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Belém 407 anos: Mulheres impulsionam a economia

Empreendedoras são força de trabalho e fortalecem protagonismo e potencial turístico da capital

Natália Mello, especial para O Liberal
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Quarenta anos de cozinha e 28 de Ver-o-Peso conduziram Lúcia Torres, de 58 anos, ao patamar de embaixadora da gastronomia regional do Estado do Pará. E essa trajetória que demarca o território da chef na história de Belém é o exemplo de que, mais do que força de trabalho, as mulheres vêm protagonizando a mais recente configuração social, econômica e política da metrópole da Amazônia.

Dados da Junta Comercial do Pará (Jucepa) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/PA) revelam que o número de empresas do tipo MEI (Microempreendedor Individual) abertas por mulheres em 2021 foi de 35.797 (56,6% do total/Jucepa). E, do total de 132.807 empreendimentos individuais divulgados pelo Sebrae, 80.933 (61%) são liderados por mulheres. 

Ou seja, Lúcia e tantas outras mulheres se mostram fundamentais para o crescimento do país e, assim, do Pará e de Belém neste 2023. Aliás, fato este é comprovado pela história de vida da maioria delas, que, comprovadamente, deixaram o anonimato par trás. “Depois de 28 anos de Ver-o-Peso, eu assumi a cozinha desse restaurante no dia 13 de maio de 2021, ou seja, vai fazer dois anos. Tivemos que conversar muito para chegar aqui, no lugar onde estou hoje. E a intenção é abrir outro restaurante na Ilha do Combu. Já está previsto isso”, revela.

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A conquista de ser a chef responsável de um restaurante no bairro do Umarizal, um dos mais valorizados da capital paraense, não acarretou somente “louros” para a vida de Lúcia. Ao contrário. A empreendedora, que tem dois boxes no Ver-o-Peso, onde é conhecida como uma das mais renomadas boieiras, precisa correr contra o tempo para dar cabo de todas as funções que o crescimento lhe acarretou.

“Estamos aqui correndo contra o tempo. Tenho que ir todos os dias no meu box, fazer compras, conferir contas. Tenho que me responsabilizar por tudo de lá e vir para cá. Isso me cansa, mas eu não posso desistir, a gente só vence com luta”, diz. Em seguida, completa com a razão de sua maior motivação: o reconhecimento.

“Já tenho um legado em Belém. Sou conhecida internacionalmente. Recebo gente do mundo inteiro no meu box e tudo que me fez chegar até aqui eu tiro da riqueza da nossa cidade. Quem me conhece sabe como eu trabalho. Na minha cozinha não se vê um sazon, um tempero pronto, nada de supermercado, porque tem tudo no nosso Ver-o-Peso. Imagina, comecei vendendo churrasquinho lá e não imaginava chegar no patamar que eu estou. E para mim é uma honra muito grande ser reconhecida na minha cidade”, conclui.

Incentivo financeiro empodera mulheres

Aos 37 anos, Eliza Lisboa atua como manicure e produz cocadas e geleias. Hoje integrante da Rede Trilha dos Sabores Amazônicos, da Economia Solidária, foi em outubro de 2021 que ela vislumbrou uma oportunidade de estabilidade, após concluir o curso de processamento de frutas ofertado pelo Banco do Povo no bairro do Jurunas, por meio do projeto Donas de Si.

“Em fevereiro de 2022 comecei a produzir as geleias e cocadas, e oferecer para as minhas clientes que atendo como manicure. A partir de julho (2022), comecei a participar de feirinhas itinerantes e foi aí que tudo mudou para muito melhor. Minhas geleias e cocadas são muito bem aceitas. Graças a elas estamos conquistando nosso espaço no Mercado de Carne Francisco Bolonha”, declara.

Eliza afirma que fez o curso por curiosidade, logo, não imaginava que, na verdade, seria um divisor de águas na sua vida. “Sabemos que não é fácil, principalmente para nós, mulheres que temos filhos pequenos, mas quando vi que também poderia estar fazendo esse trabalho em casa fiquei muito animada e comecei a produzir as geleias, cocadas e biscoitos de Castanha do Pará e levar para vender nas feirinhas – agora também sou assistida pela Emater-PA”, conta.

Depois de quase dois anos de trabalho, ela diz se enxergar, finalmente, como empreendedora vislumbra um futuro de crescimento no mercado. “Quero continuar assim, crescendo no mercado e ajudar cada vez mais a minha família. Então meu recado é principalmente para você mulher que busca um lugar no mercado de trabalho e não tem condições de pagar. Se tiver a oportunidade de fazer esses cursos faça e saiba aproveitar, porque o mercado está aí, só te esperando para também mudar a sua vida”, conclui.

Donas de Si

O programa Donas de Si é cumprimento de programa de governo e foi pensado para o atendimento de mulheres, especialmente as provedoras do lar, mães-solo, que representam grande parte das famílias brasileiras. Os cursos são voltados às mulheres beneficiárias do programa e outras atendidas pelos CRAS (Centros de Referência em Assistência Social). A ideia é oferecer cursos que possibilitem o desenvolvimento de produtos e serviços dentro de casa ou no próprio território em que vivem, gerando renda imediata.

Os cursos, para facilitar o acesso, foram levados para dentro dos bairros e distritos, como Tapanã, Bengui, Jurunas, Telégrafo, Sacramenta, Barreiro, Guamá, Pedreira, Outeiro, Icoaraci e Mosqueiro. “A procura pelos cursos aumentou rapidamente, e num segundo momento, ampliamos a oferta por meio de contratos firmados com Senac e com o Senar e também abrimos inscrições no site para a população em geral, possibilitando o acesso também de homens e público LGBTQIA+. As mulheres ainda são a maioria absoluta do público atendido, correspondendo a 90% do total”, explica a coordenadora-geral do Banco do Povo de Belém, Georgina Galvão.

A responsável pelo projeto detalha que, desde o início, foram identificadas histórias difíceis de mulheres afetadas econômica e emocionalmente pela pandemia, e também pela realidade de preconceito e abandono a que estão relegadas muitas delas.

“Trazê-las para o ambiente da sala de aula, em que elas interagiram entre si, despertaram amizades e relações de cooperação, o que já foi um passo importante para a autoestima de muitas delas. Receber uma qualificação de qualidade, já que a certificação escolhida vale para todo território nacional, e aprender um ofício, são passos muito importantes para o tão sonhado empoderamento. Mas há também a possibilidade concreta de obtenção de renda”, pontua.

O Banco do Povo oferece cursos variados, como corte de cabelo, costura, manicure, confeitaria, hambúrguer gourmet, bolos e doces, produção de geleias, licores e compotas, informática, empreendedorismo digital, produção artesanal de higiene e limpeza e muitos outros. Georgina enumera os casos de resultados positivos que o projeto já acumula.

“Tem travesti que trocou a prostituição pelo ofício de cabeleireira; tem dona de casa que aprendeu a fazer geleia, cocadas e licores para ajudar na renda da família; (...) pessoas com os filhos crescidos e que encontraram na confecção de bolos ou num curso de planejamento de cardápio e aproveitamento de alimentos uma atividade de renda e de prazer, além de melhorar a alimentação de sua família; (...). Felizmente, estamos colecionando muitas histórias boas para contar”, finaliza a coordenadora.

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