Dia Internacional do Bombeiro: veja como é o trabalho de 'heróis' da vida real no Pará
Comemorada em 4 de maio, a data destaca a rotina e os desafios da profissão
Comemorada em 4 de maio, a data destaca a rotina e os desafios da profissão
Um minuto. Esse é o tempo que os bombeiros têm para deixar o quartel após o toque da sirene e atender qualquer tipo de emergência. É assim que começa uma rotina marcada por coragem, adrenalina e o compromisso de proteger a sociedade — muitas vezes arricando a própria vida. No Dia Internacional do Bombeiro, celebrado em 4 de maio, a homenagem vai para esses profissionais que enfrentam desde incêndios a partos de emergência e resgates de tentativas de suicídio. Em Belém, o major Israel, subdiretor de Finanças do Corpo de Bombeiros Militar do Pará (CBMPA), com quase duas décadas de serviço, compartilha os bastidores, desafios e as curiosidades que revelam o heroísmo por trás da farda.
O CBMPA atua em uma ampla variedade de frentes que vão muito além do combate a incêndios. Como explica o major Israel, a corporação está presente desde ações de defesa civil, auxiliando municípios em situações de enchentes e incêndios florestais, até o atendimento pré-hospitalar — considerado o carro-chefe da instituição. A corporação conta com viaturas especializadas para prestar socorro a pessoas acidentadas, com um serviço de resgate técnico e humanizado.
Entre os serviços prestados, estão também salvamentos em tentativas de suicídio, acidentes com vítimas presas em ferragens e proteção balnear com guarda-vidas em períodos de maior movimentação. Outro braço importante é o serviço técnico, que realiza vistorias em estabelecimentos comerciais para garantir a segurança contra incêndios. Há ainda a perícia de incêndio, essencial para investigar causas e evitar novas ocorrências.
“Em todo incêndio que for atendido pelo corpo de bombeiros, a sociedade pode solicitar o serviço de perícia. É um serviço menos conhecido, mas fundamental para entendermos o que está provocando esses fenômenos e aprimorar nosso trabalho”, afirma.
Além disso, os bombeiros também atuam no resgate de animais, muitas vezes em parceria com o Batalhão Ambiental da Polícia Militar. Ainda, situações de parto durante o trajeto ao hospital são mais comuns do que se imagina, e os militares estão preparados para atender esses casos com rapidez e segurança. “As pessoas, às vezes, não sabem o que fazer. Nossos profissionais têm treinamento específico para garantir os primeiros cuidados à mãe e ao bebê até a chegada ao hospital”, explica.
No combate a incêndios, o Corpo de Bombeiros do Pará segue um protocolo rigoroso e ágil. As ocorrências são inicialmente recepcionadas pelo Centro Integrado de Comando e Controle, que atende chamadas da Polícia Militar, Polícia Civil e Bombeiros. Assim que uma ocorrência de incêndio é identificada, o sistema direciona a guarnição mais próxima ao local. “Temos apenas um minuto para sair do quartel, independente do tipo de atendimento”, explica o major Israel, destacando a rapidez exigida na resposta.
Ao chegar no local, os bombeiros utilizam o chamado "trem de socorro base", composto por uma viatura Auto Bomba Tanque (ABT), com capacidade de cerca de 6 a 8 mil litros de água. Esse carro é responsável pelo combate inicial às chamas. Caso seja identificado que o incêndio tem maior proporção, são acionados reforços, como o autotanque, que pode levar até 15 mil litros. “Trabalhamos com diferentes formas de jato — o neblinado e o sólido —, adaptando conforme o tipo de incêndio e a estrutura do local”, detalha.
Em ocorrências ainda mais complexas, pode ser necessário o uso de plataformas elevatórias, que permitem alcançar áreas mais altas, como prédios ou edificações verticais. Outras viaturas de apoio também podem ser deslocadas para garantir que não falte o principal recurso nesse tipo de operação: a água. O revezamento entre as equipes e a logística entre os veículos são fundamentais para manter a eficiência durante toda a operação.
O major Israel conta que a motivação para entrar no Corpo de Bombeiros surgiu em um momento de transição na vida. Quando estava terminando a faculdade, foi atraído pela oportunidade dos concursos públicos. Entre as opções disponíveis, surgiu o concurso para a carreira de praças do Corpo de Bombeiros, ao qual ele se inscreveu e foi aprovado. Esse entusiasmo o motivou a dar um passo adiante e prestar o concurso para oficiais, sendo aprovado em 2009. Hoje, com 19 anos de dedicação à corporação, ele resume: “É uma profissão apaixonante, de muita dedicação por servir à sociedade”.
Já o tenente Modesto, de 35 anos, carrega o espírito militar no sangue. Filho e irmão de militares, ele encontrou no Corpo de Bombeiros a missão que uniu o desejo de servir à sociedade com o sentimento de pertencimento à tradição da família. Hoje, ele destaca que o maior desafio da profissão é lidar com a adrenalina e, ao mesmo tempo, manter a mente firme para tomar decisões rápidas em situações extremas. “Muitas vezes a gente se coloca no lugar da vítima, imagina que poderia ser um parente nosso... Isso mexe, mas também vira um combustível para seguir e ajudar”, diz.
Para ser bombeiro, é preciso reunir habilidades físicas e intelectuais. O major Israel reforça que a rotina intensa exige excelente condicionamento físico, já que muitos atendimentos demandam agilidade e resistência. Além disso, o processo de formação é rigoroso: as provas são concorridas e o conteúdo, complexo, exigindo muito estudo e dedicação. Os treinamentos, por sua vez, são intensos e constantes, preparando os profissionais para os mais diversos tipos de ocorrência.
Após listar as principais habilidades para atuar na profissão, com emoção, o major Israel compartilha desafios da carreira que vão muito além do preparo físico e intelectual. A rotina exige abrir mão da convivência familiar, deixar de lado momentos importantes do dia a dia e enfrentar treinamentos intensos desde a formação. “Nem todas as profissões exigem que você sacrifique seu tempo com a família. No caso dos bombeiros, além do tempo, a gente também coloca em risco a própria vida”, destaca. Colocar-se à disposição da sociedade, mesmo diante do perigo, é um compromisso que exige coragem e dedicação. “Não é tarefa fácil, não é uma missão para qualquer um”.
Durante o serviço de proteção de guarda-vidas , o major Israel vivenciou uma ocorrência inesquecível. Ele foi acionado para uma situação crítica: uma pessoa ameaçava tirar a própria vida do ponto mais alto da cidade, a torre de transmissão. A equipe do quartel, ao chegar ao local, avaliou que o resgate exigia habilidades técnicas específicas que eles não possuíam naquele momento.
Foi então que o comandante solicitou o apoio de Israel, que seguiu imediatamente para a ocorrência. Ao chegar, encontrou uma pessoa decidida a pôr fim à própria vida, que lhe confidenciou que aquele seria o último dia. Com preparo técnico e sensibilidade, o major conseguiu conduzir o resgate com segurança. “Consegui trazê-lo em segurança. Isso me marcou muito”, diz emocionado.
Para o tenente Modesto, uma das experiências mais marcantes que viveu foi durante uma operação em Aurora do Pará, no nordeste do estado. Um grave acidente envolvendo um caminhão e um carro de passeio exigiu uma ação delicada e rápida da equipe. Entre as ferragens, uma mulher gravemente ferida chamou a atenção do tenente. “Quando conseguimos retirar aquela moça, fazer os procedimentos e levar ela para o hospital em Paragominas, senti que fui um canal para salvar uma vida. Foi maravilhoso”, lembra.
O heroísmo faz parte do cotidiano de quem escolhe ser bombeiro. Em muitas ocorrências, os militares correm risco de vida— seja em incêndios, salvamentos em altura, resgates aquáticos ou situações de grande tensão emocional. Em reconhecimento a esses atos de coragem, a corporação pode conceder uma promoção por ato de bravura, após avaliação interna.
No Dia Internacional do Bombeiro, a data serve como um lembrete do compromisso, da entrega e da coragem que marcam essa profissão indispensável para a sociedade. “Parabéns para quem tem esse sonho”, diz o major Israel. “Continue no sonho, e eu te espero para a gente dividir a farda", conclui.
O Corpo de Bombeiros Militar do Pará (CBMPA) tem um efetivo de 2.482 militares, entre homens e mulheres, praças e oficiais. O ingresso só é possível por meio de concurso público, com vagas para soldados ou oficiais. Em 2024, a corporação atendeu 67.748 chamados em todo o estado, a maioria relacionada à prevenção e auxílio. Já os incêndios somam, em média, 4.399 ocorrências por ano.
O Quartel do Comando Geral do Corpo de Bombeiros do Pará fica em Belém, localizado na Avenida Júlio César, no bairro Val-de-Cans. Além da sede, a corporação conta com 30 unidades operacionais e 7 setores distribuídos na Região Metropolitana de Belém (RMB) e no interior do estado. Atualmente, o serviço está presente em 28 municípios paraenses, incluindo a capital.
Em algumas épocas do ano, o CBMPA precisa reforçar o efetivo em municípios do interior do estado, especialmente como as férias escolares ou o fim do ano, quando aumentam os casos de queimadas, principalmente no sudeste do estado. “Dependendo da demanda, o Comando Geral faz um planejamento prévio e desloca bombeiros da RMB para reforçar essas guarnições”, explica o major Israel. Segundo ele, ações como a Operação Veraneio exigem esse tipo de organização estratégica para garantir um atendimento mais ágil e eficiente à população.