Com apenas 2 anos, menina ajuda a guiar os pais deficientes visuais

A expressão "menina dos olhos" ganhou um sentido mais do que especial para uma família de Fortaleza, no Ceará. O que poderia ser mais uma entre muitas histórias que mostram a cumplicidade e confiança entre pais e filhos acabou se transformando em um lindo exemplo que viralizou nas redes sociais. Com apenas dois aninhos, Ana Clara desempenha uma função de extrema importância e responsabilidade: guiar os pais nas tarefas do cotidiano.

A cabeleireira Marlene Mello e seu esposo, Alex Mello, são deficientes visuais. Por conta de uma hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro), Marlene só consegue enxergar apenas entre 5% e 10%, o que lhe confere uma baixa acuidade. OU seja, ela vê apenas vultos. “Passei dois meses internada, entre a vida e a morte. Consegui colocar uma válvula, mas demorou e, por isso, eu perdi a visão”, relata. Já Alex nasceu com retinose pigmentar, um problema que compromete a retina, e também só enxerga vultos.

Segundo Marlene, a gravidez de Ana Clara não foi planejada, e que tiveram receio de como seria a criação da filha por conta de suas limitações. A preparação para o desafio que a menina iria enfrentar começou ainda na barriga da mãe. “A gente contava para ela, explicava que nós tínhamos deficiência visual, mas que íamos dar o nosso melhor para cuidar dela e que Deus tinha um propósito de ter enviado ela para as nossas vidas”, conta.

A preocupação do casal era muito grande nos primeiros meses pelo receio de que ela se machucasse ou se acidentasse sem que eles pudessem enxergar. “Quando ela estava com 11 meses, decidimos enfrentar o medo e colocá-la no chão, aí ela começou a dar os primeiros passinhos”, disse. Muito cedo Clarinha começou a ser orientada sobre a deficiência visual dos pais e rapidamente entendeu essas limitações e passou a ajudá-los.

Muito cedo Clarinha começou a ser orientada sobre a deficiência visual dos pais e rapidamente entendeu essas limitações e passou a ajudá-los. (Reprodução Instagram @princesinhaclarinha)

“Quando ela ainda tinha uns dez meses, eu a arrumei e falei: ‘Filha, mostra para o papai como você está linda’ e fiquei pensando em como ela iria fazer isso. Ela pegou a mão dele e foi mostrando o laço, a roupa, o sapato”, relembra a mãe. “Ela entende tudo… desde que nasceu já sabia que a gente não enxergava. Aos poucos ela foi dando outros indícios de que compreendia a situação. Quando alguma coisa caía no chão, por exemplo, ela ajudava a pegar, sempre espontaneamente”, ressalta a cabeleireira.

Aos poucos isso passou a fazer parte da rotina e Clarinha também passou a localizar objetos, dizer as cores das roupas que os pais estavam usando, direcionar o dedo da mãe na tela do celular, avisar sobre algum obstáculo tropeçante na calçada e por aí vai. Também fazia questão de mostrar o tamanho do cabelo e o nascimento dos dentes para os pais através do tato. "Para a Ana, a mãe enxerga, mesmo que pouco. Assim, quando vamos sair, ela segura na minha mão – e não na dela – já que eu não enxergo nada”, diz o pai coruja.

‘Princesinha Clarinha’, como é conhecida nas redes sociais, também faz bastante sucesso no Instagram, onde é acompanhada por mais de 260 mil seguidores (veja em @princesinhaclarinha). “Eu acho que quando Deus decidiu nos presentear com Ana, ele disse: ‘pronto, ela será os olhos da mãe e do pai – seus pés e suas mãos. Ter a Clarinha foi algo fantástico. Ela é uma benção em nossas vidas. É o nosso tesouro”, conclui Marlene.