Dia do Vira-Lata: data chama atenção para cuidado com cães sem raça definida
Símbolo do Brasil, cachorros vira-latas são celebrados 31 de julho
Assim como ocorre com a população humana, o Brasil tem observado um aumento do número de animais de estimação nos lares. A Pesquisa Nacional de Saúde, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estimou que, em 2013, haviam 52,2 milhões de cachorros nos domicílios do país. Já em 2021, a pesquisa Radar Pet, realizada pelo Sindicato da Indústria Veterinária, projeta que houve um aumento de 30% do número de animais domésticos durante a pandemia.
Entre esses milhões de pets, a variedade dos cães sem raça definida (SRD), mais conhecidos como vira-latas, é uma das mais frequentes, tanto que atualmente são objeto de letras de música, memes na internet e foram elevados informalmente a símbolos do Brasil. Um dado que comprova isso é que em 31 de julho é comemorado nacionalmente o Dia do Vira-Lata.
As aparências são as mais diversas, afinal os vira-latas são caracterizados justamente pelo cruzamento entre cachorros com padrões fenótipos mais definidos. Apesar disso, o conhecimento técnico e científico vem avançando e trazendo mais entendimento sobre esses animais. “Como sabemos os SRDs é uma mistura de várias raças, o que lhes confere uma variabilidade genética muito grande. Isso lhes traz uma resistência maior a doenças, bem como minimiza o aparecimento de doenças genéticas relativa às raças”, explica o médico veterinário Rogério Politi.
Quanto ao comportamento, o especialista esclarece que a personalidade do cachorro tende a variar, sobretudo, conforme o tratamento que recebe, sem grandes influências biológicas. “Em virtude de ser uma mistura, não temos como prever sobre o seu comportamento. Mas é importante frisar que o tipo de educação que o tutor dá ao animal tem um fator preponderante no seu comportamento futuro. Tutores equilibrados, pets equilibrado”, ressalta.
Vira-latas inspiram mudança na vida de tutora
O senso comum associa os chamados vira-latas àqueles cães que vagam pelas ruas, sem dono, sem cuidados e revirando sacos e cestos de lixo em busca de alimento. Essa imagem não corresponde à realidade vivida pela fisioterapeuta Priscila Brasil, fisioterapeuta, 33 anos, que é tutora de cinco SRDs.
Ela conta que a relação com os cachorros começou há seis anos. Após o falecimento de seu pai, Priscila esteve em uma feira de adoção na Praça da República e ali se encontrou pelo primeiro parceiro de quatro patas: Zeus, que na época era um filhote de apenas um mês.
“Me apaixonei por ele de cara. Foi ele que me ajudou nesse processo de luto, que eu não estava bem, foi quando eu consegui voltar ao trabalho porque eu comecei a me dedicar a cuidar dele”, conta ela que hoje tem outros quatro vira-latas. Todos eles batizados com nomes alusivos à mitologia grega: Diana, Apollo, Isis e Melissa.
O cuidado com os animais se tornaram parte tão importante da vida de Priscila Brasil que a levaram a mudar os rumos da carreira. Hoje, ela cursa o último semestre da graduação em Medicina Veterinária, muito inspirada pelo conhecimento que buscou para oferecer o melhor tratamento a seus companheiros.
Outro passo importante para ela foi se mobilizar em torno dessa comunidade ainda marcada pelo preconceito. “Em Belém, não tinha grupos de vira-latas. Ai eu acabei criando um grupo nas redes sociais. Às vezes fazemos encontros e acabamos conhecendo pessoas que também sofrem preconceito com seus animais, também conhecemos pessoas que resgatam. A gente vai encontrando pessoas que nem a gente, que gostam independente de raça”, diz a tutora.
Para Rogério Politi, esse é tipo de comportamento que se espera de qualquer pessoa que tenha um animal de estimação. “Os cuidados com a saúde são os mesmos que devemos dar a todos os animais. Uma alimentação balanceada, vacinas, assistência médico veterinária, lazer, espaço e educação. Não é porque o animal é sem raça que o tutor pode relaxar nos cuidados. Por isso sempre temos que ter em mente a posse responsável”, diz o veterinário, que frisa. “Só deve ter um pet, quem tem condições de oferecer toda assistência possível”.
Priscila Brasil afirma que é desafio orientar cinco animais, já que há custos elevados também que pesam sobre o orçamento. Por outro lado, ela avalia que a recompensa é maior que qualquer esforço. “O retorno é maravilhoso. Eu sofro de ansiedade, eles me ajudam muito principalmente quando eu estou em crise. Eles são a alegria da casa. É muito bom ver eles pulando, ficando felizes porque a gente chega em casa. Eu cuido deles como se fossem meus filhos mesmo, eles são essenciais para mim”.