Mametu Nangetu, Mulher Axé do Brasil, reforça luta contra discriminação
Em entrevista, ela fala do preconceito contra terreiros em Belém
Em entrevista, ela fala do preconceito contra terreiros em Belém
"Esse reconhecimento da nossa luta é um incentivo para continuar buscando um Pará e um Brasil mais tolerantes". Assim Mametu Nangetu, 72 anos, que coordena o Instituto Nangetu de Tradição Afro-religiosa e de Desenvolvimento Social, expressa o significado do título de Mulher Axé do Brasil que ela recebeu, no final de semana, na Bahia, em homenagem prestada pela Mulheres do Axé do Recôncavo Baiano, durante o I Encontro de Mulheres do Axé do Brasil.
Mametu é fundadora do terreiro Manso Massumbando Quem Quem Neta, que funciona há 33 anos. A partir do terreiro, surgiu o Instituto Nangetu, hoje com 15 anos.O terreiro Manso funciona na travessa Pirajá, 1194.
Ela se qualifica como "uma mulher de tradição banto, uma mulher de terreiro". Ela encontra-se na Bahia, mas conversou com a Redação Integrada de O Liberal. O título, como disse, abrange as mulheres negras do Brasil por seu legado, sua militância "e pelo fato de eu ser uma mulher de terreiro".
Como relatou Mametu, o Instituto Nangetu possui CNPJ, mas o terreiro Manso, não. Essa situação revela que os integrantes do terreiro têm buscado transformar os terreiros do Pará em templos afro-religiosos, para que tenham isenção do pagamento do IPTU e de outros tributos.
"Esse título é o compromisso de continuar lutando para que a gente tenha um Pará igual, um Pará menos violento, um Pará menos homofóbico, um Pará menos intolerante. Eu moro ali na Pirajá e sofro muita intolerância. Quantas vezes, eu já fui mandada sair dali, para procurar um interior, porque ali na Pirajá não é meu lugar, e eu digo que ali é o meu lugar. O lugar da mulher é em qualquer lugar que ela esteja. Eu sei o direito do meu vizinho e também sei o meu direito de bater meus tambores, meus atabaques. Então, Belém é uma cidade intolerante, sim, e preconceituosa com as nossas religiões de matriz africana", enfatizou Mametu.
A Mulher Axé do Brasil destacou que, no evento na Bahia, foi criada a Rede de Mulheres de Axé do Brasil para defender os direitos das comuidades religiosas de matriz africana, pela identidade afro-brasileira, em especial os idosos.
Nesta quinta-feira (28), como o Supremo Tribunal Federal retomará o julgamento acerca do abate tradicional ritualístico doméstico, os Povos Tradicionais de Matriz Africana (Potmas) promoverão um ato em favor da herança ancestral dessa prática. O ato ocorrerá às 9 horas, em frente à sede da Alepa.