MENU

BUSCA

Saiba o que fazer diante do desafio do ronco

Roncar é sinal de dificuldade em respirar e de dormir

Eduardo Rocha

Por recomendação de seu cardiologista, a professora aposentada Maria Augusta Miranda, 66 anos, moradora do bairro do Marco, fez o exame polissonografia (exame indolor responsável por avaliar a qualidade do sono e identificar complicações), para verificar por que a pressão arterial dela aumentava enquanto dormia. Descobriu-se, então, que ela apresenta apneia do sono (dificuldade para dormir). Isso no final de 2022. Agora, dona Augusta está em tratamento médico, para reverter o quadro. "Eu tenho dificuldade de dormir e ronco, mas estou confiante no tratamento e sigo as orientações direitinho", declara. O caso de dona Augusta revela a importância do sono na vida de uma pessoa e o que pode estar relacionado a um simples roncar à noite.

Como explica Maria Cláudia Soares Oliveira, professora adjunta da Universidade Federal do Pará (UFPA), otorrinolaringologista e médica do sono, o ronco é um ruído emitido durante o sono da pessoa e decorre do turbilhonamento de ar por causa da vibração dos tecidos da faringe. Ele demonstra que há algum fator obstrutivo nessa via aérea superior - usualmente, o ronco indica um caso de apneia do sono. O contexto dos distúrbios respiratórios do sono abrange o ronco primário, sem ter outros distúrbios respiratórios subsequentes, como a síndrome de resistência de via aérea superior e apneia do sono. A apneia seria o último estágio nessa evolução dos distúrbios. No ronco primário, não se tem pausas respiratórias/ queda na saturação do oxigênio. O ronco tem tratamento.

Tratamentos e estudos

O ronco pode ocorrer em qualquer fase da vida, ou seja, verifica-se em crianças, adolescentes, adultos e pessoas idosas. Só que a fisiopatologia, as causas e o tratamento variam nesses grupos. Na criança, o tratamento padrão ouro é a cirurgia, considerando-se caso a caso; na fase adulta, o tratamento padrão ouro é o uso do CPAP (aparelho de pressão positiva utilizado para o tratamento dos distúrbios respiratórios de sono), mas não para todo mundo. Entre as crianças, o aumento das amígdalas e das adenóides é o principal fator de risco para a apneia do sono, seguido da obesidade; já entre os adultos, a obesidade é o principal fator de risco, no perfil clássico do paciente com apneia do sono e ronco (gordinhos). A apnmeia do sono ocorre em indivíduos obesos e magros.

A prevalência de ronco na população infantil é de 10 a 15%, e na população adulta, de 30, 40 e até 50%. Conforme aumenta a faixa etária, vai aumentando a prevalência de ronco.Já a apneia obstrutiva do sono é rara em crianças, com prevalência de 1 a 5%, e no adulto, de 32%, ou seja, de 1 em cada 3 adultos tem apneia do sono.

Estudo divulgado na última edição da revista Jama Pediatrics indica que o uso de um spray nasal salino, com soro fisiológico, pode evitar problemas respiratórios em função do ronco, reduzindo pela metade a quantidade de crianças submetidas à cirurgia de retirada das amígdalas. Essa abordagem, segundo cientistas do Murdoch Children's Research Institute, na Austrália, é tão eficaz quanto o spray anti-inflamatório de esteroide, comumente prescrito para aliviar distúrbios respiratórios do sono em pacientes infantis.

Acerca do estudo a respeito da comparação entre o soro fisiológico e a mometasona, um corticóide nasal, ou seja, o spray nasal de mometasona para controle de distúrbio respiratório do sono na criança, a médica Maria Cláudia destaca que a pesquisa ainda se mostra em um momento inicial, não sendo possível expandir esse dado para a população.. Mas a obstrução nasal impacta diretamente a qualidade do sono da criança e do adulto, isto é, a pessoa demora mais para iniciar o sono; fragmenta o sono, provocando o despertar várias vezes durante a noite; diminui a quantidade de sono profundo e aumenta a prevalência de ronco.

Respiração tem relação direta com o sono e o ronco

“Quando você respira mal pelo nariz, você abre a boca; abrindo a boca, a gente rotaciona a mandíbula para trás e a nossa língua é presa na frente da mandíbula, no queixo,e, então, quando você está deitado e abre a boca, joga a mandíbula para trás, com isso a língua também é jogada posteriormente; como o ronco é um turbilhonamento, a passagem de ar em decorrência de algum fator obstrutivo da via aérea, essa língua caída, obstruindo a via aérea, vai fazer o barulho do ronco”, destaca. O respirador oral tende a ter mais ronco que quem respira pelo nariz.

Maria Claúdia observa que o estudo divulgado agora reforça a importância da respiração nasal para o controle do ronco, para a melhora da qualidade de sono, seja através de lavagem nasal ou seja por meio do uso do corticóide tópico.

Acerca dos clipes nasais, pulseiras e anéis anti ronco, a professora pontua que eles não têm evidência científica e não têm validação para se recomendar o uso.

Dormir de lado melhora o ronco

A posição para dormir para melhorar o ronco é a de lado, exatamente por causa da questão da base da língua - quando se dorme de barriga para cima, ela cai e obstrui a via aérea, provoca a turbilhona o ar, e dormir de bruços não é uma boa posição anatômica para se dormir, nem pensando em coluna, quadril. “Com a idade, a tendência aumentar a prevalência de ronco e de apneia do sono”, ressalta Maria Claudia.

 

Dicas para diminuir o ronco:

- Se a pessoa é respirador oral, ou seja, se tem o nariz entupido, obstruído, deve buscar tratamento, porque a respiração oral favorece o ronco

- Diminuir a ingestão de bebida alcoólica; o álcool é um relaxante muscular e vai relaxar os músculos da faringe também e, então, favorece o colapso da via aérea.

- Dormir de lado costuma também melhorar o ronco.

- Avaliar se a pessoa tem refluxo gastroesofágico e se está tendo uma janta muito copiosa - alimentação excessiva noturna contribui para esse refluxo e favorece o ronco.

- Procurar um especialista tão logo verifique o ronco ou dificuldade para dormir

 

Sintomas mais comuns da Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS):

Sintomas noturnos:

- Ronco ressuscitativo

- Pausas respiratórias no sono

- Episódios de sufocação

- Despertares frequentes

- Noctúria (vontade de urinar frequente à noite)

- Sudorese excessiva

- Pesadelos

- Insônia

- Pirose (queimação no aparelho digestivo) e regurgitação

- Engasgos

 

Sintomas diurnos:

- Sonolênica excessiva

- Sono não-reparador

- Cefaleia matutina

- Alteração do humor

- Dificuldade de concentração

- Alteração de memória

- Diminuição da libido

- Fadiga

Belém