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Trabalhadores de limpeza urbana se formam na primeira turma da Escola Ciclus em Belém

Cerimônia oficializa a conclusão do curso de 45 colaboradores; nova turma será aberta no 2º semestre

Eva Pires | Especial para O Liberal

Com direito a entrada solene, discursos e coquetel, a primeira turma da Escola Ciclus, formada por trabalhadores da limpeza urbana de Belém, celebrou sua formatura nesta terça-feira (29), em cerimônia realizada no auditório do Senai. Promovido pela Ciclus Amazônia, empresa responsável pela gestão de resíduos sólidos da capital paraense, o evento reuniu autoridades, familiares e convidados em uma noite marcada pela emoção e pelo sentimento de conquista.

A formação teve início em novembro de 2024 com duas turmas compostas por 25 funcionários cada. As aulas foram direcionadas a profissionais que atuam em funções como varrição, coleta, roçagem e raspagem. Ao todo, 45 dos 50 inscritos concluíram o curso — 30 homens e 15 mulheres —, com média de idade de 43 anos e, em sua maioria, com escolaridade abaixo do ensino fundamental.

Entre os concluintes, 40% já se inscreveram para o ENCCEJA (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos), em busca da certificação oficial dos estudos. Além disso, seis formandos são imigrantes venezuelanos, o que reforça o caráter inclusivo da iniciativa.

O diretor-presidente da Ciclus Ambiental, Bruno Muehlbauer, avalia o impacto social do programa educacional da empresa como extremamente positivo, não apenas para os colaboradores, mas também para as famílias. Segundo ele, a iniciativa promove a inclusão social ao proporcionar aos trabalhadores uma ferramenta crucial tanto para o ambiente de trabalho quanto para a vida cotidiana. “Nada mais relacionado à inclusão social, à facilidade de se defender frente ao mundo do que ser alfabetizado, saber ler, saber interpretar um texto, saber se escrever e se expressar de forma correta", destaca.

Escola Ciclus leva capacitação em áreas como português e matemática

Segundo estimativa da empresa, cerca de 400 profissionais da limpeza em Belém ainda não concluíram o ensino fundamental ou são analfabetos funcionais. Nesse cenário, a Escola Ciclus tem como objetivo reduzir essa lacuna de aprendizado e ampliar as oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional para quem participa.

Durante quatro meses, os alunos assistiram a aulas presenciais duas vezes por semana, com foco em Matemática, Linguagens e Habilidades Socioemocionais. O conteúdo foi aplicado com apoio da plataforma Alicerce Educação, que utiliza metodologias voltadas ao aprendizado prático e acessível. Os alunos também receberam kits escolares para acompanhar as atividades.

Além do corpo docente, o projeto contou com o apoio de quatro “embaixadores” — funcionários de outras áreas da Ciclus que atuaram como mentores e motivadores dos alunos.

Voltar a estudar abre caminhos e renova a autoestima dos formandos

Em meio às falas, a superação pessoal de muitos trabalhadores ganha destaque, que agora veem a educação como uma porta aberta para novas oportunidades.

Fátima Silva, de 50 anos, formada no programa educacional da Ciclus, celebrou a oportunidade como uma experiência única em sua trajetória. Com o ensino médio já concluído, ela viu no curso uma chance de atualização e crescimento pessoal, especialmente por estar sempre se preparando para concursos públicos. “Sempre tá mudando, entendeu?”, explica, ao destacar a importância de acompanhar as transformações constantes do mundo do conhecimento.

Apesar de já ter vontade de continuar os estudos antes, as limitações financeiras e a falta de tempo foram obstáculos. Agora, ela acredita que essa formação pode abrir novas portas. “O aprendizado nunca é demais”, diz, confiante de que a experiência pode motivá-la a buscar outros cursos e oportunidades no mercado de trabalho.

Já Elinelson de Oliveira, 29 anos, comemora a chance de voltar a estudar por meio do programa educacional da Ciclus. Ajudante de serviços gerais, ele conta que não conseguiu concluir os estudos na infância por falta de oportunidades. “Tinha escola, só que a gente teve que trabalhar... minha mãe não tinha condições de cuidar de cinco filhos”, lembra. A necessidade de contribuir com o sustento da família o afastou da sala de aula, mas agora, com o incentivo da empresa, ele está retomando a trajetória interrompida. Para ele, além da realização pessoal, a formação representa a possibilidade de crescer profissionalmente e, sobretudo, deixar um legado: “Um dia dar um futuro também para minha filha, ensinar ela o que eu aprendi na escola”.

Aos 61 anos, Diva Marcolino Silva celebra com emoção a transformação que a oportunidade de estudar trouxe para a vida. Antes com apenas a segunda série do primário, Diva destaca que recebeu aprendizados valiosos para a autonomia dela. Agora, orgulhosa, diz que já conhece as vogais, números, a cartilha do ABC e consegue assinar o próprio nome. “Se você me der um endereço, eu já vou sozinha”, conta, cheia de gratidão. Para ela, o programa da Ciclus foi “tudo de bom” e representa um recomeço com mais autonomia e dignidade.

Projeto vai se expandir no futuro

A partir dos resultados e o engajamento dos colaboradores, a empresa abrirá uma nova turma no segundo semestre e tem planos de expandir o projeto com outros cursos.

"Nosso objetivo é já na sequência organizar e prosseguir com novas turmas, enquanto houverem funcionários interessados e com essa dificuldade. E, depois de vencido esse programa de alfabetização, continuar com outras matérias e outros cursos para cada vez mais capacitar as nossas pessoas, porque esse é um valor do grupo e algo que a gente respeita muito", afirma Muehlbauer.

Empresa também comemora um ano de atuação em Belém

A formatura da primeira turma do programa educacional da Ciclus ocorre em um momento simbólico, coincidindo com o aniversário de um ano de operações da Ciclus Amazônia em Belém. Durante esse período, a empresa já coletou mais de 600 mil toneladas de resíduos e percorreu cerca de 130 mil quilômetros em ações de varrição e roçagem, além de ter implantado o Ecoponto São Joaquim.

Para o diretor-presidente, a coincidência entre a formatura e o aniversário da empresa tem um significado importante. " Um momento muito especial de estar comemorando, além do um ano de trabalho aqui em Belém, mas também algo extremamente valioso, que é a formatura dessas pessoas que contribuíram para esse processo ao longo de um ano", pontua.

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