Realização de eventos no Novo Mangueirão causa transtornos no trânsito da capital
Em dias de clássico há congestionamentos e lentidão na chegada e saída do estádio; moradores se queixam dos impactos causados pelo volume de veículos
Após a realização de quatro eventos, entre os quais o clássico RexPa, uma das principais reclamações a respeito do Novo Mangueirão é o trânsito. E, em dias de jogos, verifica-se o colapso das vias de acesso ao estádio, o que impacta, também, a vida de quem mora no entorno do “Mangueirão”. E, nesses eventos, a estação do BRT vem sendo fechada, o que complica ainda mais a vida da população.
Segundo o governo do Estado, o “gigantismo” do Novo Mangueirão é comprovado com números. Na área externa, antes da reconstrução, o estacionamento comportava pouco mais de dois mil veículos. Agora, o número saltou para cerca de sete mil vagas, garantindo mais conforto e segurança para quem frequenta o estádio em dias de eventos.
Os eventos esportivos realizados no estádio olímpico, como o clássico RexPa do domingo, dia 9 deste mês, passam a ter um número maior de espectadores. Antes eram 30 mil lugares. Agora são 50 mil.
“Rapaz, fica muito engarrafado, apertado aqui”, disse Raimundo Carlos, conhecido como Raimundo Maradona, 66 anos. Ele mora na Transmangueirão com a rua Chico Mendes, que fica perto do estádio. “Não dá nem para passar de bicicleta.
Os moradores têm dificuldades para passar”, afirmou. Morando na mesma área, Rubens Ferreira Barros, conhecido como “Madrugada”, 77 anos, também reforçou a análise feita por Raimundo. E disse que, em dias de jogo, há muito engarrafamento e lentidão no trânsito.
O professor Everaldo Holanda, 49 anos, disse que, nos dias de jogo, “é um horror”. Além do caos no trânsito, há o foguetório que incomoda os moradores, sobretudo as pessoas idosas e doentes. “A minha mãe tem 85 anos. Ela tem princípio de Alzheimer e sofre com ansiedade. E associa os fogos às festas de fim de ano”, disse. Everaldo afirmou que também é importante a participação efetiva dos agentes de trânsito. “Quando mais a gente precisa, eles não estão aí”, disse.
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"A vida dos torcedores é importante. Mas a dos moradores também é”, diz costureira
A costureira Francimeire Silva, 50 anos, afirmou que o trânsito fica tão complicado que é difícil socorrer uma pessoa que tenha um problema de saúde durante esses eventos. “Eles mudam o fluxo (na Transmangueirão. Antes do jogo, o fluxo só desce. Depois do jogo, só sobe. Essa aqui é uma via de mão dupla. As pessoas estão acostumadas com esse tipo de trânsito. Aí, eles modificam dessa maneira. E se alguém passa mal durante o jogo? Como a pessoa sai?”, questionou. Ainda segundo Francimeire, a vida dos torcedores é importante. Mas a dos moradores também ", completou.
Mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Renato da Silva Maciel disse que a infraestrutura disponibilizada para se acessar o Mangueirão é um fator limitante. “Apenas a avenida Augusto Montenegro e a rodovia dos Trabalhadores, sendo esta última com capacidade para duas faixas e uma péssima estrutura para os pedestres”, afirmou.
Para uma eficácia no acesso aos eventos de grande aglomeração de público precisaria de um planejamento integrado entre os clubes e o poder público. “Por exemplo: hoje os ingressos são setorizados por tipos de acessos, mas poderiam também ser divididos por horários de acesso. E, para isso, os clubes poderiam incentivar os torcedores a atender o horário de entrada especificado no ingresso com promoções, seja cashback (livre tradução para dinheiro de volta), seja com premiações ao longo do evento”, afirmou.
Analista em Infraestrutura de transportes do DNIT/PA, Renato da Silva Maciel disse que as operações de trânsito estão sendo implementadas na medida do possível pelos órgãos competentes, utilizando inclusive reversão de trânsito como no acesso pela Rodovia dos Trabalhadores.
“Mas não conseguem controlar o volume do público em um pequeno intervalo de tempo, fato que ocorreu no último jogo no Mangueirão”, disse. Além desse planejamento que envolve os clubes e o poder público, ele afirmou que é preciso massificar a educação junto aos torcedores em prol de paz e segurança nos estádios.
Em nota, a Secretaria de Estado de Esporte e Lazer Seel informou que o trânsito é de responsabilidade da Semob, que atua em parceria com o Detran e a Secretaria de Esporte e Lazer. “Novas medidas de reordenamento do trânsito já estão sendo avaliadas para melhor fluidez, tanto na chegada quanto no retorno dos torcedores. A secretaria enfatiza que os portões do estádio abrem 3 horas antes de iniciarem as partidas, e reforça sobre a importância de chegar cedo, para evitar tumultos e transtornos", destacou.
Ao longo da semana, a Redação Integrada pediu um posicionamento da Superintendência de Mobilidade Urbana de Belém (Semob). Até o fechamento desta edição, não houve retorno.