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Pai e padrasto criam como amigos o filho adolescente

Em nome da felicidade e do bem-estar de Daniel, hoje com 16 anos, Caesar Charone e Marco D'Angelo se tornaram grandes parceiros

Redação Integrada

Ressignificar relações. Foi exatamente isso o que o psicólogo clínico Caesar Charone e o gerente Marco Antonio D'Angelo fizeram questão de colocar em prática para a criação sadia do estudante Daniel Charone, de 16 anos. Respectivamente pai e padrasto do jovem, eles criaram uma relação de profundo respeito e admiração um pelo outro, o que já persiste há 13 anos, período que Marco está na vida de Daniel.

"Quando o Marco entrou na vida da Tati (ex-mulher), foi preocupação tanto minha quanto dela que eu o conhecesse, afinal ele estaria diretamente na vida do nosso filho; e deveria ser uma preocupação de todo pai ou mãe saber com quem seus filhos convivem, com quem se relacionam e como. A princípio a nossa aproximação foi acanhada. Eu também, até por uma questão profissional, sei o quanto o senso comum, impregnado em todos nós, poderia nos pôr numa condição defensiva. E qual foi minha surpresa ao perceber o temperamento e acolhida dele. Gradativamente fomos soltando nossas amarras condicionadas socialmente e possibilitando sermos quem somos" afirma Caesar, ao contar que "com o passar do tempo nossa relação foi se solidificando de maneira que ampliamos as relações entre as três famílias e assim nos transformamos numa grande família, sempre próxima, para o estranhamento de muitos".

Tati, a quem Caesar se refere, é a professora Tatiana Pacheco, com quem teve um relacionamento por pouco mais de uma década. Agora casada com Marco, ela conta que todos só têm a ganhar com o que foi construído. "A minha grande preocupação com o Caesar, quando a gente percebeu que a relação tinha acabado, era justamente o Daniel, dele se conduzir nessa história sem estar ferido. Eu acho que a primeira coisa, numa relação, é entender que quando acaba o casamento, as outras coisas não precisam acabar junto. A amizade que se construiu, o afeto, carinho, respeito" opina, explicando que "nunca foi imposto ao Daniel que o Marco seria o segundo pai, que seria pai substituto, que o Caesar seria o pai biológico que abandonou. Nunca! Nunca se falou em abandono, nunca se deu um viés ruim para essa história".

"Eu acho que isso ajudou muito, porque conduzimos da melhor forma possível". A relação entre Caesar e Marco foi tão bem construída, que foi Marco o responsável por apresentar a segunda esposa de Caesar. "Depois da Tati, tive outro casamento. Hoje já não estou mais casado, mas, curiosamente, na época, quem me apresentou a ex-mulher foi o Marco, que a conhecia das relações de trabalho. Por isso, ele foi convidado como padrinho do meu casamento", conta o pai de Daniel.

Marco diz que esse convite foi "o maior exemplo de maturidade de relação entre os seres humanos". "Isso foi uma construção. Não foi uma coisa do dia para a noite. Foi construído durante esses anos todos. A relação que eu tenho com o Daniel e com o Caesar é de respeitar os limites e conduzir a vida sem muito peso. Se cada ser humano deixasse os preconceitos de lado, olhasse para o outro e visse que ele não é seu inimigo, 'ah, porque o Caesar foi casado com ela, eu vou ter raiva dele, vai ser meu inimigo'. Não. De jeito maneira" avalia Marco, ressaltando que a aproximação "foi sem nenhum tipo de cobrança, sem querer substituir ninguém e principalmente buscando entender que cada ser humano é único".

 

 

 

 

Adolescente diz que nunca teve problema

Para Daniel, apenas coisas boas podem ser tiradas da experiência com os pais. "Nunca tive problemas, nunca mesmo. Quando eu falo com meus amigos sobre a relação, eles até estranham. 'Mas como, Dani? Eles deveriam se odiar!'. Mas é aquela coisa: a vida não é uma novela de romance ou um filme. Ficar guardando mágoas por isso, na minha opinião, é algo bastante idiota. Ora, se os dois são grandes amigos, eles lidam com a situação de maneira racional. Se entendem, bebem juntos, se divertem, então eu fico muito feliz" garante.

Tatiana também exalta as boas vivências que todo o processo gerou. "Ninguém casa para se separar, mas quando as coisas não acontecem da forma que a gente pensou que fossem acontecer, a gente tem que olhar da melhor forma possível. Quando eu fiz tratamento contra um câncer, o Caesar deu um apoio muito grande pro meu atual marido segurar a barra e poder me apoiar nessa jornada. A vida é feita disso: amor, solidariedade, amizade".

Já por um olhar mais abrangente da situação, o psicólogo Caesar, que também é escritor, avalia que seria muito interessante que as pessoas, "nesse momento de grandes transformações sociais, olhassem mais para o que elas significaram na vida do outro e o que o outro significou em suas próprias vidas". "Isso é importante porque aí está também a construção de nossa identidade e da identidade de nossos filhos. Existe a possibilidade sim, em muitos casos, de uma ressignificação profunda, renovada e altamente salutar nas relações dadas como finitas, esgotadas. Infelizmente existem reações esperadas dos indivíduos, ao final de um casamento, muito mais condicionadas pelo senso comum que pela verdade inerente àquela relação e suas particularidades. A chave para essa possível harmonia e atualização está no respeito, na aceitação, na empatia, e, claro, no afeto" conclui.

Belém