Coronel negro reformula manual da PM para combater racismo: 'não vamos mais tolerar'
Um dos objetivos é fazer com que os policiais identifiquem atos discriminatórios próprios e de colegas
O tenente-coronel da Polícia Militar de São Paulo, Evanilson Corrêa de Souza, negro, de 50 anos, está revendo o manual de Direitos Humanos da corporação. O objetivo, segundo ele, é fazer com que os policiais reflitam que o racismo está presente no dia a dia nas ruas e identifiquem atos discriminatórios próprios e de colegas que possam ser corrigidos.
O atual manual da PM é de 1998 e a nova versão, de acordo com Souza, deve ficar pronta no 1º semestre de 2021. "É importante mostrar para as pessoas que o racismo existe, que não é exagero, não é só um costume, uma brincadeira, um jeito. Porque é cultural e tradicional dessa forma (de discriminação), disse Souza ao G1, ele próprio já vítima de racismo.
"Não será uma caça às bruxas, mas não vamos mais tolerar discriminações de nenhuma forma", afirma o coronel.
A revisão do manual começou em 2014, quando começaram a surgir algumas ideias sobre a necessidade de aperfeiçoamento das premissas da corporação em respeito à diversidade cultural e religiosa, mas termina em um ano marcado por ocorrências polêmicas envolvendo atos racistas em São Paulo e no Brasil.
A taxa de homicídios de negros no Brasil saltou de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes entre 2008 e 2018, o que representa aumento de 11,5%, de acordo com o Atlas da Violência 2020. Já os assassinatos entre os não negros no mesmo comparativo registraram uma diminuição de 12,9% (de uma taxa de 15,9 para 13,9 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes).
O relatório mostra que, em 2018, os negros representaram 75,7% das vítimas de todos os homicídios. Quando se fala das vítimas dos policiais, o percentual de negros é ainda maior: 79,1%, em 2019, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. A proporção de policiais negros assassinados no ano passado também é maior do que a de brancos: 65,1%.
Na capital paulista, pelo menos três ocorrências marcaram 2020: em julho, um policial foi flagrado pisando no pescoço de uma mulher negra já imobilizada na Zona Sul, levando ela a desmaiar quatro vezes; em agosto, um mestre de capoeira levou um “mata-leão” e foi deixado de cuecas, após ser “confundido” com um suspeito, em um bairro boêmio da Zona Oeste.
Em outubro, um grupo de negros foi filmado e seguido por policiais durante um passeio no Centro de São Paulo. No Rio Grande do Sul, em novembro, um homem negro foi espancado até a morte em um supermercado, gerando uma onda de protestos pelo país.
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