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Belém 407 anos: Estudantes paraenses acreditam que a educação vai levá-los a um futuro melhor

Na Terra Firme, estudantes mostram o esforço de todo dia de quem não desiste de dias melhores

Eduardo Rocha
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No mundo corrido de hoje, o verso da canção imortalizada por Milton Nascimento, 80 anos, “sonhos não envelhecem”, traduz o desejo dos estudantes Emily Pinto, 17 anos, e Gustavo Monteiro da Luz, 15 anos, moradores do bairro da Terra Firme, quando cruzam a ponte sobre o rio Tucunduba, na fronteira da “TF” com o Guamá. “Eu queria que não tivesse tanto contraste”, destaca Emily; “um dia, eu vou morar lá”, assinala Gustavo, referindo-se aos edifícios do centro de Belém avistados no horizonte a partir da ponte. Para tornar real esse sonho, os dois jovens entendem a educação como o grande portal para o futuro, e, por isso, investem todo o esforço no aprendizado a partir da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio com Supervisão Militar Educacional Brigadeiro Fontenelle, administrada pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc).

Emily Ediany de Assunção Pinto, cursa o 3º ano do Ensino Médio e pretende cursar jornalismo, porque desde que ingressou na escola Brigadeiro Fontenelle, em 2022, passou a fazer parte do Clube de Comunicação, responsável pela comunicação da unidade escolar e tem participado de oficinas com esse conteúdo, o que a despertou para o curso. “Mais que apenas vencer na vida, estudar dá a gente o entendimento do mundo, buscar saber por que as coisas acontecem, eu estudo para isso, para poder compreender o que acontece no mundo”, destaca. Como moradora de um bairro da periferia de Belém. Emily acredita que a educação é o meio para melhorar a vida dela e da família. Relata que a mãe somente pôde concluir o Ensino Médio aos 25 anos de idade, e o pai não pôde concluir o Ensino Médio e a irmã mais velha dela também não. “Então, eu quero quebrar essa corrente”, destaca Emily.

Jornalismo como forma de difundir conhecimento

Ao todo, são cinco filhos na família da estudante, que mora com a mãe (mãe vendedora autônoma de roupas), padastro e irmã mais nova. Além de querer concluir o ensino médio, Emily pretende atuar no jornalismo, denunciando situações que firam a cidadania das pessoas, em especial a dos moradores da Terra Firme. Ela já vem atuando na reconstrução da imagem da escola, ou seja, desenvolvendo um trabalho de amor e pertencimento ao núcleo escolar.

image Emily mira o jornalismo; Gustavo, direito (Cristino Martins / O Liberal)

“Eu quero mostrar às pessoas a verdade, dar conhecimento a elas”, frisa Emily. A jovem estudante quer também concretizar o sonho de uma boa casa própria para a família, incluindo mãe e avó, e, como faz parte do Coletivo Cine-Clube TF, coordenado pela professora Lilia Melo, buscar mudar a realidade sofrida de crianças, adolescentes e famílias, no bairro. No final do ano, o coletivo organizou uma festa comunitária de Natal para famílias pobres. “Uma realização pessoal minha é ajudar a minha comunidade, porque tenho muito orgulho do nosso bairro, da nossa escola, e eu quero que nesses 407 anos de Belém a gente melhore como comunidade, cuidando mais das coisas que a gente tem, dos monumentos históricos, da nossa natureza que é muito rica e às vezes a gente não valoriza”, completa.

Estudante traça cada passo até o sonho

No 1º ano do ensino médio, Gustavo Monteiro da Luz pretende cursar direito e atuar como Policial Federal. Ele mora com a mãe na Terra Firme. A senhora vai se formar em breve como técnica de Enfermagem e atua como auxiliar de cozinha em restaurante e é cuidadora de pessoa idosa. Gustavo tem como sonho para o futuro concluir o ensino médio. “Após isso, eu pretendo fazer o concurso da Polícia Militar e, depois de entrar na Polícia Militar, estarei cursando direito; depois do curso, eu irei fazer o concurso da Polícia Federal, eu creio que eu irei conseguir, e com tudo isso ajudar a minha mãe, o meu pai, aqueles da minha família que necessitam, e ter uma família, ser feliz”.

Gustavo pontua que até para uma profissão mais simples uma pessoa necessita ter o Ensino Médio. “Então, com certeza, o estudo é um grande passaporte para chegar aonde você quer, e por mais que a pessoa tenha uma vida humilde, na periferia, ela tem oportunidade; mesmo quando a escola não é boa, a pessoa pode se esforçar, quem faz a escola é o aluno; se eu lutar por mim, eu posso conseguir, sim”, destaca Gustavo, cujo pai é aposentado e atua como garçom. O jovem tem três irmãos.

Gratidão à mãe impulsiona a alcançar meta

Para Gustavo, o comodismo é um empecilho para se chegar a alguma meta, e, então, vale a pena acordar cedo, ter uma ação a cada dia para obter uma reação, um resultado. “O que me motiva a ir atrás dos meus sonhos é aquilo que a minha mãe não conseguiu e eu com o meu esforço vou contribuir com ela, ou seja, uma forma de gratidão por tudo aquilo que ela fez para mim”. O jovem pensa em ter uma casa própria para ele e a mãe, ser policial federal e também pretende de alguma forma contribuir com o bem-estar dos moradores da Terra Firme. “A Terra Firme eu nunca vou abandonar, nem menosprezar, porque daqui tem possibilidade de sair grandes médicos, advogados, policiais”, ressalta

“Para ter uma Belém melhor, um Brasil melhor, um bairro melhor, eu tenho que começar observando as minhas atitudes, para ver se as minhas contribuem para o desenvolvimento, é a gente fazendo a nossa parte e os governantes a deles”, acrescenta Gustavo.

 Acesso ao Ensino Superior conta com mecanismos em instituições

Um desafio enfrentado por estudantes, pais de alunos e educadores em geral é a garantir com que jovens consigam concluir a formação educacional e profissional, encetada por eles no Ensino Médico convencional, no Ensino Técnico e no Ensino Superior. Para isso, instituições de Ensino Superior gerenciam mecanismos que facilitam o acesso a esse ciclo escolar para estudantes de família de baixa renda.

No caso da Universidade Federal do Pará (UFPA), no que tange à cota-renda (Candidatos(as) que cursaram integralmente o ensino médio ou equivalente.

em escola pública e têm renda familiar bruta (sem descontos) mensal inferior ou igual a 1,5 salário-mínimo nacional per capita), há uma contribuição expressiva.

Em 2022, dos 6.546 aprovados no listão da UFPA, 3372 inscritos como cota-renda foram aprovados, representando um percentual de 51,51% dos aprovados. Em 2021, dos 7.018 aprovados no listão da UFPA, 3838 inscritos como cota-renda foram aprovados, representando um percentual de 54,69% dos aprovados. Os cursos mais são Medicina, Direito e Enfermagem.

Já na Universidade do Estado do Pará (UEPA), desde 2016, são adotadas as cotas sociais no processo seletivo. Até o ano de 2022, eram ofertadas 50% das vagas totais para alunos que cursaram integralmente o Ensino Médio em instituições públicas de ensino. Em 2023, com a adoção das cotas étnico-raciais, são ofertadas 30% de vagas destinadas para as Cotas Socioeconômicas e 20% de vagas são para candidatos que se declaram negros ou indígenas e cursaram integralmente o Ensino Médio em instituições públicas de ensino.

A Uepa oferta bolsas para o programa de assistência estudantil para 420 alunos de graduação de famílias de baixa renda. O processo seletivo para as bolsas ofertadas neste programa tem, normalmente, um número superior a mil inscritos. De acordo com os dados do Processo Seletivo 2022, os cursos mais procurados foram, entre cotistas, Fisioterapia, Biomedicina e Enfermagem, ofertados em Belém, e entre os não cotistas, foram Medicina e Fisioterapia em Belém e Medicina em Marabá. A Uepa estima que 90% dos alunos de graduação que estão no programa de assistência estudantil possuem bom rendimento, porque são motivados a participar das atividades de pesquisa e extensão da universidade.

Iniciativa privada tem política de apoio

Desde a sua fundação, o Centro Universitário Fibra mantém políticas de manutenção voltadas para os alunos de baixa renda, com condições especiais nas mensalidades de alguns cursos. O programa de apoio à formação docente ganha o maior destaque: oferecendo nas mensalidades desconto de mais de 30 %, ficando a Fibra como responsável pelo custeio do valor restante da mensalidade, nos cursos das Licenciaturas, O aluno não terá de pagar parcelas ao final do curso. Nesse programa, são mais de 300 alunos assistidos.

O Núcleo de Estágio divulga e encaminha alunos para os diversos campos de estágio (estágio não obrigatório), possibilitando rendimento financeiro para os estudantes, mesmo antes de concluir o curso. A aprovação da Fibra no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), do MEC, viabiliza a oferta pela instituição de bolsa de R$ 400,00 para os alunos, como estratégia para apoiar estudantes de baixa renda. O estudante Juarez Carneiro Lopes, de baixa renda, concluiu com destaque o curso de graduação na Fibra, por meio do Prouni, e ganhou uma bolsa na Pós-graduação, por mérito acadêmico.

 

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