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Após segurar preços, empresários devem repassar reajustes da energia, água e aluguel aos clientes

O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) aponta que muitos estabelecimentos ainda não repassaram a alta de custos aos clientes, mas isso deve mudar.

Abílio Dantas

Junto com a retomada de negócios do setor de serviços que foram fechados devido aos surtos de covid-19 no país, os empresários devem aumentar os preços ao consumidor como forma de tentar recuperar os rendimentos perdidos. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) aponta que muitos estabelecimentos ainda não repassaram a alta de custos aos clientes, mas isso deve mudar. Os repasses devem levar em conta o aumento das tarifas de energia elétrica, com a adoção da bandeira vermelha patamar 2, que representou um custo adicional de R$ 9,49 a cada 100 quilowatts-hora consumidos, valor 52% superior ao cobrado anteriormente até junho. Houve também crescimento de mais de 30% do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), que é utilizado para a maioria dos aluguéis no Brasil.

O economista Everson Costa, técnico em pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos no Pará (Dieese-PA) afirma que a tendência de alta de preços do setor de serviços é geral, tanto nacionalmente quanto em âmbito estadual, no Pará. “E também em qualquer parte do mundo. O setor de serviços foi um dos mais afetados. A área de turismo, por exemplo, que faz parte do setor de serviços, representa fortemente o que foi esse impacto da pandemia, assim como os empreendimentos de lazer, bares e restaurantes. Em determinado ponto da pandemia o setor parou, literalmente. De repente não podiam mais atender e nem receber os clientes. Os segmentos prestadores de serviço perderam muito, apesar de ser um setor muito dinâmico. Aqueles que tiveram acesso a crédito ou tinham ‘gordura para queimar’, pode ser que tenham um nível de repasse pequeno. Mas a maioria não teve acesso a empréstimo, não se viu amparado por qualquer tipo de política, o que faz com que hoje não estejam conseguindo segurar os preços, seja porque a pandemia fez com que todos os insumos ficassem mais caros, seja porque os empreendedores não receberam auxílios”, analisa o especialista.

De acordo com Everson Costa, no entanto, os aumentos, inicialmente não devem ser “exorbitantes”, já que aumentar preços de serviços em um período de taxas altas de desemprego e baixo poder de compra da população pode ser arriscado. “Se fizer isso, você não vende o serviço, é um ‘tiro no pé’. A acomodação de preços vai ocorrer, mas vai variar muito. O setor de educação, por exemplo, logo terá que rever seus custos, porque durante a pandemia foi necessário ter implemento pedagógico, computador, aumento de gasto com internet, em contrapartida economizaram com água, luz. Para manter os mesmos preços, você deve diminuir sua margem de lucro, e isso varia para cada segmento. Hoje o limite da margem de lucro está sendo testado”, completa o economista.

Alternativas

O proprietário de uma barbearia localizada no bairro do Marco, Lucas Conde, relata que os anos de 2020 e 2021, com a existência da pandemia, trouxe a urgência da renovação, para que o negócio pudesse sobreviver. “Além dos aumentos de valor de aluguel, conta de energia, alta do preço dos combustíveis, também o aumento de gasto com equipamentos de proteção contra o contágio pela covid-19. As luvas, por exemplo, que já eram utilizadas pelo mercado de barbearias, ficaram muito mais caras. Com relação aos aluguéis, durante o primeiro lockdown (entre os dias 7 e 24 de maio de 2020), conseguimos renegociar o preço, mas não no lockdown deste ano (em março). O fato de abrir e fechar atrapalhou muito, mais do que se tivesse ficado fechado por três meses seguintes. Tínhamos duas unidades de barbearia, agora estamos só com uma no segmento, a outra está no ramo de lanchonetes. Sobre o aluguel, optamos em regular o reajuste do aluguel pelo IPCA, já que o IGP-M bateu 33%”, afirma.

Com o objetivo de driblar a alta da energia elétrica, com o advento do bandeiramento vermelho 2, Lucas optou por trocar os freezers e aparelhos de ar-condicionado dos estabelecimentos por modelos mais econômicos. “Existe hoje a possibilidade de trabalhar com freezers que utilizam de 30% a 40% a menos de energia elétrica, assim como os aparelhos de ar ‘inverter’. Fizemos um investimento nessas áreas para sanar um pouco o bandeiramento vermelho 2, porque se você não fizer um investimento de ajustes ou buscar a possibilidade de painéis fotovoltaicos, é um bandeiramento que pode fazer o empresário perder o seu negócio”, declara.

A cirurgiã-dentista e empresária Sally Lana, membro do Conselho do Jovem Empresário (Conjove), precisou criar um rodízio de aparelhos eletrônicos em sua clínica para controlar a conta de energia. “Quando não temos clientes na sala de espera, desligamos o ar-condicionado. Tivemos que buscar alternativas, já que tivemos alta de 20% na conta de luz. Mas mesmo com essas estratégias, precisamos aumentar o preço de alguns serviços, como é o caso do implante. Eles estão saindo duas vezes mais caros para nós, em razão da alta dos insumos, já que a maioria vem da China”, explica.

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