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"Telemedicina" estabelece novas formas de contato entre médico e paciente

Várias modalidades de atendimento e gestão de saúde foram regulamentadas, mas ainda há muita discussão em todo o País

Victor Furtado

Desde que as redes sociais digitais se tornaram parte da rotina de muita gente, a relação entre médicos e pacientes começou a mudar. Muita gente passou a tentar agilizar o contato com o profissional por aplicativos. Apesar de que essa prática, por muito tempo, não tinha qualquer previsão legal.

Somente a partir do dia 6 de fevereiro deste ano o Conselho Federal de Medicina (CFM) deu um direcionamento legal para que esse tipo de atendimento a distância ocorra com a publicação da resolução 2.227/2018. E ainda regulamentou outras práticas que representam um avanço tecnológico da Medicina. Mas as regras não facilitam e nem estimulam uma consulta por WhatsApp, por exemplo.

Em todo o Brasil, entidades de classe estão discutindo como as mudanças afetam a prática médica no País. O Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA) fará mais uma discussão sobre o tema nesta quinta-feira (21), às 20h, na sede da entidade. De maneira geral, a resolução tem sido bem aceita. Mas muitos profissionais acreditam ser necessário mais debate e esclarecimento sobre como lidar com os novos procedimentos agora regulamentados.

"Só após esse terceiro debate é que a sociedade médica paraense vai se posicionar sobre essa regulamentação do CFM", disse Manoel Walber, presidente do CRM-PA. O texto do CFM precisou de vários esclarecimentos e sofreu diversos ataques. Por isso segue sob análise em todo o País. No dia 7 deste mês, o CFM promoveu o segundo Fórum de Telemedicina.

 


 

Pela resolução do CFM, agora existem novas modalidades de atendimento e assistência: teleconsulta, telediagnóstico, teleinterconsulta, telecirurgia, teletriagem, teleorientação, teleconsultoria e telemonitoramento. Todas elas resultam de pesquisas e debates realizados ao longo de dois anos. Mas ainda assim, todas as novas regras seguirão em análise e passarão por ajustes, caso necessário.

TELECONSULTA

A teleconsulta permite a mediação tecnológica entre médico e paciente. Nesse caso cabe uma orientação profissional via WhastApp, Skype Facebook ou qualquer outro aplicativo. Porém, a primeira consulta sempre deverá ser presencial. O atendimento a distância só será permitido em casos de menor gravidade, para orientações simples. Esse recurso jamais substituirá a consulta presencial.

Caso a teleconsulta seja para áreas remotas ou de difícil acesso, será necessária a presença de um profissional de saúde dando suporte durante a consulta. E se for um acompanhamento de uma doença crônica, grave ou de longa duração, a cada 120 dias deverá ser feita uma consulta presencial.

Receitas prescritas por teleconsulta precisarão, além de todos os dados contantes de uma receita padrão, ter assinatura digital. Todos os atendimentos a distância precisam ser gravados ou registrados de alguma forma e ficarem disponíveis ao paciente. Esses dados precisam ser preservados sob o respeito ao sigilo médico.

 


TELEDIAGNÓSTICO  E TELEINTERCONSULTA

O telediagnóstico é quando o médico emite laudos, prescrições, pareceres de exames e outros documentos de diagnóstico por meios digitais.

A teleinterconsulta é uma troca de informações, que pode ter ou não a presença do paciente. Serve para melhorar diagnósticos, tratamentos e ampliar opiniões para melhor atender determinado caso.

TELETRIAGEM E TELECIRURGIA

Com a teletriagem, é possível que o médico já analise sintomas e informações iniciais do paciente para encaminhá-lo ao atendimento específico para o caso.

Telecirurgia é um procedimento mais moderno, no qual um cirurgião pode operar por meio de um sistema robô. Mas isso só será possível se houver um médico, de igual habilitação e especialidade presente no procedimento. Pode servir quando necessária a técnica ou habilidade específica de um profissional que está longe.

Para que a telecirurgia ocorra, é necessário ter suporte para evitar que quedas de energia acabem interrompendo o procedimento. E essa modalidade deve ser um caso muito mais extremo e específico. O recomendável continua sendo a cirurgia presencial.

TELEMONITORAMENTO, TELECONSULTORIA E TELEORIENTAÇÃO

Caso seja necessário um acompanhamento constante de determinado grupo ou situação, o telemonitoramento será uma forma de o médico manter contato com os pacientes. Poderão ser feitas avaliações mais simples, para evitar a ida de um médico a determinado local. Mas caso necessário, é óbvio que o profissional deve se dirigir aonde está o paciente.

A teleconsultoria é uma espécie de troca de informações sobre ações e planejamentos de saúde, para formação de estratégias de atendimento ou discussão de informações relevantes. A teleorientação pode substituir o exame médico admissional ou demissional, por exemplo.

OPINIÃO DE QUEM JÁ VIVE COM A DEMANDA

O médico Mário Albuquerque, especialista em Medicina da Família, tem perfis no Instagram e no Facebook. E pelas redes sociais digitais, diz ele, costuma receber muitos contatos de quem já quer se consultar online. Recebe fotos e pedidos de orientação. Até então, ele sempre orientava sobre o caminho correto para o atendimento. Achou que as inovações trazidas pela resolução 2.227/2018 do CFM são avanços, mas precisam de discussão, orientação, controle e fiscalização.

 


"Precisamos ver essas inovações e aproveitar. Até porque desde que as redes sociais começaram, essa demanda existe. Mas o texto da resolução precisa ser aperfeiçoado. Algo bom é que já é claro que a primeira consulta precisa ser presencial. E que fique claro também que uma consulta a distância nunca será melhor e mais segura que uma consulta presencial. Para locais de difícil, no entanto, é bem interessante", comenta o médico.

Mário garante que todo médico com alguma rede social ou aplicativo de mensagem já passou por isso. E já se viu alvo de críticas quando se negou a fazer um atendimento a distância. "As pessoas até pensam que é má-vontade, mas não é. Não é tão simples assim. Não há como fazer uma avaliação segura por uma foto ou mesmo um vídeo. Uma orientação sobre qual médico procurar, até vai e é importante. Mas prescrever ou examinar, não", comenta.

Para o médico, em todas as especialidades cabe atendimento a distância. Mas cada caso é específico. "O profissional precisa estar seguro de que não há risco", conclui.

Belém