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Projeto que prevê rebaixamento de plataforma do Ver-O-Peso divide opiniões

Trabalhadores debatem se nivelamento do piso será benéfico ou não para quem trabalha e compra na feira

Dilson Pimentel

A possibilidade de rebaixamento da plataforma onde se localizam as barracas de venda de maniva e artesanato, prevista no projeto de reforma do Ver-O-Peso, não agradou os feirantes, que na semana passada participaram de reuniões promovidas pela Prefeitura de Belém para disseminar a ideia.

Luciano Gomes, de 42 anos, que vende maniva cozida e crua, coco rolado e macaxeira há mais 30 anos, disse ter gostado da proposta porque melhora os equipamentos usados pelos trabalhadores e torna o espaço mais higiênico, mas discordou da ideia de nivelamento do piso da feira. “Não gostei por causa da maré alta”, explicou. “Vai invadir a feira”. Segundo ele, a plataforma eleva em dois metros a altura, em relação ao restante do piso. 

No piso elevado também trabalha o vendedor de artesanato Josias da Silva, de 43 anos, que tem 10 anos de feira. “O projeto foi uma melhoria pra gente”, opinou. “Mas não concordamos com a retirada da plataforma, que eles falaram que vão rebaixar. Pra qualquer feirante vai ser uma coisa ruim. Quando vier a maré alta, vai encher tudo”, afirmou. Para Josias, o piso elevado funciona como uma espécie de barreira de contenção da água.

Luciano informou que o prazo para o início das obras é, no máximo, agosto deste ano, de acordo com informação da própria prefeitura, que espera a liberação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O que também preocupa Josias é o local para onde serão remanejados os vendedores de artesanato. “Isso é uma coisa que a gente pergunta e eles só falam que primeiro vai ser feito o projeto e depois vão ver o local”, explicou. Na opinião dele, não há na área um local para suportar todo mundo. “Nem a metade. Hoje, no setor do artesanato, são 16 barracas. Eles querem colocar 20”, diz.

 

 

 

 

Roseane Gomes, de 44 anos, vende refeições na feira há 25. Ela afirma ter gostado do projeto porque vai permitir aumentar o espaço de sua banca. Quando começar a obra, os trabalhadores serão deslocados para o estacionamento da feira, mas retornarão a seus lugares de origem em seguida. Roseane interpreta de outra forma o possível rebaixamento da plataforma e considera como uma melhoria para todos. “Tem muitos consumidores que ficam lá em cima e não descem. Se ficar tudo igual eles vão andar pela feira”, afirmou. Para ela, a plataforma é responsável pela quebra da circulação de vento, deixando a feira quente e abafada, embora esteja à margem da Baía do Guajará.

Barracas serão aumentadas e banheiros terão chuveiros

Nos encontros realizados com os feirantes, técnicos das secretarias municipais de Economia (Secon) e Urbanismo (Seurb) e arquitetos do escritório contratado pela Prefeitura de Belém para elaborar o projeto apresentaram as alterações solicitadas pelos trabalhadores em reuniões anteriores. O primeiro grupo foi composto por comerciantes que atuam na venda de hortifrutis e industrializados. O encontro aconteceu no auditório do Mercado de Carne Francisco Bolonha, entre os dias 14 e 16 de maio. O formato foi definido pelo prefeito Zenaldo Coutinho em audiência pública realizada no dia 23 de abril.

Uma das mudanças se refere ao Setor 1, destinado aos industrializados (ferragens, confecções e importados), onde as barracas serão maiores, passando de 1,95 para 4 metros quadrados, incluindo nova disposição interna de prateleiras e expositores. No Setor 2, destinados aos hortifrutigranjeiros (legumes, frutas e animais vivos), as barracas terão o dobro do tamanho atual, com prateleiras recuadas e inclinadas, organizando as frutas em pirâmide, e incluindo lavatório e balança.

A reforma prevê corredores de até três metros de largura e um corredor principal com seis metros. Todos serão sinalizados para facilitar o fluxo de consumidores e garantir mais segurança. Também serão instalados banheiros com boxes para banho e 80 contêineres para acondicionamento de lixo até o momento da coleta.

O secretário de Economia, Rosivaldo Batista, considerou que houve avanço no atendimento das necessidades de quem trabalha na feira. “Todos foram ouvidos”, disse ele. O projeto também foi apresentado aos setores de mercearia, refeições, artesanato, ervas, aves e tucupi. Na última sexta-feira (17), a prefeitura informou que, mediante os recursos assegurados e assim que o projeto for aprovado por todos os interessados, serão iniciados os trâmites licitatórios e as obras.

 

 

 

 

Uso do Mercado de Carne preocupa Ministério Público

O uso dos espaços do Mercado de Carne, um dos prédios mais antigos do Ver-O-Peso, reformado desde 2015 e com várias salas ociosas, é uma das preocupações demonstradas pelo Ministério Público Federal em recomendação enviada à Prefeitura de Belém no dia 24 de abril. As observações resultaram de visita feita ao local pela equipe do MPF.

O documento já sugeria reuniões para apresentação do projeto básico da reforma a todos os feirantes, de maneira setorial, respeitando a organização interna dos trabalhadores. Ainda segundo o MPF, representantes dos trabalhadores da feira reivindicam que a prefeitura destine os espaços do Mercado de Ferro para uso das associações que atuam no local.

A recomendação, assinada pela procuradora da República Nathália Mariel, deu prazo de 40 dias para que as exigências fossem cumpridas, inclusive junto a setores que, mesmo não trabalhando diretamente no complexo, dele dependem para sobreviver ou com ele se relacionam, como camelôs, ribeirinhos, lojistas do comércio e associações civis de apoio e defesa do mercado, e lembrou que seu cumprimento aceleraria o início da reforma, com as devidas adequações.

O texto também notifica a prefeitura de que “as observações decorrentes das apresentações deveriam ser registradas em ata, com o registro inclusive dos questionamentos feitos, em especial dos espaços que não estão contemplados no projeto básico”.

Belém