TDAH: sintomas; testes para autodiagnóstico on-line apresentam riscos, alertam especialistas
Se autodiagnosticar pode trazer efeitos negativos, como diagnóstico incorreto e sofrimento psíquico
Se autodiagnosticar pode trazer efeitos negativos, como diagnóstico incorreto e sofrimento psíquico
Com o fácil acesso à internet, muitos jovens estão recorrendo a fontes online para se informar sobre algumas condições como Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Testes on-line para identificar TDAH, trends no Tik Tok e criadores de conteúdo disseminando informações relacionadas ao transtorno acendem um alerta para os riscos à saúde. Além disso, o autodiagnóstico para autismo e outros distúrbios também têm ganhado espaço nos meios digitais. No entanto, essa prática pode apresentar sérios danos ao bem-estar dos indivíduos envolvidos.
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Em meio a esses riscos, a psicóloga pontua que é importante tomar alguns cuidados diante de tantas informações na internet. De acordo com Rafaela, uma das medidas pode ser “filtrar este tipo de conteúdo”. “Em psicopatologia, dizemos, de forma lúdica, que todo mundo tem algum sintoma de todas as patologias que estudamos, mas que, apresentar um transtorno é algo de outra ordem: trata-se de grupos de sintomas. E tem vários critérios de análise para isso que está atrapalhando a vida do sujeito”, afirma Rafaela.
Para conscientizar a população, o Conselho Regional de Psicologia do Pará e Amapá (CRP - PA e AP) atua orientando sobre a importância de buscar profissionais capacitados teórica e tecnicamente para um diagnóstico adequado. A psicóloga técnica da Comissão de Ética do CRP Saiumy Verbicaro explica, também, que o órgão orienta os profissionais da área para não reforçarem a conduta que é observada na internet. Isso porque qualquer direcionamento de forma equivocada pode repercutir de forma negativa nos indivíduos.
“O CRP também reforça a importância dos psicólogos não apoiarem ou incentivarem o autodiagnóstico em redes sociais e, em casos de divulgações irresponsáveis de informações, o conselho toma as providências cabíveis, como a orientação ou notificação do profissional sobre as irregularidades, podendo incorrer até na abertura de um processo disciplinar ético. A orientação é que a população busque profissionais que possuam qualificação teórica e técnica para avaliação desses transtornos, que realizem uma avaliação psicológico”, frisa.
As implicações da autoavaliação podem ser vistas em diversos aspectos, como lembra Saiumy: ”O autodiagnóstico pode levar a diagnósticos incorretos, tratamentos inadequados ou desnecessários, além de automedicação, o que pode ser perigoso e ineficaz. Também pode resultar no adiamento do tratamento adequado e trazer impacto emocional, gerando ansiedade, estresse e outros problemas emocionais devido à preocupação com um possível diagnóstico. A avaliação de um profissional é fundamental para compreender a complexidade de cada caso”, diz Saiumy.
Demandado para saber como atuam diante desses casos de autodiagnóstico, o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) informou à Redação Integrada de O Liberal que, até o momento, não possuem denúncias registradas sobre esses casos. “Checamos junto as Promotorias de Justiça relacionadas ao tema e não há nenhuma denúncia a esses diagnósticos”, informou o MP.
O estudante Sérgio Manoel, de 21 anos, foi diagnosticado com TDAH ainda no início da adolescência, aos 12 anos. A partir daí, o jovem passou a realizar um acompanhamento com profissionais para realizar o tratamento adequado. Apesar da infinidade de informações na internet sobre o TDAH, atualmente, ele comenta que não consome esses conteúdos. Tudo o que ele sabe sobre o transtorno foi aprendido durante orientação médica.
“Fui diagnosticado aos 12 anos com TDAH e o caminho até a descoberta se deu por causa da minha concentração em sala de aula que era bem crítica. As professoras da época notavam o meu comportamento que seria um pouco diferente do restante da turma e resolveu chamar minha mãe pra uma conversa particular, que levou a uma consulta e acabou com o diagnóstico formal da condição”, descreve.
O jovem lembra como foi o processo de acompanhamento médico: “Fui assistido por psiquiatra, neuropsicóloga e psicóloga. Todos eles me ajudaram de maneira específica, mas todos trabalharam em complemento ao outro. A importância [do acompanhamento] se dá pelo fato de que é a partir de um acompanhamento profissional que o portador consegue manobrar os sintomas e adquirir mais qualidade e produtividade de vida. Sem isso, as chances de conseguir sozinho são poucas”, relata Sérgio.
O que é: é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida.
Sintomas: falta de atenção, inquietação e impulsividade
*Fonte: Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA)
(Gabriel Pires, estagiário, sob a supervisão de João Thiago Dias, coordenador do Núcleo de Atualidades)