Calor no Círio: dados apontam tendência de aumento das temperaturas em outubro
Levantamento histórico da Faculdade de Meteorologia da UFPA mostra elevação de mínimas e máximas; umidade alta amplia sensação térmica e agrava desconforto dos romeiros
A cidade de Belém tem registrado um aumento consistente nas temperaturas mínimas e máximas ao longo do último século, segundo dados da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal do Pará (UFPA). A série histórica, iniciada em 1923, indica que o mês de outubro — período em que ocorre o Círio de Nazaré — é o ápice do calor na capital paraense.
“Nos últimos anos, a temperatura máxima tem chegado a 34 graus, 34,5 graus, principalmente em outubro”, afirma a professora Maria Isabel Vitorino, diretora da Faculdade de Meteorologia.
“A tendência estatística é de aumento porque a condição da superfície urbana já está estabelecida. Isso deve permanecer”.
Sensação térmica chega a 40 ºC
Segundo a meteorologista, a umidade elevada da Amazônia intensifica o desconforto. “Temos uma umidade que absorve radiação solar. A sensação térmica chega a 40 ºC, enquanto a temperatura média fica em torno de 34,8 ºC”, explica. O fenômeno afeta diretamente romeiros que participam das doze procissões do Círio, algumas com duração de até dez horas.
A aglomeração de fiéis também contribui para o aquecimento local. “Naquele nicho onde está a romaria, a temperatura deve ser muito maior do que na estação meteorológica. Nós não temos medida nesse nível, mas é esperado que extrapole”, diz Maria Isabel.
Urbanização e perda de vegetação agravam cenário
A impermeabilização do solo e a redução da cobertura vegetal estão entre os fatores que elevam o calor urbano. “A cidade está cada vez mais sem planejamento. É preciso corredores de vegetação para atenuar a temperatura e oferecer sombra. Belém tem mais de 200 praças, mas poucas têm arborização adequada”, aponta.
A especialista destaca que o problema não se limita à máxima diária.
“A mínima, que ocorre por volta de 6h da manhã, também tem aumentado. São noites mais quentes, que elevam o consumo de energia e criam um efeito em cadeia sobre a cidade”, acrescenta.
Impactos para o Círio
Com a previsão de aumento gradual das temperaturas, o desconforto térmico tende a se intensificar durante as romarias. “Não é um calor seco, como o do Saara. É um calor úmido. A sobrevivência é diferente, mas exige hidratação e cuidado redobrado”, observa. Para os milhões de devotos que participam das procissões, o alerta é claro: beber água, buscar sombra e planejar o trajeto são atitudes indispensáveis.
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