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'Garçom de trânsito' em Belém faz fama nas ruas e nas redes sociais

Com quase 10 mil seguidores, Frankciney Lopes diz que o apoio nas redes sociais é "uma forma de profissionalizar o trabalho"

Emanuele Corrêa

Na avenida Augusto Montenegro, uma das principais rotas de circulação de Belém, não circulam apenas veículos, ciclistas e pedestres apressados. Também circulam histórias que geram curiosidade, como a do Frankciney Lopes, que devido à pandemia, há dois anos, veste-se de garçom e vende água em um cruzamento. No Instagram, quase 10 mil pessoas seguem o "Garçom de trânsito" da capital paraense e acompanham o cotidiano de trabalho dele.

Em entrevista à redação integrada de O Liberal, Frankciney Lopes, 36 anos, contou que é casado e pai de um menino de 11 anos. A família é o motivo que o levou ao cruzamento, para vender água. Conta que há cinco anos a esposa teve diagnóstico de depressão e precisou de cuidados médicos e suporte em casa. Por isso, precisou sair do emprego de carteira assinada, na função de agente de portaria.

"Minha profissão é agente de portaria, mas faz 5 anos que não exerço, devido os problemas de depressão que minha esposa passa até [hoje]. Ela tinha dificuldades de ficar sozinha em casa, passava mal e desmaiava. Precisava de alguém por perto e não tinha. Como eu trabalhava, ela ficava só com o nosso filho pequeno. Na nossa família ninguém poderia ficar com ela para eu ir trabalhar, pois cada um tinha sua vida e seus compromissos", relembrou.

 

E o quadro depressivo acabou ganhando força. "Os sintomas da depressão ficaram mais fortes, percebi que ela precisava de acompanhamento médico e atenção da família. Depois de um tempinho, as contas foram chegando e eu comecei a trabalhar com vendas de salgados, sucos, café da manhã. A pandemia chegou e não tive como manter o nosso sustento devido tudo parar no mundo. Tive a ideia de vender água no sinal de trânsito", completou.

Frankciney relembra que no começo foi difícil, sentiu vergonha por não ter dinheiro para investir no material, precisou pedir emprestado para começar as vendas. Como estratégia para aumentá-las, decidiu se vestir de garçom e levar um isopor com gelo que pesava 100 quilos. Criou também o Instagram, que em 2 minutos conseguiu 350 seguidores, entre artistas e influenciadores paraenses.

"Dar um ar de profissionalismo e segurança aos meus clientes, pois estávamos passando por uma pandemia. Quando o sinal fechou, fui entre os carros vender as águas e comecei a ouvir as pessoas me parabenizando, devido a forma que eu estava vendendo. Não demorou muito para eu viralizar nas redes sociais. Meu propósito não era viralizar, mas vender e voltar para casa com o dinheiro para comprar o nosso alimento e pagar as contas", destacou.

 

Ao longo dos dois anos, o garçom do trânsito começou a ganhar o respeito e carisma dos motoristas. "Um fato que acontece até hoje lá, é o respeito dos motoristas de ônibus, vans, etc. Isso pra mim é muito importante no meu trabalho", disse.

Para o futuro, Frankciney deseja voltar a trabalhar de carteira assinada, principalmente deseja que a saúde da esposa seja reestabelecida. Por enquanto, ele diz que mesmo diante das dificuldade se alegra com o suporte dos apoiadores do seu trabalho - pois os seguidores não são números, não é assim que os vê.

"Tenho vontade de voltar a trabalhar de carteira assinada, mas ainda temos dificuldades devido a situação de minha esposa, que ainda não consegue ficar sozinha. Eu que resolvo tudo. Por isso que até hoje faço este trabalho de garçom no trânsito", ressaltou.

O "Garçom de trânsito" disse que começou a ver o Instagram como uma ferramenta para mostrar seu trabalho e sua realidade. "Teve dias que eu sentia dificuldades em criar conteúdos para postar. Mas do nada eu criava, postava e a galera gostava. Cada um que esta no meu Instagram não é um seguidor, pra mim é um apoiador de meu trabalho e me ajuda muito. Com tantas dificuldades, fico emocionado em ver que estou perto de 10 mil. Somente mostrando meu trabalho e dizendo que dá pra mudar e fazer a diferença na vida", finalizou.

Belém