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Pessoas que não bebem contam como é viver numa sociedade que consome álcool de forma cultural

Quem se abstém de consumir bebidas alcoólicas, costuma ouvir piadas que costumam ser desconfortáveis. E algumas motivações têm histórias tristes por trás.

Dilson Pimentel

Estar em uma mesa de bar e ouvir, dos amigos, que não era uma pessoa “confiável” por não estar consumindo bebida alcoólica. Essa experiência foi vivida pelo advogado Antônio do Nascimento Júnior, de 26 anos. Ele começou a beber aos 13 anos. Consumia cerveja e vinho. Bebia todo final de semana, como ele lembra que um dia foi. Parou de beber aos 24 anos. Reportagem publicada na edição do último domingo (6) mostrou que o Brasil é o terceiro país que mais consome cerveja no mundo e falou dos efeitos do álcool no organismo da pessoa. Esta é a segunda parte da reportagem.

O álcool era o refúgio de Antônio do Nascimento. Por causa da depressão, passou a beber ainda mais. Certa vez, depois de beber muito em uma quinta-feira, passou mal na sexta-feira. No sábado, a angústia atingiu o ápice: pensou em tirar a própria vida. Foi quando decidiu parar de beber. Ele contou que, a partir do momento em que “conheceu Cristo” e a Igreja, em 2019, passou a ver o consumo de álcool como algo que não tinha mais nada a ver com esse novo momento da vida dele. Àquela altura, tomava remédio e tinha o acompanhamento de psicólogo e psiquiatra, mas não seguia as orientações desses profissionais.

As amizades que perdeu ele as chama de “amizades etílicas” – ou os “amigos de bar”. Hoje em dia, o advogado não vai mais para os bares com os amigos. Vai para aniversários e casamentos. Os amigos bebem, mas ele não. E ainda ajuda os amigos que passam mal por causa do consumo exagerado de cerveja. “Todo mundo bebendo e eu tranquilo”, conta.

Naquela época, diz o advogado, a mente tinha de estar entorpecida para que, assim, pudesse alcançar uma ideia de felicidade. “Mas era uma busca pelo afago da dor. Um afago para os problemas, para proporcionar um pouco de felicidade”, disse.  Às pessoas que estão enfrentando problemas com dependência ao álcool, ele recomenda que busquem ajuda profissional. E caso tenha crença, espiritual também.

Professor de crossfit foi chamado de "careta" pelos amigos

O professor de crossfit Wilson da Silva Santos Neto, de 26 anos, já foi chamado de “careta” pelos amigos por não consumir bebida alcoólica. Os pais dele tiveram problemas com álcool e drogas antes de ele nascer. “Depois que a minha mãe engravidou de mim, ela decidiu parar de usar droga e parar de beber e fumar”, disse. “Eu nasci e eles tiveram ajuda de um programa de Narcóticos Anônimos, assim como o AA, e foram seguindo os 12 passos do programa. E conseguiram se livrar do álcool e drogas”, afirmou.

Wilson foi criado indo para essas reuniões. “Eu sempre tive essa visão do álcool e da droga ser algo muito ruim, de que o álcool destrói a família. Eram os depoimentos que eu escutava nas reuniões em que eu estava. Eram as pessoas que eu via chegando e que tinham perdido tudo para o álcool e para as drogas. Essas pessoas sempre frequentaram a minha casa”, afirmou.

Quando ele completou 15 anos, os pais abriram uma clínica para internar pessoas que tinham problemas de álcool e droga. É a clínica terapêutica “Laços que nos unem”. Aos 16 anos, Wilson via chegar à clínica muita gente com família destruída, casos e casos de pessoas que foram perdendo tudo para o álcool e para a droga. “Eu não consigo ter a visão da pessoa que toma a sua cervejinha, tem seu emprego e curte sua vida de boa. É que as experiências que eu vivi foram de pessoas que perderam tudo, não conseguiam ter emprego, não conseguiam se relacionar com outras pessoas, que tinham mesmo problema com álcool e droga”, contou.

Na faculdade de Educação Física, o TCC dele foi sobre esse tema. “Fiz um estudo de caso em uma clínica que atendia dependentes químicos. O objetivo do meu TCC foi o de mostrar como a atividade física poderia ajudar na saúde das pessoas que têm problema com droga. A atividade física combate ansiedade, depressão (consequência do uso de droga e álcool), traz bem-estar”, disse.

“Conforme fui crescendo, fui vivendo com tudo isso ao meu redor e meus pais sempre me mostraram, que é até mesmo o que o programa que diz, que existe uma nova maneira de viver, se divertir, conseguir se relacionar, socializar sem usar álcool e drogas, conseguir ter um relacionamento, ter uma família, ter amigos e ser feliz”, concluiu Wilson.

 

Saiba onde buscar apoio para lidar com o alcoolismo

O serviço público de saúde estadual oferece uma rede especializada de tratamento de dependentes químicos nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS-AD).

A porta de entrada é sempre a atenção primária - as Unidades Básicas de Saúde (UBS) -, onde são feitos os encaminhamentos para os CAPS. Nesses, ocorrem o acolhimento e a avaliação do quadro do paciente, e são oferecidos serviços de tratamento medicamentoso, terapia ocupacional e acompanhamento psicológico e psiquiátrico. 

Se a situação for emergencial, com o paciente em "surto", é possível buscar auxílio no CAPS AD lll - Marajoara, no Conjunto Gleba I, no bairro da Marambaia, em Belém, ou na Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, ambos portas abertas para esse tipo de urgência médica. Nesses casos, o paciente recebe a assistência adequada, sendo liberado assim que o quadro estiver controlado, podendo ser uma situação rápida ou que necessite de internação. Ambas ficam condicionadas à condição clínica do paciente.

Alcoólicos Anônimos - Belém

Endereço: Avenida José Bonifácio, n⁰ 546 - Altos, São Brás, em frente ao Mercado de São Brás e ao lado da loja de materiais de construção.

Telefone: (91) 3249-1666

Horário: 8 às 18 horas, de segunda a sexta; das 8h às 12h, no sábado. Não há expediente no domingo.

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