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Ratanabá: Arqueólogo refuta a teoria da cidade perdida na Amazônia, suposta 'capital do mundo'

A suposta civilização antiga tem movimentado as redes sociais, mas especialista explica por que a lenda não faz sentido

Carolina Mota

Nos últimos dias, a suposta descoberta de uma civilização antiga e de tecnologia avançada viralizou nas redes sociais. Segundo postagens que movimentaram o Twitter, a cidade de Ratanabá (como ficou conhecida) seria maior que a Grande São Paulo e esconde riquezas como ouro e tecnologias avançadas.

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Teorias da conspiração também afirmaram que tal descoberta explicava o interesse de "homens poderosos na Amazônia" e até o desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira.

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No entanto, especialistas afirmam que tais informações não procedem. "Tudo isso é um delírio", afirma o arqueólogo Eduardo Goés Neves, professor do Centro de Estudos Ameríndios da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Laboratório de Arqueologia dos Trópicos do Museu de Arqueologia e Etnologia da mesma instituição. As informações são do G1.

Confira os principais argumentos científicos que refutam a teoria de Ratanabá

As datas não conferem

Um dos detalhes que mais chamam a atenção nas especulações sobre Ratanabá são as datas utilizadas. Segundo publicações que se espalharam pela internet, a civilização teria existido ali cerca de 350 a 600 milhões de anos. No entando, Neves explica que nossa espécie, o Homo Sapiens, surgiu há 350 mil anos na África. 

O tamanho da cidade não condiz com as evidência

Outra informação que circula é sobre o tamanho da suposta cidade. Algumas postagem dizem que Ratanabá seria maior que a Grande São Paulo. Neves afirma que, antes da chegada dos europeus nas Américas, existiam cerca de 10 milhões de indígenas em toda a Amazônia. "E esse número caiu muito a partir do século 17 por conta das guerras e das epidemias", explica. Atualmente, a Grande São Paulo possui cerca de 22 milhões de habitantes.

Já existem registros dos túneis encontrados

Um dos fatores que mais "sustenta" o boato é da existência de túneis encontrados na região amazônica, registrados através de imagens aéreas, que mostram linhas retas e quadrados entre as copas das árvores. Esses túneis seriam passagens secretas para Ratanabá e conexões com vários pontos da América do Sul. Porém, Neves afirma que tais imagens são da região Forte Príncipe da Beira, em Rondônia, que era um ponto colonial português.

O especialista integra uma rede de pesquisadores, há mais de 30 anos, que trabalham para revelar o passado da Amazônia e dos povos que viveram (e ainda vivem) por lá. Na avaliação dele, o surgimento de histórias como a de Ratanabá, que não têm qualquer fundamento, presta um "desserviço à arqueologia".

"Há mais de 20 anos, os arqueólogos que atuam na região defendem que existiam cidades na Amazônia, mas isso era visto como coisa de maluco", conta.

"Agora, todo o nosso esforço pode quase voltar à estaca zero com a história de Ratanabá e a propagação de informações das maneiras mais estapafúrdias possíveis", completa.

(Carolina Mota, estagiária da redação, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do Núcleo de Política)

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