Embalsamento: entenda como é feita a técnica de preservação de cadáveres
O formol é a substância mais utilizada pelas faculdades brasileiras de medicina para realizar o embalsamento
O embalsamento, conhecido também como mumificação, é uma técnica antiga de preservação de um corpo para várias finalidades, desde acadêmica até funerária. Por mais que seja mais associado à época do Egito Antigo, o processo é realizado até os tempos atuais, apenas com diferentes técnicas e ferramentas. No Museu de Anatomia Humana, localizado na Universidade Federal do Pará, é possível observar centenas de peças embalsamadas para fins didáticos e expositivos.
Há séculos, os egípcios embalsamavam os corpos utilizando sais, exposição ao sol e banhos com resinas, de acordo com o professor Ronaldo Correia, coordenador do Museu de Anatomia Humana. Atualmente, a mumificação é realizada por meio de substâncias químicas, como o formol e a glicerina.
Como é realizado o embalsamento?
O método mais utilizado pelas faculdades brasileiras de medicina é o embalsamento com formol, por conta da eficiência e do custo da substância, de acordo com o professor Ronaldo Correia. “O formol fixa muito bem em tecidos biológicos. O segundo motivo é o custo, pois a obtenção de glicerina é cinco a dez vezes mais cara”, explica.
Para o embalsamento com formol, o professor explica que a substância química é injetada no organismo e, em seguida, ele é mergulhado em um recipiente com formol, onde é deixado de forma contínua para a preservação. Dessa forma, combinado a outros métodos que vão desidratar os tecidos do organismo, o formol atua para minimizar a decomposição, ao apresentar também um caráter bactericida.
“O importante é manter a peça seca. O formol, associado a outros métodos e aos meios antigos, como o sol e os sais, ajuda na desidratação. No fim das contas, o que vai minimizar a decomposição é a desidratação, pois os micro-organismos gostam de umidade”, afirma Ronaldo Correia.
A desvantagem do uso do formol é a substância ser altamente volátil, tóxica ao meio ambiente e cancerígena, demandando um nível de proteção elevado de quem realiza o embalsamento. “Todos os laboratórios de anatomia têm o odor característico de formol. Por isso, é importante a utilização de EPIs, como máscaras, gorros e luvas”, relata o professor.
No caso do embalsamento com glicerina, a vantagem em comparação ao formol é o nível de toxicidade, porém, a substância fixa menos e custa mais do que o formol. “Tanto o formol quanto a glicerina são bactericidas. O formol penetra mais facilmente no tecido, é mais barato, mas é tóxico. Ele precisa ter uma dispensação no meio ambiente de forma adequada. A glicerina é mais amiga do meio ambiente”, detalha o professor.
Finalidade do embalsamento
A técnica de mumificação depende do objetivo e do tempo de preservação esperado do cadáver. No caso de funerárias, o cadáver é preparado para um velório, isto é, pensado para uma conservação que dure em torno de 48 horas. Para fins acadêmicos, em faculdades, por exemplo, o propósito é o corpo estar conservado por décadas.
“Até que o cadáver esteja pronto para que professores e alunos possam utilizá-lo, são várias semanas de preparação. Aqui no laboratório, temos cadáveres da década de 1990, que ainda hoje têm suas peças usadas para estudo da anatomia humana”, conta o professor Ronaldo Correia.
Ética
Ao trabalhar com cadáveres, os responsáveis pela mumificação precisam alinhar as tarefas com o respeito pelo organismo embalsamado. Segundo o Código Penal, vilipendiar cadáver ou suas cinzas — isto é, desrespeitar ou ferir a dignidade do cadáver — é crime e resulta em detenção de um a três anos, além de multa.
“Antigamente, já se pensava sobre o respeito pelo cadáver. Existe a ‘Oração ao Cadáver Desconhecido’, do século XIX, que diz: ‘Quando você se curvar com o seu rígido bisturi sobre um cadáver desconhecido, você tem que lembrar que ele nasceu do amor de duas almas’”, conta Ronaldo Correia.
Museu de Anatomia Humana
No Instituto de Ciências Biológicas da UFPA, o Museu de Anatomia Humana reúne centenas de peças que são usadas para fins didáticos, além de estarem disponíveis para visitação. A entrada é livre e gratuita para toda a população, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.
O público pode conhecer mais sobre anatomia, com peças naturais e sintéticas que detalham várias partes do corpo humano, como o coração, pulmão e cérebro. O museu recebe projetos de visitação de escolas de nível básico, técnico e superior. Não é exigido nenhum tipo de vestimenta específica, porém não é permitido fotografar ou filmar sem autorização.
“Esse espaço serve aos laboratórios de anatomia, sendo utilizado pelos acadêmicos durante a graduação e pós-graduação dos estudantes da área da saúde. Além disso, recebemos o público externo, com diversos projetos escolares”, afirma Ronaldo Correia, coordenador do local.
Serviço
Museu de Anatomia
Local: Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFPA.
Dias para visitação: segunda a sexta-feira.
Horário: 8h às 18h.
Perfil do Laboratório de Anatomia Humana no Instagram: @lahfufpa.
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