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Marcha pelos direitos sociais e ambientes da Pan-Amazônia ocupa ruas de Belém; vídeo

Evento abriu o 10º Fórum Social Pan-Amazônico (Fospa), que reúne representantes de nove países em prol do meio ambiente e povos tradicionais

Camila Guimarães

A avenida Presidente Vargas, em Belém, foi palco da Marcha de Abertura do 10º Fórum Social Pan-Amazônico (Fospa), realizada no fim da tarde desta quinta-feira (28). O evento bienal reúne lideranças indígenas, ribeirinhas, camponesas e urbanas - a nível, local, regional e internacional - para mobilizar a sociedade em defesa do meio ambiente, dos territórios e dos povos tradicionais da Pan-Amazônia. Após a marcha, os participantes se reuniram na praça Waldemar Henrique para discutir as temáticas do encontro.


O Fospa é formado por representantes dos nove países da Pan-Amazônia: Brasil, Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, além de outros países da Europa e Ásia. Durante os dias do fórum, que vai até sábado, 30 de julho, a expectativa dos organizadores é realizar mais de 260 atividades, entre rodas de conversa, atos, manifestações, plenárias e feiras.

Para um dos organizadores do fórum, o cineasta Luiz Arnaldo Campos, o evento é uma importante injeção de ânimo na luta dos diversos grupos e entidades que, ao se reunirem, têm a oportunidade aprofundar articulações políticas e definir ações estratégicas em defesa do meio ambiente e dos seus povos:

“Para grupos de países como o Brasil, que vivem sob o jugo das políticas de destruição da floresta, de invasão, cerco e aniquilação dos territórios indígenas, quilombolas e ribeirinhos, participar de um evento como esse nos anima a lutar, mostra que a luta é possível e há chances de vencer. Cria em nós uma grande corrente otimista”, comenta.

A representante do coletivo popular Direito à Cidade, Mariane Motta, veio de Rondônia para participar do Fospa e reforça o sentido de fortalecimento mútuo que o encontro promove: “Já são quase três anos de pandemia que não pudemos reunir pessoalmente dessa forma. O sentimento hoje é de fortalecimento. Esse contato está servindo para trocar experiências e somar as articulações”. E descreve as principais pautas da realidade de Rondônia:

“A nossa realidade hoje é de desmonte das estruturas que deveriam proteger os territórios dos povos indígenas. Temos vivido muitas invasões por mineração ilegal e muito desmatamento. Hoje há um projeto, infelizmente, de extinção de muitas das unidades de conservação, que são importantes para a proteção do bioma. Além disso, tem as ameaças de construção de novas hidrelétricas e barragens”, descreve Mariane. 

 

Presença de representantes indígenas foi significativa durante a marcha

O grupo de mulheres do povo Camopi, que vive na região de fronteira entre a Guiana Francesa e o Brasil, veio até Belém em busca de articulações e fortalecimentos para a defesa de seus territórios. Segundo a representante das mulheres Camopi, Pâmela Cristina, a principal reivindicação é por um protocolo de consulta para o povo:

Viemos defender um protocolo de consultas para o povo Camopi. Queremos que os Estados consultem e respeitem a população indígena. Lá não tem protocolo de consulta, o Estado chega mandando. Nós queremos que o protocolo seja obrigatório e que os povos sejam consultados antes de qualquer coisa que queiram fazer na nossa terra”, declara.

Pâmela conta que, entre as práticas ilegais realizadas dentro do território Camopi, está o garimpo: “Nós temos muita má formação nas crianças, a água está poluída, na nossa roça a gente perde os alimentos, para caçar é a maior dificuldade. A gente também é agredido dentro do mato quando vai caçar, a população já vai caçar com medo. Queremos que isso acabe”.

Membros do Conselho Indígena Missionário, que reunia representantes dos povos Takaywrá, Apinajé e Xerente, do estado do Tocantins, também destacaram a defesa dos seus espaços, conforme aponta o indígena Davi Camõc Krahô Takaywará: “Tem alguns povos indígenas do Tocantins que ainda não tem o território demarcado, assim como muitos outros a nível nacional. E em vez de o governo brasileiro nos defender, ele vem com PLs querendo tirar nosso território. Nossa luta, hoje, é essa”.

 

Fórum continua com Tribunal dos Direitos da Natureza

Entre a agenda do Fospa que segue pelos próximos dias, o padre e assessor da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam/Brasil), Dário Giuliano Bossi, destaca a programação desta sexta-feira, 29, o Tribunal dos Direitos da Natureza que será realizado às 10h, no Auditório Benedito Nunes, na Universidade Federal do Pará (UFPA). Segundo o missonário explica a importância do evento:

“Eu vivi por 10 anos na Amazônia Maranhense e acompanhei muito as comunidades atingidas pelo programa Grande Carajás, de exportação de ferro de Paragominas até a ferrovia de São Luís. Povos que foram visitados pelo Tribunal Popular pelos Direitos da Natureza, composto por juízes internacionais que vão apresentar suas sentenças, pareceres e recomendações sobre como podem ser mitigados esses problemas causados às comunidades. A ideia é impactar os poderes públicos, já que são juízes com fortíssima credibilidade internacional”, afirma. 

Demais programações do Fospa acontecem ao longo da sexta-feira e do próximo sábado, podendo ser consultadas no site fospabelem.com.br, assim como pelas redes sociais @fospaoficial.

Belém