Desinformação é inimiga no combate ao câncer infantil
Desconhecimento é uma barreira que precisa ser transposta para diagnósticos precoces e tratamentos bem-sucedidos
Desconhecimento é uma barreira que precisa ser transposta para diagnósticos precoces e tratamentos bem-sucedidos
Hoje (23) é o Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil. Essa é a principal causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos incompletos. É o que aponta o Instituto Nacional de Combate ao Câncer (INCA). No entanto, para mais da metade dos brasileiros (53%), doenças como a pneumonia (23%), meningite (14%) e a desnutrição (16%) são as que mais matam. Essas percepções foram evidenciadas pela pesquisa “Câncer infantil: o quanto conhecemos?”. E deixou muito claro que o brasileiro precisa de mais informação sobre o mal que mais vitima crianças e adolescentes.
Realizado pela Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope), em parceria com a Bayer, o levantamento tinha como objetivo mensurar o conhecimento da população brasileira sobre o câncer infantil e alertar para os primeiros sinais da doença que podem viabilizar um diagnóstico precoce.
Conhecido como infantil ou infanto-juvenil, esse tipo de câncer compreende o aparecimento de tumores em diferentes locais do corpo e acomete crianças e jovens de zero a 19 anos de idade incompletos. Apesar de ser considerada uma doença rara quando comparada ao número de casos em adultos, correspondendo a apenas 3% do total de tumores no país, hoje é a principal causa de morte em crianças e adolescentes nessa faixa etária, somando anualmente em torno de 12.600 casos novos ao ano, somente no Brasil.
O INCA explica que as principais diferenças entre os cânceres infantis e de adultos estão nos aspectos morfológicos (como o tipo de tumor), no comportamento clínico (como a sua evolução) e nas localizações primárias.
Nas crianças e nos jovens, os cânceres geralmente afetam as células do sistema sanguíneo, nervoso e tecidos de sustentação, como os ossos. Em adultos, as células epiteliais, que recobrem os órgãos são as mais atingidas. Além disso, os cânceres nos adultos comumente apresentam mutações em decorrência de fatores ambientais. Nos pequenos e adolescentes, ainda não há estudos conclusivos sobre a influência desses aspectos no aparecimento da doença.
Embora essas sejam informações importantes para a detecção e, principalmente, para o tratamento adequado, o levantamento constatou que, para 45% dos brasileiros, o câncer que acomete crianças é igual ao câncer que acomete adultos. Além do mais, apenas 30% sabem que a maioria dos casos de câncer não tem causa conhecida.
“O levantamento indica que a população brasileira tem um conhecimento em parte equivocado em relação ao câncer infanto-juvenil”, explica o especialista Cláudio Galvão de Castro Jr, Presidente da Sobope e Chefe do Serviço de Oncologia e Hematologia Pediátricas do Hospital da Criança Santo Antônio. “É preciso entender que as diferenças entre os cânceres infantis e em adultos são muitas. Nas crianças, por exemplo, importa mais o tipo de célula afetada do que a localização do tumor. Além disso, apesar de mais agressivos e se tornarem invasivos mais rapidamente, os tumores infanto-juvenis, quando tratados corretamente, respondem melhor”.
Nesse quesito, os brasileiros, mesmo que incertos, são otimistas. Para 40% dos entrevistados, o índice aproximado de cura do câncer em crianças e adolescentes, quando tratado corretamente, é de 70%. “Nisso eles estão corretos; apesar da maioria dos quadros de câncer infanto-juvenil ser preocupante, eles têm maior taxa de cura”, reforça.
O levantamento identificou que, para 68% dos brasileiros, as leucemias, linfomas e tumores cerebrais são os tipos de câncer que mais atingem essa faixa etária, seguido de 20% que identificou os cânceres de pulmão, intestino e fígado, e 12% que elegeram os cânceres de mama, próstata e estômago.
“Apesar de acertarem ao indicar que as leucemias, linfomas e tumores cerebrais são os mais prevalentes entre crianças e jovens, os brasileiros desconhecem outros cânceres infanto-juvenis importantes, como o neuroblastoma, retinoblastoma e osteossarcoma”, complementa o Cláudio Galvão.
Já é possível contar com tecnologias inovadoras para o tratamento dos cânceres infantis. Contudo, o diagnóstico precoce e correto é essencial para o sucesso do tratamento. O desconhecimento a respeito dessas doenças se mostra uma barreira importante que ainda precisa ser transposta pelos brasileiros.
É possível observar as implicações desse desconhecimento ao comparar a prevalência dos tipos de cânceres infantis em países em desenvolvimento. Por exemplo, o Brasil, onde a falta de conhecimento é maior, em relação à prevalência em países desenvolvidos. Segundo o INCA, no país, o tipo mais comum são as leucemias, seguidas pelo linfoma e tumores do sistema nervoso central. Em países desenvolvidos, onde a população tem um maior acesso à informação, o linfoma ocupa o terceiro lugar, após os tumores do sistema nervoso central.