Parada LGBTI de Ananindeua é interrompida por arrastões e tumulto
Relatos de participantes da marcha dão conta de que pessoas infiltradas no meio da multidão promoveram as cenas de violência
Milhares de pessoas se reuniram para participar da 14ª edição da Parada LGBTI de Ananindeua, que percorreu o trajeto que vai da Praça da Bíblia à avenida Arterial 18, passando pela estrada da Providência, na tarde deste domingo (1º). O evento trouxe nesta edição o tema “50 anos de Stonewall - memória e resistência: cultivar o amor em tempos de ódio”.
A concentração começou na travessa SN 13, na Praça da Bíblia. Mas segundo informações de testemunhas, o evento precisou ser interrompido antes de chegar ao destino. Os trios elétricos que seguiam o percurso pararam em frente a uma faculdade na rua Providência, na Cidade Nova 8. Relatos dão conta de pessoas que seguiam junto com os participantes estariam promovendo arrastões e tumultos.
As ocorrências começaram a ser registradas quando a caminhada alcançava o complexo da Cidade Nova 8, área de lazer e esporte onde acontecia, na ocasião, um evento de uma congregação religiosa e onde estavam reunidas dezenas de pessoas que costumam frequentar principalmente as barracas de comidas que funcionam na extensão do logradouro.
A organização da 14ª edição da da Parada LGBTI de Ananindeua lamentou o incidente e disse que no ano que vem vai rever se mantém a marcha por conta da ausência de estrutura necessária para que o evento aconteça de forma segura para o público, estimado, segundo a Polícia Militar, entre oito e dez mil pessoas neste domingo.
O número real de participantes da marcha, segundo Beto Paes, um dos coordenadores, foi muito maior e isso pode ter sido o estopim do incidente. "O que aconteceu foi que a Secretaria de Segurança Pública (Segup) mais uma vez subestimou o quantitativo de público da programação. O ponto crítico aqui foi a falta de estrutura que não correspondeu ao que foi acordado na reunião que tivemos com todos os órgãos de segurança envolvidos na realização do evento. Lamentavelmente, no meio das pessoas que vêm aqui para celebrar os avanços que conquistamos, tem aquelas que já saem de casa mal intencionadas."
Participantes que seguiam junto aos trios alegaram que viaturas da Polícia Militar e da Força Nacional só começaram a chegar em número mais expressivo para auxiliar nas ocorrências após a denúncia dos assaltos e já na dispersão da multidão.
Beto Paes relatou que este já é o segundo ano consecutivo que esse tipo de situação acontece, mas a programação sempre chega ao fim. Desta vez, contudo, a organização achou melhor interromper para evitar que o incidente tomasse maiores proporções e chegasse a colocar em risco, inclusive, a segurança de pessoas que apenas observavam o evento ao longo do percurso, visto que o efetivo presente não teria condições de conter a ação dos infratores.
O secretário municipal de Segurança Pública de Ananindeua, Zezinho Lima, que acompanhou o evento e permaneceu até a dispersão, discordou da organização da parada e não atribui a interrupção da marcha ao contingente insuficiente de agentes de segurança. Ele argumentou que, além de ter havido um atraso no início da programação, outros fatores colaboraram para a situação. "Fizemos o possível para que o evento se realizasse da melhor maneira possível, mas, infelizmente houve esse incidente e a organização considerou que a melhor solução era interromper a programação para garantir a integridade dos participantes. É preciso levar em conta que se trata de um evento aberto e, com isso, fica difícil prever e conter situações dessa natureza."
O diretor operacional da Guarda Municipal de Ananindeua, GCM Alexandre Nascimento, informou que somente da corporação foram destacados 40 homens e mulheres para dar segurança aos participantes da Parada e que alguns, inclusive, estavam misturados à multidão, observando à paisana. A Polícia Militar também acompanhou a movimentação com viaturas e com o serviço de motopatrulhamento.
Segundo Zezinho Lima, a Prefeitura de Ananindeua continuará dando apoio à marcha LGBTI, mas pretende conversar com a organização sobre a possibilidade de realizar um evento 'in door', em um espaço amplo, porém, restrito a um determinado ponto para facilitar a atuação das forças de segurança e de forma a garantir maior tranquilidade aos participantes, bem como o respeito ao livre posicionamento da comunidade LGBT do município.
O secretário informou, ainda, que a Parada do Orgulho LGBTI deste ano contou com o apoio da Polícia Militar, Guarda Civil Municipal de Ananindeua, Departamento Municipal de Trânsito e Corpo de Bombeiros.