MENU

BUSCA

Projeto Plantio da Memória homenageia vítimas da covid-19 em Belém

25 pessoas que tiveram as histórias abreviadas pela pandemia têm a memória preservada com árvores na área do Portal da Amazônia

Josiele Soeiro, especial para O Liberal

As histórias de 25 pessoas que tiveram a vida ceifada pela covid-19, em Belém, serão preservadas com árvores. Nesta quarta-feira (23), a Prefeitura de Belém lançou o projeto Plantio da Memória, numa das praças da área do Portal da Amazônia. Um culto ecumênico marcou o evento, junto com o plantio das mudas que eram acompanhadas dos nomes de pessoas queridas dos moradores da área.

Com a mão suja de terra e uma garrafa de água na mão, o autônomo Evandro da Costa Lobato, 55 anos,  explica emocionado a melhor técnica que conhece para plantar uma muda de pau preto.  “Primeiro você molha a terra, antes de plantar, que é pra planta vingar. Vou fazer tudo que puder pra cuidar bem dela, porque não é só uma planta, é uma lembrança viva do meu pai. Todo dia ao sair de casa virei aqui cuidar dele”.


A ação é uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Belém, por meio do Programa de Educação Ambiental e Sanitária (PEAS), do Projeto Social do Programa de Saneamento da Bacia da Estrada Nova (Promaben). Participam a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) e Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa). 

A cada nome chamado durante a solenidade, lágrimas emocionadas e cheias de lembranças dos entes queridos, como as da cuidadora de idosos Maria da Conceição Vale do Nascimento, 59 anos. Ela perdeu a mãe e o tio para a doença. “Meu coração está acelerado e muito emocionada, mas é muito gratificante pra mim uma planta que vai se transformar em árvore porque vou cuidar dela, assim como cuidei da minha mãe em vida. Tenho muita saudade, ela faz uma falta enorme, mas estou sendo consolada por Deus e vamos levando. A saudade vai ficar, mas eu vou ver ela aqui, por meio dessa planta”, conta.

Cada árvore plantada carrega uma placa com um nome, uma memória e uma história de vítimas da pandemia. O músico Washington Júnior perdeu o pai há três meses e também se emocionou com a homenagem. ”Meu pai era bastante conhecido por aqui pelo nome de Joca. Nasceu e se criou aqui. Este está sendo um momento feliz e triste ao mesmo tempo. A gente nunca quer perder ninguém, mas acabamos perdendo muitos amigos e familiares durante a pandemia. Acredito que todos eles estão sendo muito bem representados pela iniciativa e vamos procurar cuidar ao máximo dessa planta, com todo carinho porque a saudade dói demais. Pra mim, essa iniciativa é de suma importância porque mantém viva essa memória. A gente vai sempre passar por aqui e nunca esquecer”, considera o músico.

Rodrigo Rodrigues, coordenador-geral do Promaben, disse que a ação deverá se estender a outros pontos da cidade, em breve. “É um projeto piloto. Vamos também estender a outras áreas, outras praças de Belém. Aqui são 25 pessoas que vieram a óbito em meio a mais de 500 mil óbitos registrados em nosso país e é aquele momento da gente tentar fazer uma reconexão e o Promaben tem uma característica ambiental forte, uma linha de conscientização ambiental. Através desse sentimento de perda, a gente tentar associar isso à vida, através da natureza e do meio ambiente; dar a isso algo que seja um alento, um ato de cuidar da natureza, um ato de cuidar de uma árvore. É um dia emocionante e é difícil falar em meio a todo esse cenário onde todos nós, com certeza, perdemos alguém próximo, algum conhecido ou familiar. E a ideia é fazer com que essas famílias se sintam abraçadas”, destacou.

Belém