Remédio em teste possibilita alternativa à cirurgia bariátrica por ajudar na perda de ¼ do peso
Estudo preliminar mostrou que a medicação pode ajudar na perda de até 24% do peso corporal. Na bariátrica, percentual se aproxima dos 30%

Testes envolvendo o estudo de um medicamento para tratamento de obesidade têm dado bons resultados. Segundo a pesquisa, o remédio em questão possui capacidade de reduzir cerca um quarto o peso do paciente, podendo ser uma alternativa para a cirurgia bariátrica. Chamado de retatrutida, o medicamento é similar a hormônios do corpo humano que atuam na inibição do apetite.
O Eli Lilly, laboratório farmacêutico responsável pelo estudo, analisou um grupo de mais de 300 pessoas que usaram a substância por um ano. Os voluntários que receberam 12 mg (maior dosagem) perderam 24% do peso corporal.
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Os especialistas afirmam que essa é a primeira vez que um medicamento hormonal se aproxima do percentual de perda da bariátrica, cujo procedimento pode chegar a 30% de perda de peso.
Como funciona a retatrutida?
O remédio é mais um recurso de tratamento de obesidade e diabetes, semelhante à semaglutida, o tratamento mais conhecido da obesidade. A semaglutida imita o hormônio GLP-1, que influencia na sensação de saciedade.
Já a retatrudida simula três hormônios:
- GLP-1: sensação de saciedade
- GIP: melhora a secreção de insulina após uma refeição
- GCG: aumenta o nível de glicose no sangue
Como a retatrutida age no organismo?
O GLP-1 é um hormônio secretado pelas células do intestino, agindo no cérebro estimulando a diminuição do apetite. No entanto, a enzima produzida pelo organismo, chamada DPP4, faz com que o efeito passe rápido.
As moléculas que simulam o GLP-1 são resistentes à enzima, já os hormônios GIP e GCG interferem na insulina.
Foi essa combinação que, segundo os especialistas, fez com que a perda de peso fosse maior que os medicamentos que já estão no mercado, além de controlar a diabetes tipo 2.
Retatrutida pode substituir a bariátrica?
A cirurgia de bariátrica é um dos tratamentos contra a obesidade, mudando a forma original do estômago, o que ajuda na redução da capacidade de receber alimento.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), foram feitas mais de 70 mil cirurgias em 2022 nas redes pública e privada.
O que os especialistas dizem é que, se a retatrutida mantiver nos estudos finais a mesma perda de peso, pode ser uma alternativa à cirurgia.
"A gente só tem uma perda tão grande com a bariátrica. Com o tratamento clínico, até hoje a gente não tinha tido esse resultado. Essa substância pode, sim, ser uma opção", explica Simone Lee, diretora do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
É preciso avaliar os efeitos a longo prazo
Segundo especialistas, apesar de ser uma possível alternativa, o retatrudida precisa ser avaliado sobre os efeitos colaterais e custos envolvendo o tratamento.
Efeitos colaterais
- O remédio pode causar náuseas, diarreia, vômito, aumento da frequência cardíaca, arritmia, constipação e sensibilidade na pele.
Custo
- Por ser de uso constante, os custos envolvendo o tratamento podem ser altos para algumas pessoas.
- A semaglutida, por exemplo, custa mil reais, não está no SUS e precisa ser aplicada semanalmente
- A retatrudida também deverá ser de aplicação semanal
Perspectivas de mercado
Atualmente, existem dois medicamentos no modelo caneta que simulam hormônios: Liraglutida e Semaglutida.
A Liraglutida é vendida como Victoza e como Saxenda. Nos dois casos, é de uso diário. A diferença é que a Victoza é focada em adultos e crianças com diabetes tipo 2 e a Saxenda para adultos com obesidade, sobrepeso ou comorbidade associada.
A semaglutida é de uso semanal, indicada para adultos com diabetes tipo 2. É vendida como Ozempic, disponível no Brasil, e Wegovy, ainda não disponível.
Orforglipron e a Tirzepatida também estão sendo estudados
A tirzepatida atua nos receptores de dois hormônios, o GIP e o GLP-1. Os estudos mostraram que a dupla ação reduziu os níveis de açúcar no sangue e o peso. A molécula foi submetida para aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento do diabetes tipo 2.
O orforglipron também simula o GLP-1, mas é de uso oral. O estudo é preliminar, mas mostrou perda de 15% do peso em nove meses. A molécula ainda depende de uma nova fase de estudo para pleitear a liberação junto aos órgãos reguladores. Ainda não há previsão de quando deve chegar ao mercado.
*Carolina Mota, estagiária sob supervisão de Tainá Cavalcante, editora web de OLiberal.com
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