MENU

BUSCA

O legado literário de José Saramago

Anna Carla Ribeiro / Especial

Foi em 1947, no ano em que nasceu a sua única filha, que o escritor português José Saramago publicou o seu primeiro livro, intitulado inicialmente como “A Viúva”, mas que por questões editoriais veio a público com o nome de “Terra do Pecado”. Foi nesse período que escreveu, ainda, outro romance, o “Clarabóia”, que permaneceu inédito aos leitores até a morte do autor, sendo publicado somente cerca de 1 ano após a sua partida deste mundo.

Após essas produções literárias, ficou 19 anos sem escrever obra alguma. Isso porque Saramago tinha se convencido de que “não tinha para dizer algo que valesse a pena”, como ele próprio ressaltou, em sua autobiografia. No ano de 1966, após quase duas décadas ausente da literatura portuguesa, publicou “Os Poemas Possíveis”. Em 1970, publicou outra coletânea de poemas, “Provavelmente Alegria”. Em 1971 e 1973 respectivamente, sob os títulos “Deste Mundo e do Outro” e “A Bagagem do Viajante”, publicou dois livros que reuniam crônicas anteriormente publicadas na imprensa.

Em 1974, ano que marcou o fim da ditadura portuguesa, publicou “As opiniões que o DL teve”, que reúne uma série de textos bastante precisos sobre os últimos tempos do Estado Novo português, que controlava o país desde 1933. A chamada “Revolução de 25 de Abril”, também conhecida como “Revolução dos Cravos” refere-se justamente ao movimento político e social, ocorrido em 25 de abril de 1974, que depôs o regime ditatorial lusitano, comandado por António Salazar. 

Mais três livros de Saramago foram publicados nessa época: em 1975, “O Ano de 1993”, um poema longo; em 1977, o romance “Manual de Pintura e Caligrafia”, este último já ponto de partida para as obras de ficção do autor; e, sob o título “Os Apontamentos”, os artigos de teor político que José Saramago publicou no jornal português Diário de Notícias, de que havia sido diretor.

Sem emprego e sem perspectiva de um, já que a situação política da época não favorecia, José Saramago tomou a decisão de se dedicar inteiramente à literatura. No início de 1976, instalou-se por algumas semanas na região do Alentejo, em Portugal. Desse período de reclusão e estudos surgiu, em 1980, o romance “Levantado do Chão”. Nessa obra, nasce o modo criativo e intrigante de narrar que caracteriza a ficção novelesca de José Saramago. Dois anos antes, porém, em 1978, havia publicado uma coletânea de contos, intitulado “Objecto Quase”, e, em 1979, escreveu a peça de teatro “A Noite”, a que se seguiu, poucos meses antes da publicação de “Levantado do Chão”, nova obra teatral, “Que Farei com este Livro?”. 

Com poucas exceções, como a peça de teatro, “A Segunda Vida de Francisco de Assis” publicada em 1987, a década de 1980 foi inteiramente dedicada ao romance. José Saramago escreveu e publicou as seguintes obras: “Memorial do Convento”, em 1982, “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, em 1984, “A Jangada de Pedra”, em 1986, e a “História do Cerco de Lisboa”, em 1989.

Outra exceção foi a publicação do seu único livro de viagem, em 1981. Entre outubro de 1979 e julho de 1980, José Saramago percorreu o seu país de nascença a convite do Círculo de Leitores, que comemorava o décimo aniversário da sua implantação em Portugal. Dessa aventura, surgiu o livro “Viagem a Portugal”, um misto de crônica, narrativa e recordações do autor. 

Publicado em 1991, o romance “O Evangelho segundo Jesus Cristo” causou polêmica entre os católicos conservadores. Como consequência, houve censura do governo português da época, que vetou a sua apresentação ao Prêmio Literário Europeu sob pretexto de que o livro era ofensivo. Tal ato fez José Saramago e a sua mulher, Pilar del Río (casaram-se em 1988 e permaneceram juntos até a morte do autor), se mudarem em fevereiro de 1993 para a ilha de Lanzarote, no arquipélago de Canárias, na Espanha. Antes de ir, escreveu, ainda em Lisboa, a peça “In Nomine Dei”, de que seria extraído o libreto da ópera Divara, com música do compositor italiano Azio Corghi, estreada em Münster, na Alemanha, em 1993. 

Em 1993, José Saramago iniciou a escrita de um diário, intitulado “Cadernos de Lanzarote”, de que estão publicados cinco volumes. Dois anos depois, o autor publicou o romance “Ensaio sobre a Cegueira” e, em 1997, “Todos os Nomes” e “O Conto da Ilha Desconhecida”. Com tamanha produção literária, José Saramago ganhou, em 1995, o Prêmio Camões, e, em 1998, foi o único escritor de língua portuguesa – até hoje – a receber o Prêmio Nobel de Literatura. 

A partir de 1998, o autor publicou, ainda “Folhas Políticas (1976-1998)”, “A Caverna”, “A Maior Flor do Mundo”, “O Homem Duplicado”, “Ensaio sobre a Lucidez”, “Don Giovanni ou o Dissoluto Absolvido”, “As Intermitências da Morte” e “As Pequenas Memórias”, “A Viagem do Elefante” “Caim”, “O Caderno” e “O Caderno 2”. Postumamente, em 2014, também foi publicado o romance incompleto que José Saramago estava a escrever em 2010, ano em que veio a falecer, intitulado “Alabardas, alabardas, Espingardas, espingardas”.

Centenário Saramago