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Brincante estreia no Arrastão do Círio em edição marcada por tradição e futuro

Universitário participará pela primeira vez do cortejo como integrante do Batalhão da Estrela, no ano em que o Arraial do Pavulagem prepara o Cordão do Peixe-Boi para a COP 30

Gabriel da Mota

O Arrastão do Círio chega à sua 23ª edição neste sábado (11) com novidades: inscrições exclusivas para brincantes veteranos, presença confirmada na COP 30 e um cortejo que reafirma o compromisso do Arraial do Pavulagem com a cultura amazônica. Quem participa pela primeira vez como brincante é o universitário Pedro Souza, 26 anos. Devoto de Nossa Senhora de Nazaré, ele integra a percussão do Batalhão da Estrela e vai tocar maracás no cortejo que ocupa o centro histórico de Belém logo após a Romaria Fluvial.

A relação de Pedro com o Arraial do Pavulagem começou em 2022, no retorno dos cortejos após a pandemia. “Na incessante vontade de viver a cidade, conheci esse movimento e simplesmente me apaixonei pelos sons, pelas cores, pelas danças”, lembra. Desde então, passou a acompanhar os arrastões ao lado dos pais, até que um novo encontro mudou sua história: “O Pavulagem me apresentou ao meu grande amor, uma linda pernalta do batalhão. A partir do incentivo dela, em 2025 eu e meus pais vivemos momentos incríveis como parte da percussão do Batalhão da Estrela pela primeira vez”, completa.

Sentimento

Pedro toca maracás. E neste Círio, os instrumentos ganham uma função ainda mais profunda: “Sou devoto de Nossa Senhora de Nazaré e, no dia do Arrastão, poder tocar meus maracás em homenagem a Ela vai ser um sentimento indescritível. Viver isso novamente em família é algo que me conforta e faz bem”, afirma.

Os ensaios começaram um mês antes do cortejo, e o processo — mais que técnico — é um espaço de troca. “Antes de cada ensaio tem uma grande roda musical onde os brincantes são apresentados às toadas. Depois, cada segmento segue com seus respectivos instrutores. O que me encanta é a diversidade: pessoas de todas as cores, idades, profissões. A gente sempre tem algo novo pra aprender e sempre algo a ensinar também”, descreve.

Além do Arrastão, Pedro vai integrar o Cordão do Peixe-Boi durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30). “Esse movimento valoriza nossa identidade cultural amazônica e ensina o respeito ao meio ambiente. Poder fazer parte disso e apresentar ao mundo nossa cultura, nossos sons e nossas cores é muito gratificante”, diz.

Ele ainda não viveu um cortejo do Círio com o Pavulagem, mas já antecipa o que virá. “Se for como nos arrastões juninos, o que mais me atravessa é ouvir a mistura dos sons da percussão em sintonia. É de arrepiar”, conta. Quando perguntado o que significa o Arrastão do Círio, responde: “É o encontro da fé com os sons e cores da Amazônia. Um momento de reflexão, oração, emoção, alegria e vibração”.

Brinquedos e saberes

Se para Pedro o cortejo é experiência afetiva e devocional, para o Instituto Arraial do Pavulagem a edição de 2025 representa a continuidade de um novo ciclo. É a segunda edição do Arrastão do Círio realizada após o reconhecimento do Arraial como manifestação da cultura nacional, conquistado em 2024. Para João Guilherme Ribeiro Pinho, coordenador de atividades do Instituto, isso exige um novo fôlego. “O sentimento é de responsabilidade dobrada. Com o reconhecimento vem a necessidade de melhorar ainda mais, inovar o que é possível e manter o que se faz necessário”, afirma.

Por conta do tempo curto para formação e da proposta de qualidade artística, as inscrições foram abertas apenas para veteranos.

“O Arrastão do Círio é o momento de aprimorar os brincantes. Como não há tempo para oficinas, optamos por trabalhar com quem já passou pela formação, oferecendo mais ensaios e elevando o nível do que levamos às ruas”, explica.

Entre os elementos que estarão no cortejo estão os brinquedos de miriti, vindos das comunidades do Baixo Tocantins. “Esses brinquedos que aparecem no período do Círio são nossa prenda para Nossa Senhora: brinquedos de miriti e um batalhão de ouro e prata”, diz.

A proposta estética do Arrastão, segundo João, extrapola os limites da liturgia católica e abraça uma religiosidade mais ampla, que floresce espontaneamente nas ruas de Belém. “Vamos falar desse imaginário que nos circunda a partir da sua diversidade”, comenta.

O Cordão do Peixe-Boi, previsto para a COP 30, nasce como desdobramento desse compromisso. “O Cordão se conecta com a missão do Instituto: ser um espaço para mediação de saberes amazônicos e ancestrais, dialogando com a crise climática, a preservação da natureza e o reavivamento do nosso imaginário. Trabalhar saberes em uma relação não formal é o que nos guia. Nossa sabedoria ancestral é o satélite que nos orienta rumo ao futuro”, conclui.