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É necessário limpar as compras? Saiba como se proteger das novas cepas

Segundo especialistas, a transmissão pelo ar é a mais preocupante e difícil de ser combatida

Com informações do Extra

A pandemia já fez milhares de vítimas no Brasil e no mundo, mas as dúvidas sobre a covid-19 ainda permanecem e permeiam a cabeça de muitas pessoas. Quando a doença começou a se espalhar pelo mundo, pesquisadores relataram que o coronavírus poderia sobreviver por dias em alguns materiais e alertaram que se alguém tocasse uma superfície contaminada e então levasse as mãos aos olhos, nariz ou boca poderia se contaminar. Então, o hábito de limpar as compras e desinfetar ambientes se popularizou. No entanto, a era do que ficou conhecido como "teatro da higiene" parece estar chegando ao fim.

Na semana passada, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos atualizaram suas diretrizes de limpeza de superfícies, observando que o risco de contrair o coronavírus ao tocar em uma superfície contaminada era inferior a 1 em 10 mil. A nova orientação reacende o debate sobre a importância que tem sido direcionada a essas medidas em comparação com outros cuidados, como distanciamento, uso de máscaras e ventilação de ambientes.

“As pessoas podem pegar o vírus causador da Covid-19 por meio do contato com superfícies e objetos contaminados. No entanto, os testes mostraram que o risco de transmissão por esta rota é muito baixo”, disse Rochelle Walensky, diretora dos CDC, em uma entrevista na Casa Branca em 5 de abril, segundo o New York Times.

Esse reconhecimento já era esperado há muito tempo, afirmam cientistas:

“Já sabemos disso há muito tempo, mas as pessoas continuam a se concentrar muito na limpeza de superfícies. Não há evidências de que alguém pegou Covid-19 ao tocar em uma superfície contaminada. Nós estamos mais familiarizados com a limpeza de superfícies, você pode ver as pessoas fazendo isso e a superfície limpa, acho que por isso as pessoas se sentem mais seguras”, afirmou ao NYT Linsey Marr, especialista em vírus aerotransportado do Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia.

O físico Vitor Mori, pesquisador da Universidade de Vermont e membro do Observatório Covid-19 BR, considera que o maior erro na condução da pandemia a nível global foi a má compreensão sobre a forma como o vírus é transmitido, o que levou à adoção de protocolos pouco eficientes para combater o contágio.

“Ainda hoje, com evidências robustas de que a transmissão pelo ar é a via mais importante, vemos cidades direcionando muitos recursos para desinfecção das ruas, ou a permissão para locais fechados e mal ventilados funcionarem só medindo temperatura e oferecendo álcool em gel. É urgente compreender como o vírus é transmitido e quais as implicações disso na forma como temos que nos prevenir”, afirma Mori.

Ele explica que a transmissão pelo ar é muito mais preocupante e difícil de ser combatida, mas isso não justifica que as medidas adequadas não sejam tomadas, avalia.

Transmissão

Os CDC já haviam reconhecido anteriormente que as superfícies não são a principal rota de propagação do coronavírus, mas as recentes declarações da agência foram ainda mais informativas sobre o tema, segundo especialistas.

As diretrizes dos CDC sugerem que se alguém com Covid-19 esteve em um determinado espaço nas últimas 24 horas, a área ainda deve ser limpa e desinfetada. As novas orientações de limpeza não se aplicam a instalações de saúde, que podem exigir limpeza e desinfecção mais intensas, segundo a agência.

No Brasil, em janeiro deste ano, o site do Ministério da Saúde afirmava que a transmissão da Covid-19 não acontece pelo ar. Agora, a página atualizada dia 8 de abril afirma que o SARS-CoV-2 é transmitido "principalmente por três modos: contato, gotículas ou por aerossol".

Saiba como se proteger

Vitor Mori avalia que medidas como lavar as compras feitas no mercado ou desinfetar sapatos e objetos não são efetivas contra a Covid-19 e outros cuidados devem ser priorizados.

“Se a pessoa se sentir bem fazendo isso não tem problema, os produtos podem não estar em ambiente limpo no mercado, por exemplo, e a limpeza pode ajudar a proteger de outras coisas. Não usar o sapato da rua em casa é uma medida de higiene independente da pandemia. Mas especificamente contra a Covid não são muito importantes”, explica. “O grande risco não são os objetos, são as pessoas que carregam e transmitem o vírus para outras”.

O pesquisador do Observatório Covid-19 BR destaca que as principais medidas relevantes contra a transmissão do coronavírus são:

- ficar em casa sempre que possível, se for preciso sair preferir atividades ao ar livre

- usar máscaras bem ajustadas ao rosto.

Ambientes fechados representam maior risco, por isso devem ser bem ventilados, com janelas e portas abertas e, se possível, ventiladores empurrando o ar de dentro para fora. Deve-se procurar ficar pouco tempo nesses locais e manter o maior distanciamento possível de outras pessoas.

Em ambientes fechados, mal ventilados ou sem distanciamento, ele sugere o uso da máscara do tipo PFF2 ou equivalentes. Quando utilizada corretamente, ela fornece um bom grau de proteção para quem a está vestindo, explica Mori.

O físico destaca que as novas variantes não mudam a forma como o coronavírus é transmitido. O que mudou é que algumas delas têm maior potencial de infectar as pessoas.

“A infecção depende de uma quantidade mínima de partículas contendo o vírus no nosso corpo. Com as novas variantes, por terem maior capacidade de entrar nas nossas células, é preciso uma menor quantidade de partículas para se infectar. Por isso temos que redobrar as medidas preventivas. Mas o mecanismo e as medidas de prevenção que funcionam não mudaram. A higienização de superfícies continua sendo pouco eficiente”,  explica Mori.

Saskia Popescu, epidemiologista de doenças infecciosas da Universidade George Mason, observou que ainda é importante fazer uma limpeza regular e manter boas práticas de lavagem das mãos para reduzir o risco de contrair não só o coronavírus, mas também outros patógenos.

No entanto, escolas, empresas e outras instituições que desejam manter as pessoas seguras devem mudar sua atenção das superfícies para a qualidade do ar, disse ela ao NYT, e investir em melhor ventilação e filtragem.

Brasil