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Parassocialidade: entenda a relação estabelecida nas redes sociais e como elas estão presentes

Pandemia intensificou o consumo de conteúdos criados por influenciadores e aumentou a discussão sobre o fenômeno de se sentir próximo dessas personalidades 

Camila Azevedo

O consumo de internet e de conteúdos produzidos no meio digital aumentou no mundo todo durante a pandemia da covid-19. Um levantamento recente realizado pela Associação Brasileira de Internet (Abranet) mostra que a média de uso da tecnologia passou de 3h41m para 6h44m por dia. Além disso, as compras virtuais realizadas no país tiveram salto de 71%, mantendo o nível acima da média global de 53%. Essas mudanças no comportamento devido a necessidade de adaptação ao período acendem um alerta, que envolve as relações estabelecidas entre quem produz e entre quem assiste as peças criadas para o virtual - o influencer e o influenciado: a parassocialidade.

O conceito não é novidade. Estudiosos já falavam do fenômeno dos ‘perfeitos desconhecidos’ em 1956, quando notaram a proximidade do público com os personagens fictícios de um programa televisivo. Na comunicação e na psicologia, a parassocialidade nasce do desejo de encontrar a pessoa que é famosa e admirada na vida real. A relação é descrita como sendo unilateral, ou seja, apenas um lado cria a ponte para o contato, que é ilusório, emocional e íntimo. É através da forma de pensar ou lidar com a situação que faz a diferença: a pessoa pode passar o dia inteiro pensando, mas apenas quando começa a sentir parte da vida do outro, sentindo as dores e as alegrias, é que o problema é criado.

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A perda da relação cara a cara e de qualquer outro tipo de conexão, a não ser a com o mundo virtual, deixou as relações parassociais mais fortes e únicas durante um longo tempo. Os artifícios usados nas redes sociais para que ninguém deixasse de lado os produtos e conteúdo intensificaram essa relação. “Na pandemia, isso ficou ainda mais forte com as lives, invadimos as casas, conversamos, as lives acabaram nos aproximando mais ainda de cantores se apresentando de pijama, dentro de casa. Durante a pandemia, a gente só colocou uma lente de aumento do que essas relações criam, tanto para o bem quanto para o mal”, destaca a professora.

Relações podem ser saudáveis

Tiane Melo, de 29 anos, mantém um perfil com mais de 116 mil seguidores nas redes sociais com conteúdos genuinamente paraenses: são frases e pensamentos compartilhados. A ideia surgiu como uma forma de passar o tempo durante os dias dentro de casa por conta do isolamento e ganhou um novo sentido quando ela descobriu o empreendedorismo local e feminino, dando um formato econômico para a marca. “Ele foi ganhando uma nova roupagem a partir dos seguidores que comecei a ganhar, eles me pediam memes, coisas sobre a pandemia e o Pará. O perfil foi criando essa identidade a partir dos seguidores e da demanda que me pediam. O empreender veio também através deles, que queriam blusas, canecas e ecobags com as frases que eu criava”, conta.

A demanda de mensagens é muito grande, mas Tiane não exita em manter o esforço para que cada seguidor seja correspondido e atendido. A relação ganha reciprocidade quando ela abre espaço para que as pessoas sejam criadoras de conteúdo e contribuam para o trabalho, que é orgânico e organizado de acordo com as vivências diárias. “Eu coloco no stories, a gente tem essa interação de responder, reagir. Eu sou próxima dos meus seguidores, então tem uns que se tornaram amigos. É uma relação bem legal”, aponta a influencer.

A relação estabelecida transcendeu a internet e a página da Tiane, virando amizade com a Carolina Pitágoras, professora de 39 anos. Ela começou a seguir o perfil da influencer e a se identificar com as postagens. Depois, ambas descobriram pontos em comum na história de cada uma e, então, houve a aproximação. “A gente se identifica. Trouxemos a amizade para fora da internet porque somos professoras da rede pública, trocamos muitas figurinhas em relação a isso. Aproveitando a lacuna no mercado de roupas para corpos gordos, eu chamei ela para um collab que veste o número 54 com as frases criadas. Aí, a gente trabalha essa questão do consumo consciente e empreendedorismo”, diz.

Belém