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Dia Mundial do Cachorro: família relata adoção de cão que foi jogado em canal de Belém

Batizado com o nome de "Canal", o animal virou o xodó de uma família de veterinários da capital paraense

Amanda Martins

Ser abandonado pelo que você conhece como algo mais próximo de uma “família” é considerado traumático o suficiente, inclusive, para um cachorro indefeso. Imaginar essa cena é de partir o coração, mas ocorreu com o cãozinho vira-lata, chamado "Canal”, que foi arremessado para dentro do canal da travessa José Leal Martins, no bairro do Marco, em Belém.

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O vizinho da família, o eletricista Antônio Gomes, foi quem viu o cachorro ser jogado no canal por um grupo de jovens alcoolizados. Com pena do animal, ele decidiu resgatá-lo e prestar assistência, como dar banho, comida e água. Por ser amável, Canal tornou-se do “xodó” Passagem Simeão.  

Mas um terrível acidente quase mudou o destino do cãozinho. Antônia conta que Canal estava deitado sob um meio fio, quando um cachorro passou pela via pública, atropelou o cachorro - que estava deitado- e não parou para prestar assistência.

Para tentar salvar a vida do animal, os veterinários Djacy e Ana Silvia realizaram uma mobilização e conseguiram paliativamente amenizar o que o bichinho sentia,  mas o cão precisou ficar por 30 dias internado, após fraturar uma das patas,  no hospital veterinário da Universidade Rural do Pará (UFRA) - onde o casal atua como professores. 

Foi ali, nas visitas diárias para saber se Canal estava evoluindo bem, que Djacy viu nascer seu amor pelo cachorro. Tudo correu bem e o cão recuperou-se, voltando a ganhar muito carinho da vizinhança. No entanto, ainda não tinha um verdadeiro tutor. 

“Eu vi o canal na rua muito sujo e como eu estava sem a minha cadela - que havia morrido - decidi trazê-lo aqui para casa, dei um banho nele, coloquei para secar, dei comida e ele não quis embora, ficou aqui pela porta de casa mesmo. Precisei viajar e quando liguei para casa perguntando como estavam as coisas, minha empregada disse que o cachorro passava o dia inteiro na porta [de casa] pegando sol, afogando, mas não se afastava”, contou o médico veterinário que já nutria afeto pelo animal. 

“Pedi que ela deixasse ele ficar dentro da garagem e continuasse colocando comida e água para ele. Quando cheguei de viagem, coloquei o cachorro para dentro, abri a porta, ele estava lá me esperando. Ele nos escolheu e hoje recebe todo o carinho do mundo, a casa é toda dele”, disse Djacy brincando. A atenção do tutor ainda é dividida com os cachorros Bono e Nina. 

Carinhos e atenções

Não é preciso dizer que após tantos momentos ruins, hoje, o Canal vive uma vida recheada de afeto com a sua nova família. O estudante de medicina veterinária, Felipe Ribeiro, é o "irmão mais velho”. Isso porque,  ele é responsável por cuidar da alimentação do cachorro, dar banho e garantir que ele se divirta - recuperando todo o tempo perdido. 

“Sou muito próximo a todos [os cachorros]. Cuidando dele, eu percebo que ele sempre quis uma família e escolheu a gente. Ele tinha um comportamento agressivo antes, por conta dos traumas que sofreu, mas já passou. Ele é muito dócil e mesmo velhinho não deixa de ser a criança da nossa família”, afirmou Felipe.  

Adoção consciente 

O Dia Mundial do Cão também serve para conscientizar as pessoas para a importância e defesa dos direitos dos cães e animais em geral. Infelizmente, no Pará, ainda existem muitos cachorros vítimas de maus-tratos.  O médico veterinário, Djacy Ribeiro, pede maior responsabilidades dos tutores para uma adoção consciente.

“Na pandemia, muitas pessoas ficaram em casa e a maioria decidiu levar um pet para dentro do seu lar. Só que um cão filhote é pequenino, as fezes não fedem, é aquela coisa toda, a partir do momento que cresce, exige cuidados com veterinário, banho e chega em um ponto que as pessoas perguntam, eu necessito mesmo disso?.  O animal não pode virar um objeto. Se tu não podes pegar teu filho, teu irmão e a tua mulher e dizer ‘vai te embora’. Por que abandonar um animal na rua?”,  perguntou o Djacy trazendo reflexão para a sociedade. 

 

Belém