EcoCírio prevê aumento da coleta seletiva com COP 30 e tema voltado ao cuidado com a criação
Projeto da Diretoria da Festa de Nazaré mobiliza catadores, voluntários e empresas para recolher mais resíduos e reforçar o cuidado com a “criação”, em sintonia com o tema da festa e a proximidade da COP 30
Com a expectativa de um público ainda mais expressivo, impulsionado pela proximidade da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e pela força do tema deste ano — “Maria, Mãe e Rainha de toda a criação” —, o projeto EcoCírio deve alcançar números inéditos na coleta seletiva durante o Círio de Nazaré 2025. Criada pela Diretoria da Festa de Nazaré (DFN) em 2016, a iniciativa mobiliza cooperativas de catadores, jovens voluntários e empresas parceiras para promover a destinação correta de resíduos e conscientizar a população sobre a importância de preservar o meio ambiente durante a maior manifestação religiosa do Pará.
“O objetivo é minimizar o impacto do lixo na cidade, coletar e destinar corretamente os resíduos e incentivar o uso de materiais recicláveis e rentáveis para as cooperativas”, explica o diretor-secretário da DFN, Sérgio Reis.
Ele lembra que, embora a realização da COP 30 aumente a visibilidade da pauta ambiental, o EcoCírio já vem sendo aprimorado ano a ano. “Não houve um aprofundamento das ações por causa da COP. Houve, sim, continuidade e aperfeiçoamento, porque essa já era uma necessidade premente para a cidade e para a festa”, afirma.
Fé e sustentabilidade
Entre as parceiras do projeto está a Associação/Cooperativa de Trabalho dos Catadores da Coleta Seletiva de Belém (ACCSB), presidida por Maria do Socorro Ribeiro. Ex-catadora do antigo lixão do Aurá, Socorro se emociona ao falar da importância de unir a coleta seletiva ao Círio. “Desde 1999 a gente atua no Círio, mas em 2020 foi um marco para nós quando passamos a integrar o EcoCírio. Só no ano passado, recolhemos de seis a sete toneladas de material reciclável”, conta.
O trabalho começa na Trasladação, na noite anterior à grande procissão, e segue no dia do Círio, com cerca de 30 cooperados atuando no percurso e na Praça Santuário. “Recolhemos garrafas PET, copos, papel, papelão, plásticos, ferro e vidro. É muito importante também estar na romaria, participando desse momento de fé, vendo as pessoas cumprirem suas promessas e podendo agradecer a Nossa Senhora”, afirma.
Para Socorro, o EcoCírio é mais do que um serviço ambiental. É também um ato de devoção.
“Quando a gente está na hora em que passa a imagem de Nossa Senhora, é um momento de agradecer muito. Ela foi escolhida entre tantas para ser a mãe de Jesus, e poder trabalhar no Círio é também viver esse dia da fé”, diz.
Educação e novas soluções
Segundo Reis, um dos maiores desafios do projeto é garantir o descarte adequado dos resíduos no momento em que eles são gerados. “O primeiro trabalho é de conscientização, não apenas da população em geral, mas principalmente de quem participa diretamente da festa — como os vendedores e voluntários — para que o lixo já seja separado de forma correta. Isso torna a triagem mais eficaz”, explica.
Para 2025, a DFN estuda inovações que facilitem essa tarefa. Uma delas é a substituição das garrafas plásticas por saquinhos de água, mais fáceis de descartar e que oferecem maior rentabilidade para as cooperativas. “Queremos materiais que sejam não só recicláveis, mas também rentáveis. Isso fortalece toda a cadeia, desde a escolha do insumo até a venda do material reciclado”, diz.
Tema inspira ações concretas
O alinhamento do projeto ao tema do Círio 2025 não é apenas simbólico. A mensagem “Maria, Mãe e Rainha de toda a criação” reforça a necessidade de cuidar da Casa Comum, conceito presente na encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, e que dialoga diretamente com o trabalho dos catadores. “O EcoCírio é a prova de que a fé pode e deve se traduzir em atitudes concretas de cuidado com o planeta. É preservar a cidade, é evitar que resíduos poluam nossos rios, é mostrar que devoção também se pratica com responsabilidade ambiental”, afirma Reis.
Com a previsão de aumento no número de fiéis e turistas, Socorro acredita que o desafio será maior, mas também mais recompensador. “Vai ser mais trabalho, mas também mais oportunidade para ajudar o meio ambiente e viver o Círio de perto. É a nossa forma de cuidar da criação e, ao mesmo tempo, de honrar Nossa Senhora”, conclui.
A cobertura do Círio de Nazaré 2025 de O Liberal tem patrocínio do Banco da Amazônia, Natura, Atacadão, Liquigás, além do apoio da Vale.
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