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Mangueiras centenárias dão alimento e abrigo

População - Há entre 12 mil e 13 mil espécimes em Belém produzindo mangas e aliviando o calor

João Thiago Dias

Com túneis de árvores centenárias em vários bairros, Belém recebe o título de Cidade das Mangueiras não apenas pela quantidade da espécie nas ruas, avenidas e praças, mas também pelo ineditismo desse projeto de arborização. De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), que estima a existência de 12 mil a 13 mil mangueiras na cidade, incluindo distritos, não existe outra capital que tenha sido arborizada com esse tipo de vegetal, que tem o nome científico de Mangifera indica.

A história conta que as primeiras mudas foram plantadas próximas da Catedral Metropolitana de Belém (Catedral da Sé), na praça Dom Frei Caetano Brandão, no bairro da Cidade Velha, conforme explicou o engenheiro agrônomo da Semma Paulo Porto. Não há registro da árvore mais antiga, no entanto, é possível afirmar que algumas delas têm cerca de 123 anos. Além disso, as maiores têm em torno de 25 metros de altura. 

"Não temos o dado de quantas mudas foram trazidas da Índia nem de qual foi a primeira plantada, mas temos os dados de que foram primeiramente plantadas perto da Igreja da Sé. Depois foram expandindo para praça Dom Pedro II, avenida Presidente Vargas, praça da República, avenida Assis de Vasconcelos, avenida Nazaré e transversais, avenida Magalhães Barata. Era praticamente isso a cidade. Mas também tem mangueira desse tempo nas ruas João Diogo, dos Tamoios, dos Mundurucus, na travessa Padre Eutíquio e na praça Batista Campos. Hoje tem em muitos outros pontos, até em Mosqueiro e Icoaraci", detalhou Paulo.

Esse foi o primeiro projeto de arborização em Belém, que até então era bem pequena, com abundância de matas e taperebazeiros. "Como a safra de taperebá coincide com a época de chuvas e a cidade não tinha calçamento. Com chão batido, os idosos caíam muito com o que ficava no chão. Aumentava o custo no pronto-socorro. Daí surgiu a ideia de trazer a mangueira, por conta do grande porte, para fazer sombra, porque Belém é quente. E a mangueira tinha entrado no Brasil por volta de 1950, mas como árvore de pomar, não como arborização urbana", contou o engenheiro agrônomo da Semma.

Patrimônio

Tombadas como patrimônio histórico e ambiental de Belém desde 1994, as mangueiras recebem cuidados específicos da Semma de domingo a domingo. Além das podas por meio de notificações, são realizadas atividades programadas para manter uma altura média de 16 a 18 metros. Assim como as outras árvores da cidade, elas são resguardadas pelo Plano Municipal de Arborização Urbana de Belém (Lei Municipal 8.909, de março de 2012), que apresenta as diretrizes necessárias à realização de nova arborização e ao manejo.

"A média delas é de 22 metros, mas o ideal é ficar entre 16 e 18 metros por conta do inverno rigoroso com chuva e vento. A manutenção de poda é fundamental. Tem gente que diz que estamos matando a árvore, mas é necessário para que ela possa rebrotar mais sadia e com menos altura, evitando o risco de cair. Realizamos atividade específica para mangueiras no fim de semana porque elas estão ficam no centro, sendo necessária mais estrutura. Precisa interditar vias, chamar concessionária de distribuição de energia", contou Paulo Porto.

O engenheiro agrônomo acrescentou: "Existe espaçamento adequado para plantio e várias outras recomendações de arborização. Não sabemos o tempo de vida exato das mangueiras numa cidade, porque depende dos impactos urbanos. A gente recomenda que ninguém interfera numa arborização sem consultar a Semma. Caso ocorra, de acordo com a legislação, a pessoa é notificada e pode ter que prestar serviço de compensação ambiental, por meio de trabalho de educação com a Prefeitura, ou pode até pagar multa". 

Para o segundo semestre de 2020, a Semma trabalha com a expectativa de realizar um inventário designado como Plano Municipal de Arborização, para levantamento do número total de árvores em Belém. "Já estamos com o termo de referência pronto para fazer a licitação do inventário ainda esse ano. Quantas árvores tem, onde elas estão, o que precisa ser feito para melhoria. É um levantamento bem preciso com altura, diâmetro, estado de saúde, se interfere na rede elétrica etc.", concluiu Paulo Porto. 

Catar manga é diversão e tradição para vendedora

Recolher manga que acabou de cair da árvore é diversão diária para a vendedora de água de coco Raimunda Moreira, de 66 anos, que trabalha há mais de quatro décadas na praça Dom Frei Caetano Brandão, no bairro da Cidade Velha, onde as mangueiras são centenárias. Além de saborear as frutas, ela costuma presentear os clientes. "Tem manga o ano todo, mas dá mais no fim e início de ano. Eu recolho todo dia do chão, porque vive caindo. Já aconteceu de cair até minha cabeça, mas passei logo gelo e a dor melhorou", disse. 

Filha de índio e criada nas matas, ela conta que, desde criança, tem o hábito de comer frutas de forma bem natural. "Eu sou índia e vivia no mato, no interior do Pará, próximo do rio de Viseu. Hoje que moro em Belém. Me alimento de manga sempre assim, pegando da mangueira mesmo. Mais docinha, mais saborosa, com fibras. Essas mangas daqui dessa praça são mais especiais, porque as árvores são centenárias e vi essa história de perto, porque cheguei aqui quando só existia um vendedor de coco", lembrou. 

Belém