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Dia dos Namorados: como casais veem a data em diferentes gerações

Um jovem casal de lésbicas e um casal de idosos comentam o que muda ao longo dos anos com as relações, interesses e ideias se tornando mais maduras

Camila Azevedo

Junho é tradicionalmente o mês em que é comemorado o Dia dos Namorados no Brasil. A data foi pensada com um sentido comercial para aquecer as vendas durante o período, mas acabou se tornando um dos maiores vetores de demonstração de afeto dos apaixonados. Várias são as histórias, as gerações, os costumes e ideais de cada casal, seja ele com mais tempo de relacionamento amoroso ou recém-formado, independentemente da idade de cada um, orientação e religião. Pelas ruas, de mãos dadas, abraçados, rindo, conversando e partilhando, o cotidiano e as vivências diversas se traduzem em uma única palavra: amor.

Carolina Amorim, jornalista de 30 anos, e Maia Mirian, designer com 36, começaram a namorar durante a pandemia, em Belém. Quando tudo coincidia para as manter separadas, elas encontraram uma forma de se unir. Já se conheciam, mas apenas em junho de 2020, quando as incertezas que a covid-19 trouxe estavam no ápice, as duas começaram a trocar as primeiras mensagens através de uma rede social. O período de conversas online foi importante para que se conhecessem melhor e aumentassem a expectativa de algo mais próximo entre elas.

“Com a Maia surgiu uma amizade, um companheirismo desde o início. Ela era uma pessoa com quem eu podia conversar sobre tudo, inclusive sobre como é revolucionário o amor entre duas mulheres”, relembra a jornalista.

Ambas estavam comprometidas em cumprir a quarentena e, por isso, o dia do encontro foi adiado até agosto daquele ano. A partir disso, os primeiros desafios do novo relacionamento começaram a surgir: Maia perdeu o pai e precisou passar um tempo em Joinville, no estado de Santa Catarina, sua cidade natal, com a família. O assunto delicado foi tema de inseguranças entre o casal. “Eu achei que a gente ia se afastar. Mas não, a Maia é uma pessoa muito compreensiva e aberta aos sinais da vida”, relata Carolina. Tudo que aconteceu serviu para que elas se aproximassem cada vez mais e, em outubro de 2020, decidiram morar juntas. O espaço compartilhado se tornou um símbolo de afeto, respeito e construção enormes entre elas.


Assim, o cotidiano foi se formando aos poucos: o que é corriqueiro em relacionamentos, como passeios, só foi possível ser feito quando 2022 chegou e as medidas de segurança contra o coronavírus ficaram mais amenas, como relaxamento do uso de máscaras e distanciamento físico. Até então, elas ainda não tinham ido juntas ao cinema.

“O que mais aprendi e aprendo diariamente na nossa relação é sobre a importância de, além do amor, termos liberdade de ser quem se é, construindo um laço de cuidado e respeito uma com a outra, se acolhendo nos momentos bons e nos desafios da vida”, diz Maia. Segundo ela, a parceria genuína entre elas faz o amor crescer. “Poder olhar pro lado e contar verdadeiramente com alguém é muito bom e bonito. Sinto que podemos tudo juntas e nesse apoio caminhamos. Isso me deixa muito feliz”, finaliza a designer.

Dificuldades uniu casal, que hoje aproveita a vida juntos

As dificuldades também uniram o casal de aposentados Maria Luciléia, de 60 anos, e Domingos Ledo, de 63, moradores de Belém. Eles se conheceram há 38 anos, no auge da juventude, quando trabalhavam em uma escola tradicional da capital paraense, e casaram três anos depois. A rotina passou a ser desafiadora quando, na década de 1980, os dois passaram juntos no vestibular e o tempo para se encontrar ficou escasso. Em seguida, vieram os filhos, as longas jornadas de trabalho, o aperto nas contas e a necessidade de adaptação do dia a dia.

“O que aconteceu foi o seguinte: decidimos tirar um dia para sair do ritmo. Toda quarta-feira, nós saíamos cedo do trabalho e íamos direto ao cinema, tomar um sorvete… Esse era o dia só para nós dois”, conta Maria, que afirma não deixar, em momento algum, o relacionamento esfriar.

A atual rotina conta com muita parceria dos dois lados: eles dividem as funções de casa e decidiram, com a aposentadoria e os filhos criados, viver mais a vida. Atividades físicas, viagens e almoços especiais completam a vivência do casal.

A tática usada para fazer tudo dar certo é o sentido coletivo que eles adotaram, ou seja, o que é de um, é de outro, como finanças, celular, passeios, etc. “Liberdade é o lema! Nós nos apoiamos um no outro. Nada mais tem sentido se ela não estiver comigo”, completa Domingos e reitera: “Para mim, a vida é respirar e viver junto com a Maria”. “Todo dia é dia dos namorados. Nossos filhos estão longe e eu só tenho a ela e ela a mim. Nós vivemos todos os dias intensamente”, reforça Domingos.

“Todo dia é dia dos namorados. Nossos filhos estão longe e eu só tenho a ela e ela a mim. Nós vivemos todos os dias intensamente” - Domingos Ledo.

A diferença de idade entre os casais é de cerca de 30 anos. Mas chama atenção a semelhança entre as histórias dos dois pares. Ao falar de Maia, Carolina destaca: “Daria para escrever um livro com as vivências de vida dela”, diz. A designer já quis ser freira. Passou três anos em retiro, mas desistiu. O mesmo pode ser visto com Maria e Domingos. Ambos estavam seguindo caminhos religiosos antes de se conhecerem.

Belém