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Ver-o-Peso completa 395 anos de identidade amazônica em Belém

Programação terá visita religiosa e bolo de aniversário neste domingo (27)

Eduardo Rocha

Belém seria Belém, caso não existisse o Ver-o-Peso? Certamente que não. Esse complexo de abastecimento de gêneros alimentícios, entre outros itens, considerado como a maior feira ao ar livre da América Latina, completa neste domingo (27) 395 anos de funcionamento. Ele surgiu em 1627, logo depois da fundação de Belém do Pará, em 12 de janeiro de 1616. Para marcar o aniversário, feirantes e manipuladores de alimentos em geral promoverão eventos na área do complexo para saudar a trajetória histórica desse ícone da cultura paraense na Amazônia.

Já ouviu falar em "Avoirdupois"?

O historiador Aldrin Figueiredo, professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, destaca que o nome Ver-o-Peso está relacionado a uma expressão que vem da Inglaterra "Avoirdupois", do Século XV, que significa "bens vendidos por peso". Atualmente, "avoirdupois" refere-se ao sistema de medição de peso usado para mercadorias em geral.

Aldrin pontua que "é uma longa história que tem muito que ver com as relações de comércio luso-inglesas no Império Ultramarino". Ele relembra que foi William Shakespeare em sua peça "Henrique  IV", de 1597, quem primeiro utilizou a expressão "avoirdupois" para significar "peso". Os portugueses seguiram com esses pesos e medidas.

Dos séculos XVII e XVIII subjaz vasta documentação trazendo as cartas e provisões reais que concederam a Câmara de Belém o direito de cobrar o tributo de Aver de Peso, que consistia em taxar fazendas, efeitos, gêneros, que se vende a peso, e medida, além de arroz, legumes, azeite, bem como os que se acham na Casa do Aver do Peso (ou Haver de Peso), onde estavam balanças públicas, e medidas, para servirem aos que compravam e vendiam, conforme os usos da época.

"A Câmara de Lisboa, muitas vezes, emitiu editais e proclamações, na década de 1820, sobre o Ver-o-Peso paraense", ressalto o historiador Aldrin Figueiredo.

Reconhecimento nacional

conjunto arquitetônico e paisagísticodo do Ver-o-Peso foi reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional (Iphan) em 1977. O conjunto tombado inclui o Boulevard Castilhos França, o Mercado de Carne e o Mercado de Peixe, o casario, as praças do Relógio e Dom Pedro II, a doca de embarcações, a Feira do Açaí e a Ladeira do Castelo.

poeta Bruno de Menezes participava de reuniões literárias da Academia do Peixe Frito no Ver-o-Peso, local inspirador para muitos outros artistas em linguagens diferentes. Quem mora ou está em Belém e, por ventura, ainda não conhece o Ver-o-Peso, pode aproveitar este domingo para fazê-lo. Afinal, são 395 anos de história.

Qual será a programação do aniversário?

A programação festiva de deste domingo (27), mobilizando o Instituto Ver-o-Peso e a Prefeitura de Belém, começará às 7 horas com o quadro (relíquia) de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro percorrendo a Ladeira do Forte do Presépio, seguindo pela Feira do Açaí, Pedra do Peixe, Mercado de Peixe, Mercado de Carne e barracas.

Às 8 horas, será celebrada missa em ação de graças no Mercado de Carne Francisco Bolonha. Após a missa, haverá queima de fogos. A partir das 9h, será cantado o "Parabéns para Você" e feito o corte do bolo de aniversário, em frente ao Solar da Beira.

O Complexo do Ver-o-Peso é composto pela Feira do Açaí, Pedra do Peixe, Mercado de Ferro, Mercado Francisco Bolonha, Solar da Beira e Feira livre, onde atuam 1.751 trabalhadores e trabalhadoras cadastrados na Secretaria Municipal de Economia (Secon), em uma área quase 30 mil metros quadrados. A Secon administra a área em conjunto com outros órgãos municipais.

"Ponto de encontro e sustento", diz o prefeito Edmilson Rodriges 

Sobre o aniversário do maior cartão postal da capital paraense, o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, destaca entender o Ver-o-Peso como "ponto de encontro e sustento de muitos trabalhadores e trabalhadoras". O gestor enfatiza que o espaço "é patrimônio imaterial, porque diz muito da nossa identidade, do que a gente come, do nosso sotaque, do que a gente sente, do que a nossa gente e a nossa terra produzem: peixes, frutas, artesanato, ervas, temperos, os saberes populares". Edmilson Rodrigues acrescenta que "com esse sentimento presente, cuidamos do seu entorno, da limpeza da Pedra do Peixe, e a lavagem regular da Feira, porque cuidar da Feira é cuidar do nosso povo".

Manoel Rendeiro, o "Didi do Ver-o-Peso", feirante de hortifrutigranjeiros no espaço, emociona-se ao falar do entreposto comercial, "Eu trabalho no Ver-o-Peso desde que tinha 15 anos de idade, e hoje tenho 62 anos. O Ver-o-Peso é uma escola em todos os sentidos. Ele e Belém nasceram praticamente juntos, e no local ribeirinhos e indígenas vinham trocar farinha, frutas regionais e hortifruti por cereais, como café, feijão, arroz e açucar", conta. "Didi" calcula que cerca de 40 mil pessoas circulam pelo entreposto todos os dias.

Na avaliação de "Didi", o maior desafio no local é reforçar a segurança pública, até porque o Ver-o-Peso funciona 24 horas.

"Eu chego no Ver-o-Peso às 3 horas, vindo da Ceasa, e já tem gente querendo comprar os produtos. O Ver-o-Peso é uma cadeia alimentar, em que o açaí depende do peixe, o peixe depende do hortifruti e por aí vai. Por isso, ele não para", pontuou "Didi".

No entanto, no auge da pandemia, o espaço ficou praticamente parado, e até hoje alguns clientes ainda não retornaram ao local para fazer compras.

Belém