'Girafa de pelúcia' foi conforto para menina durante procedimento de aborto

A menina de dez anos, vítima de seguidos estupros precisou se esconder no porta malas do carro para entrar no hospital no Recife (PE) enquanto o médico e diretor da unidade, Olimpio Moraes, atraía para o porto principal os fanáticos religiosos e políticos que estavam bloqueando todas as entradas para impedir a garota de realizar o procedimento.

O obstetra, que faz abortos pelo SUS e dirige o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), o primeiro a realizar abortos legais no Norte-Nordeste.

Existem cerca de 50 procedimentos por ano, sendo 30 e 40 relacionados a estupros. "Ficamos com medo de ela não conseguir entrar. Criamos uma distração para tirar um atenção para o carro passar escondido. Ninguém viu", conta o médico, que escutou gritos de "assassino","aborteiro","demônio ","por que o senhor não mata filhos seus?", contou.

O médico conta que a polícia chegou depois que a menina já tinha conseguido entrar na unidade, mas que conseguiu impedir que os cerca de 200 ativistas católicos e parlamentares da bancada evangélica invadissem o hospital no domingo (16).

Segundo relatos de enfermeiros, durante o procedimento, a menina ficou todo o tempo abraçada a uma girafa de pelúcia.

"A exposição foi outra violência que ela sofreu. Como vai voltar pra casa mesma? A mesma escola? Vai ficar marcada por causa da quebra do sigílo. Talvez tenha que mudar de estado, de nome. Será preciso passar uma borracha nisso para que ela possa ser feliz", diz Olímpio.