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Bebês reborn viram 'febre' entre famosos e levantam debate sobre saúde emocional

Famosos como o padre Fábio de Melo, a apresentadora Luciana Gimenez e a musa fitness Gracyanne Barbosa compartilharam, recentemente, registros de seus "filhos" ultrarrealistas

O Liberal

Nas últimas semanas, os bebês reborn, que são bonecas ultrarrealistas que imitam com impressionante fidelidade recém-nascidos, viraram febre nas redes sociais e entre celebridades brasileiras. O padre Fábio de Melo, 54 anos, emocionou seguidores ao visitar uma maternidade de bonecas nos Estados Unidos e “adotar” um bebê reborn com traços da síndrome de Down, em homenagem à mãe, Ana Maria de Melo, falecida em 2021. Já a apresentadora Luciana Gimenez, 55, surpreendeu o público ao protagonizar ao vivo o “parto” de uma boneca durante o programa Superpop, ​da RedeTV!, exibido no último dia 7 de maio. Horas depois, ela apareceu nas redes sociais abraçada à boneca e anunciou que dormiria com ela.

A musa fitness Gracyanne Barbosa também entrou na onda e causou polêmica ao apresentar o novo “membro da família”: o bebê reborn Benício, a quem dedicou uma declaração carinhosa.

Os episódios viralizaram na internet e levantaram debates sobre os limites emocionais e sociais desse tipo de vínculo afetivo. “Antes de pensarmos no seu uso, é preciso recordar os padrões e normas culturais e sociais que são incutidos nos nossos pensamentos, sobre o papel da mulher na sociedade, de tornar-se mãe. Ser reprodutivo é uma cobrança que inclusive pode gerar perda de saúde mental àquelas que não escolhem o caminho de serem mães”, explica o especialista.

De acordo com Frank Duarte, em alguns casos, o desejo de ter um bebê reborn atende a uma demanda social, sem que seja necessário passar pelas transformações físicas e emocionais da gestação. “Desta forma, os bebês reborn cumprem esta função, de ser ‘mãe’ sem passar por estas alterações que a gravidez traz. No entanto, algumas mulheres que sonham e esperam este momento, podem ter esse comportamento planejado interrompido seja por um parto prematuro ou aborto espontâneo”, alerta.

Para essas pessoas, a perda de um bebê real implica em um processo de reorganização emocional que pode ser longo e doloroso. “Considerando que todas as expectativas se tornaram marcos cognitivos, nosso cérebro precisa se adaptar às novas mudanças, o que necessita de tempo e ‘reelaboração’ dos sentimentos como o luto”, afirma Duarte. “Pensando nisso, alguns manejos terapêuticos são utilizados para auxiliar na neuroplasticidade e compreensão do novo cenário”, complementa.

Nessa perspectiva, os bebês reborn surgem também como ferramenta para o enfrentamento do luto. “Os bebês reborn podem ser utilizados como recurso para enfrentar o luto, assim como a realidade aumentada é utilizada para pessoas que têm fobia de avião, por exemplo”, diz. No entanto, ele alerta: “Precisa de um planejamento de trabalho, para que atue apenas como manejo de enfrentamento do luto, não podendo prolongar para que não gere outros problemas, em relação às gestações psicológicas e seus efeitos”, diz o especialista.

O neuropsicólogo destaca ainda que todo tratamento precisa ter início, meio e fim. “Igual ocorre um processo de ‘desmame’ de medicação, as técnicas e instrumentos também necessitam ocorrer o ‘desgarro’, que chamamos de ‘dessensibilização sistemática’”, explica. Segundo ele, a dependência ao objeto terapêutico pode comprometer a autonomia emocional do paciente. “Quando a técnica passa a ser incorporada como dependência, isso pode causar preocupações, porque faz o paciente não conseguir lidar com sua vida de forma espontânea”, afirma.

A popularização dos bebês reborn entre os famosos levanta outro ponto de atenção. “O que chama atenção não é a utilização da técnica, por pessoas carecas também utilizam prótese capilar para lidar com a calvície. No entanto, a exposição nas redes, isso sim é algo a se pensar”, pontua Duarte.

Na análise do especialista, para alguns influenciadores, a adoção de bebês reborn parece estar mais relacionada à busca por engajamento digital do que a uma necessidade terapêutica real. “Alguns famosos estão utilizando e, na percepção cognitiva, parece cumprir mais uma ‘demanda’ das redes sociais, do que o cumprimento terapêutico. No entanto, isso pode influenciar pessoas a encontrar nos bebês reborn um acalento por uma perda, ou pela necessidade social que mencionamos acima, que pode gerar mais um desconforto emocional ou prejuízo à saúde do que promoção e qualidade de vida”, avalia.

Apesar de ser uma ferramenta válida quando bem conduzida, Frank Duarte destaca a importância do acompanhamento profissional para quem busca nos bebês reborn uma forma de lidar com a dor. “É necessário muito cuidado na utilização e manejo. Nosso cérebro se adapta fácil a mudanças, no entanto, ele tem dificuldade de desapegar de rotinas”, conclui.

Brasil