Maior sequenciamento genético do país ocorrerá em projeto do ICMBio e Instituto Vale
Até o final de 2027, serão sequenciados genomas completos de cerca de cinco mil espécimes

Uma parceria entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) e o Instituto Tecnológico Vale (ITV) fará o maior sequenciamento genético da fauna e flora brasileira já realizado. Denominado "Genômica da Biodiversidade Brasileira" (GBB), nele serão desenvolvidos protocolos que irão possibilitar a aplicação em larga escala da metodologia de DNA ambiental, que aumentará tanto o monitoramento de espécies, quanto a conservação.
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O projeto trará diversos benefícios, como contribuir para a conservação da biodiversidade brasileira, além de ampliar o potencial da bioeconomia e viabilizar a restauração florestal no Brasil, em especial a região da Amazônia. Dentre todos os consórcios de genômica existentes no mundo, o GBB é o primeiro a ter como cogestor um órgão ambiental responsável pela política pública nacional de conservação no país. Além disso, o próprio ICMBio definirá a listagem das espécies que serão sequenciadas.
Sequenciamento biogenético
Na técnica do sequenciamento genético é possível identificar as bases nitrogenadas do material genético. No caso da espécie humana, esse método é utilizado para desenvolvimento de medicamentos, tratamentos, diagnóstico de doenças, etc. Já para as espécies da fauna e da flora brasileira, o objetivo é contribuir para programas de conservação e ampliação do valor do patrimônio genético, tanto para melhorar o monitoramento da biodiversidade como para subsidiar a bioeconomia.
“Para que seja possível conhecer o que naturalmente evoluiu de funções fisiológicas de espécies das culturas nativas, como, por exemplo, o cacau, é preciso conhecer profundamente o pool genético para fazer a seleção das mais adaptadas para cada área. Não é o caso de transgenia, mas, sim, de seleção ou cruzamento natural das plantas”, explica Guilherme Oliveira, Diretor Científico do ITV.
O Brasil já faz sequenciamento de espécies da biodiversidade, mas o projeto GBB será o primeiro no sul global a produzir em grande escala dados genéticos e do genoma. Assim, facilitará o mapeamento genômico da biodiversidade brasileira por meio de uma plataforma tecnológica e do treinamento de pessoas.
Metas
Conforme os responsáveis pelo projeto, a expectativa é que até o final de 2027, o GBB produza cinco mil genomas de espécies da biodiversidade brasileira. Inicialmente foram definidas 80 espécies que terão um nível de resolução maior para serem catalogadas com genomas de referência. A primeira fase do projeto durará cerca de cinco anos e estão envolvidos 20 pesquisadores do ITV e mais de 30 especialistas dos 14 Centros Nacionais de Pesquisa e Conservação do ICMBio, além de analistas de Unidades de Conservação Federais.
“O objetivo é gerar uma série de informações relevantes que vão servir, por exemplo, para identificar as espécies que precisam de um programa de criação em cativeiro por estarem geneticamente empobrecidas na natureza. A ideia é colocar a tecnologia à disposição para subsidiar ações de conservação das espécies”, explica Guilherme Oliveira.
Garantia de melhorias
A importância do GBB, para o país, passa pelo ato de assegurar o domínio dessa tecnologia numa região diversa e detentora da biodiversidade.
“O projeto vai gerar métricas genômicas importantes para subsidiar futuras avaliações do risco de extinção das espécies ameaçadas do país, para subsidiar ações de manejo de espécies ameaçadas, além de auxiliar na implementação de ações previstas nos Planos de Ação Nacional para Conservação das espécies ameaçadas, que são uma importante ferramenta de conservação coordenada pelo ICMBio. O DNA ambiental poderá ser usado, ainda, como ferramenta de monitoramento da fauna e da flora em todo o país", explica Amely Martins, gestora técnica da parceria pelo ICMBio.
Toda essa tecnologia permite que, a partir de uma amostra ambiental, que pode ser solo, sedimento, biofilme, água e até mesmo ar, se identifique as diferentes espécies presentes nos ambientes de uma localidade, possibilitando o monitoramento e a detecção de espécies invasoras, raras, ameaçadas, assim como a obtenção de métricas comparativas da biodiversidade entre diferentes locais e tempo. Conhecimento útil para a recuperação de áreas degradadas.
Para garantir que está alinhado com as melhores práticas de ciência do mundo, o ITV é filiado a projetos globais como Vertebrate Genome Project, B10K, Darwin Tree Life e o Bat1K. Além disto, o GBB já está filiado ao projeto global Earth Biogenome Project.
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