Pesquisa encontra evidências de que o Brasil já foi atingido por tsunami
Segundo estudos, um tsunami chegou em praias da costa brasileira em 1755, como resultado de um terremoto que atingiu Lisboa
No ano de 1755, uma onda gigante atravessou o Atlântico e atingiu toda a costa nordestina, com relatos de ter chegado também ao Rio de Janeiro, no sudeste do País. É o que aponta uma pesquisa da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, liderada pelo professor Francisco Dourado, do Centro de Pesquisas e Estudos sobre Desastres. O estudo encontrou evidências da chegada de um tsunami em praias da costa brasileira, como resultado de um terremoto que atingiu Lisboa. As informações são do G1 Paraíba.
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Segundo a pesquisa, as ondas não chegaram muito altas, mas o volume de água foi grande, inundando até 4 quilômetros distantes da linha de costa, principalmente em locais com influência de rios, nas proximidades da Ilha de Itamaracá (PE). Em Tamandaré a inundação foi de até 800 metros. Já em Lucena foi de aproximadamente 300 metros.
Na região da praia de Lucena, na Paraíba, as ondas variaram entre 1,8 e 1,7 m de altura. Na região de Pitimbu, no mesmo estado, a altura das ondas ficou entre 1,5 e 1,1 m; na região pernambucana de Tamandaré, variou entre 1,9 e 1,8 m.
Para chegar a essa conclusão, ao todo, foram 270 quilômetros de trabalho de campo em 22 praias entre Rio Grande do Norte e o sul de Pernambuco, com quatro pontos de coleta de amostras.
“No material coletado, a gente vê elementos químicos que não eram pra ser encontrados ali. Eram pra ser encontrados em regiões com mais profundidade. Ou seja, algo trouxe aqueles elementos até ali. Da mesma forma, há vestígios de microanimais que não deveriam ser encontrados na praia”, afirmou o pesquisador à UERJ na época da pesquisa.
A possibilidade de um tsunami na costa brasileira voltou a ser discutida por causa do alerta amarelo de risco de erupção do vulcão Cumbre Vieja, localizado na ilha de La Palma, nas Ilhas Canárias, próximo à costa do continente africano, que poderia causar esse fenômicas - apesar de especialistas afirmarem que a possibuilidade é remota.
Segundo estudo do pesquisador Mauro Gustavo Reese Filho, da Universidade Federal do Paraná, o Oceano Atlântico não é famoso pela sua capacidade de gerar tsunamis, mas o vulcão ativo Cumbre Vieja poderia ser o agente responsável por um evento desta natureza na região. “Uma próxima erupção poderia desestabilizar a encosta da ilha e gerar um tsunami que percorreria distâncias transatlânticas, que atingiria praticamente todos os países banhados pelo Oceano Atlântico”, atesta no estudo.
Apesar do risco, pesquisas publicadas no exterior indicam que casos como esse são raros e nunca foram registrados na história. A distância entre João Pessoa e a Ilha de Palmas é de 6.309,41 quilômetros.
Plano de contingência
Caso isso viesse a ocorrer, uma das principais preocupações de especialistas é a ausência de plano de contingência e preparação para lidar com fenômenos naturais que resultam em grandes estragos. Para o pesquisador Saulo Vital, acreditar que as chances são baixas é importante para não gerar alarde, mas assumir que, quando se trata de natureza, o imprevisível é possível deve ser um motivo para que o poder público se atente a preparar as cidades e proteger a população.
“Não há, por exemplo, um plano de contingência para fenômenos assim em João Pessoa, assim como várias outras cidades, é necessário que haja essa preparação para reduzir os danos”, explica.