da criação como palavras de amor do Criador”, refletiu.

Reflexão

A concepção artística é assinada pela estilista Letícia Nassar, que desenvolveu o projeto a partir de um pedido especial dos coordenadores do Círio 2025, Antônio e Rosa Sousa. Segundo Letícia, a peça convida à reflexão sobre o papel de Maria na redenção da humanidade, contrapondo a desobediência de Eva à obediência e fidelidade da Virgem. “Se pela desobediência de Eva veio a condenação, pela obediência de Maria recebemos a salvação”, destaca o texto que acompanha o descritivo do manto.

A peça presta homenagem a um dos mosaicos da Basílica Santuário e traz, em seu centro, a Árvore da Vida, símbolo que representa, no início, o núcleo da criação perfeita de Deus e, no plano da redenção, a Cruz de Cristo. Nela, Adão e Eva aparecem redimidos, prostrados em adoração diante de Jesus. O manto ainda exibe elementos da criação: o dia e a noite, as estrelas, as águas e as rosas, estas últimas brotando das águas para lembrar a promessa de que uma mulher esmagaria a cabeça da serpente. Essa mulher, segundo a tradição cristã, é Maria, aquela que trouxe ao mundo o Salvador e que, com suas virtudes, guia a humanidade de volta ao caminho do Céu.

Emoção

O diretor do Círio 2025, Antônio Sousa, destacou a emoção do momento e a profundidade da mensagem espiritual da peça. “A emoção é muito forte, o grito do povo chamando por Nossa Senhora. Tenho certeza que esse manto vai levar muita mensagem e esperança quando Nossa Senhora estiver peregrinando. Tem muita mensagem boa, falando do Criador, da criatura, da água, do céu, do mar. Um tema que é tão discutido, como o meio ambiente, não podemos esquecer que o Criador é Ele. Ele que deu tudo para a gente. Nós temos que ter o olhar de Maria para as coisas do mundo, cuidar como uma mãe da nossa natureza, do próximo, da nossa casa comum”, afirmou.

Manto

O manto foi confeccionado em cetim italiano, com o fundo bordado em vidrilhos de cristal branco acetinado. Entre os materiais utilizados estão joias de prata e ouro, zircônias, miçangas de vidro, cristais verdes e hematitas naturais. As folhas da árvore foram bordadas em cristais verdes; o céu recebeu tons variados de azul com zircônias que simbolizam as estrelas; e a base, bordada com hematitas, cria o efeito de profundidade. As águas foram a parte mais desafiadora do trabalho, segundo Letícia Nassar.

“Eu continuo muito emocionada, só que hoje eu estou tão feliz, não estou com aquela sensação de aprovação ou reprovação. É uma felicidade de dever cumprido. É tanto amor que a gente coloca nisso que eu só sei chegar aqui e abrir um grande sorriso, porque a missão foi cumprida”, contou a estilista.

“A gente fez e refez diversas vezes, porque eu queria uma água, uma tempestade, um mar que saísse do manto, um mar que lembrasse a gente que a vida não é fácil. Mas que Ele está lá. Ele é o Sol que nos sustenta e faz a gente caminhar em cima desse mar revolto. Que Ela é a bússola, o caminho para chegarmos de volta até o céu, para a gente contemplar tudo de belo que tem na criação e, principalmente, a árvore da vida que Ele pagou por nós para que pudéssemos contemplar tudo isso”, acrescentou.

O resultado é um conjunto que une técnica e espiritualidade: as águas foram bordadas em linha e cobertas por cristais, com espumas feitas em miçangas, criando um efeito tridimensional. No centro, uma moissanite amarela de 20 quilates representa o sol. As rosas, em dois tons de rosa, são adornadas com pequenas abelhas de metal, símbolo da comunidade cristã que trabalha unida por um bem maior. A borda é finalizada com contas de opala, lembrando uma moldura de mármore.

Broche

O broche que acompanha o manto deste ano foi confeccionado em prata e traz o símbolo “Peregrinos da Esperança”, alusivo ao Jubileu de 2025. A peça circular apresenta uma cruz transformada em âncora, representando a fé que oferece estabilidade mesmo nas tempestades da vida. Ao redor, a corda do Círio simboliza a união dos romeiros, que caminham juntos em busca de esperança e fé.

A tradição de revestir a Imagem Peregrina com um novo manto remonta às origens do Círio. O primeiro manto era retangular e confeccionado com doações de promesseiros. A partir de meados do século XX, a tarefa ficou sob os cuidados da Irmã Alexandra, da Congregação Filhas de Sant’Ana, até seu falecimento em 1973. Desde então, artistas e estilistas diferentes são convidados anualmente para renovar o símbolo de fé que emociona o povo paraense a cada edição.