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Surto psicótico: entenda tratar algo que pode levar ao descontrole e ter graves consequências

O principal é não perder tempo e buscar ajuda o quanto antes. O tempo é importante nestes casos, diz psiquiatra

Dilson Pimentel

Em janeiro deste ano, um advogado matou a própria mãe, um policial militar incendiou a casa dele e uma mulher tentou suicídio ao atear fogo em si mesma, no Pará. Dois desses episódios ocorreram em Belém. O terceiro, o do militar, em Santa Bárbara, na região metropolitana da capital. Esses fatos sugerem um quadro de surto psicótico. O psiquiatra Dirceu Rigoni disse que um surto psicótico, ou a psicose, é uma situação em que o paciente se desconecta da realidade e pode ter sintomas como delírios (convicção muito forte e irrefutável sobre algo absurdo), alucinações (são percepções dos sentidos de coisas que não existem, exemplo, ouvir vozes, ver coisas, sentir gostos, toques ou cheiros que não existem) e agitação psicomotora (uma agitação que não tem propósito, o indivíduo está muito inquieto).

A psicose pode ter várias causas, desde doenças mais prolongadas, onde a clássica é a esquizofrenia que dura a vida inteira e tem períodos de melhora e piora, como doenças mais agudas (rápidas e curtas) como uma psicose breve ou uma psicose por substâncias (álcool, drogas ilícitas, medicamentos etc.). Também pode apresentar o quadro em decorrência de uma doença do corpo (psicose orgânica), como infecções, traumas físicos, doenças hormonais e muitas outras.

Geralmente, ainda segundo o psiquiatra, a duração vai depender intimamente da causa, da gravidade e do tratamento instituído. “Pode durar alguns dias, semanas ou meses, em raras situações até anos. É fundamental que não se deixe perdurar, pois, além dos riscos para o paciente e para terceiros, a psicose em si, pela característica de poder ‘desgastar’ demais o cérebro, pode gerar sequelas graves de ordem cognitiva. A busca pelo tratamento deve ser imediata”, afirmou.

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Tratamento inicial, muitas vezes, requer que o paciente vá a uma emergência

O doutor Dirceu Rigoni disse que o tratamento inicial, muitas vezes, requer que o paciente vá a uma emergência. “No Pará, temos a Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna em Belém, que é aberta 24h, mas qualquer UPA ou HPSM que realize atendimentos de urgência e emergência podem dar o atendimento inicial. Por vezes, o paciente não aceita ir, nestes casos, o Samu e o Corpo de Bombeiros são imprescindíveis para realizar o resgate e transporte do paciente”, disse. A necessidade de ser atendido numa emergência é quando o paciente apresenta riscos para si, para outras pessoas ou dano patrimonial.   Exemplo disso é quando o paciente quebra objetos em casa, carros na rua, vidraças ou qualquer outro dano material, ou quando ele se machuca intencionalmente ou quando se coloca em risco (subindo em telhados, atravessando rua sem olhar), ou quando ele agride outras pessoas (também com palavras, pois estas podem levar a ações)”, explicou.

Caso não haja a necessidade de ser atendido em uma emergência, o atendimento inicial também pode ser feito nos CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) ou nos postos de saúde. O psiquiatra Dirceu Rigoni afirmou que, em todos estes casos, o tratamento será por medicamentos para o quadro da psicose, bem como para o motivo desta. Principalmente nos casos de origem orgânica (doenças do corpo), disse, é imperativo que se trate a doença que está causando a psicose. O acompanhamento com uma equipe formada por outras áreas da saúde também é importante, visto que as medicações são apenas uma parte do tratamento.

 

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O que fazer durante um surto psicótico e, principalmente, o que não se deve fazer?

O principal é não perder tempo e buscar ajuda o quanto antes. O tempo é importante nestes casos.  Ajuda bastante tentar evitar conflitos com o paciente caso não haja necessidade ou haja um risco maior no momento. “Considerando-se que o paciente está fora da realidade, muitas vezes alguém decide ficar ‘debatendo’ com o paciente sobre assuntos que, por mais que ele esteja errado, não vai ter a capacidade de mudar sua visão e acaba por piorar a situação. Por vezes alguém pode tentar forçar o paciente a fazer algo que não é tão importante naquele momento e que pode ser adiado para quando o tratamento esteja iniciado”, explicou.

Tentar-se colocar na posição do paciente é geralmente a melhor forma de saber o que fazer ou não. Ele pode estar ouvindo vozes dizendo milhares de coisas, dando ordens, vendo pessoas ou animais. Pode estar com medo, pode estar com uma crença de que estão conspirando contra si, tudo isso pode levar a reações por vezes inesperadas de “defesa”.

.Ele ressalvou que, de forma alguma, isso significa que se deva ser permissivo com o paciente ou deixar que faça o que bem entender. “Deve-se impor limites, principalmente quando há riscos. Mas, principalmente nestes casos, deve-se o fazer de forma pensada e preferencialmente com ajuda dos profissionais adequados”, afirmou.

 

Belém