Dia do ceramista: conheça Olarias em Belém que se dedicam à arte milenar
No distrito de Icoaraci existem diversos artesãos e olarias que ultrapassam gerações e são fundamentais para a cultura local e Amazônida
O Dia do Ceramista é comemorado em todo Brasil neste dia (28), a profissão que nasceu da necessidade do homem em utilizar utensílios para ajudá-lo em seus afazeres, continua resistindo e encantando a todos com sua técnica milenar. No distrito de Icoaraci, no bairro do Paracuri, em Belém, existem diversos artesãos e olarias que ultrapassam gerações e são de suma importância para a economia de famílias locais. Feitas à mão, as cerâmicas podem ser utilitárias, marajoaras, tapajônicas e icoaraciense e são fundamentais para a cultura local e Amazônida.
A Olaria do Espanhol é a mais antiga da região e foi fundada em 1903, por João Espanhol. Hoje é comandada pelo mestre Ciro Croelhas, neto de João. A Olaria possibilitou a comunidade local ter acesso à tecnologia do torno, onde requer um oleiro que usa as mãos para formar o barro da forma que quer. E também do forno,que permite que as peças de cerâmica moldadas sejam expostas à temperatura, para que haja o realce de cores e efeitos desejados.
Para Ciro Croelhas, é uma responsabilidade imensa ser a olaria mais antiga da região. "É uma responsabilidade, porque a gente tem que levantar todo dia pensando o que a gente vai fazer hoje melhor do que fez ontem. Eu tenho sempre essa preocupação, pois envolve muita coisa aqui, desde a matéria prima, a também cuidar dos funcionários que trabalham com a gente, alguns trabalham há decadas com a gente. Temos também a responsabilidade sempre estar recebendo bem os clientes. A minha preocupação primária é fazer sempre o melhor pra que o cliente seja bem servido. Eu vim para cá para o lugar do meu pai e quando dei por conta já se passaram 28 anos e parece que foi ontem", conta.
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Um dos projetos atuais da Olaria, consiste em um museu criado por Croelhas para abrigar a história e memória da sua família. Ele explica que teve a ideia de criar o espaço há mais de 10 anos, porém não imaginava que o projeto seria tão grande.
"Eu queria fazer uma coisa simples, dentro do meu escritório, que era apenas para poder dizer que no tempo do meu pai e do meu avô algumas peças eram feitas daquela forma. Eu mandei replicar alguns modelos, tenho um primo que tem mais de 70 anos e ele reproduziu essas peças se lembrando desses formatos e fez em miniaturas. Então quando chegassem pessoas aqui que quisessem conhecer um pouco da história, eu poderia falar a história e mostrar a peça relacionada com a história. Isso era o que eu estava tentando fazer e fiz, só que a coisa tomou uma proporção grande e recebi a proposta de criar um Ecomuseu. Eu aceitei e foi a melhor coisa que aconteceu", conta emocionado.
Para Marivaldo, manter a arte da cerâmica, significa manter a cultura local. "Esse bairro é um polo de cerâmica, eu sou a terceira geração da minha família, nós somos cinco irmãos e só eu fiquei na cerâmica, porque eu vejo uma importância muito grande de manter essa cultura mais próxima das gerações que estão vindo. Por isso, nós tentamos sempre fazer um trabalho diferenciado. Nós temos também oficinas, projetos para oficinas em um espaço que temos aqui, tudo para tentar formar novos profissionais para que essa cultura se mantenha", relata.
Referência em Cerâmica Arqueológica da Amazônia
O mestre Marivaldo conta que peças arqueológicas da Amazônia são peças deixadas por antepassados, como os povos marajoaras, do arquipélago do Marajó entre outros povos que passaram pela Amazônia dos anos 400 a 1400. "O que se tem desses povos são essas peças, que são encontradas até hoje. A mesma coisa acontece em Santarém, que é uma outra cultura, a cultura tapajônica, que também hoje são encontradas. É uma forma de estudar e pesquisar essa herança que esses povos deixaram", conta.
Ainda segundo o mestre, o trabalho vem sendo realizado desde 2005. " A partir deste ano, eu tive o conhecimento desse segmento de peças arqueológicas e já comecei a fazer minha pesquisa. Em 2008 começamos a reproduzir, porém em 2016, fui convidado a fazer parte de um projeto do Museu Emílio Goeldi, que se chama "Replicando o passado" e é um projeto que a gente tem acesso às peças originais. No museu eles fazem as pesquisas na escultura e a diferenciar a escultura, para depois fazer essa reprodução, tentando chegar ao máximo próximo às originais. Com isso, nos destacamos nesse meio e sendo assim, vindo a ser referencia de peças arqueológicas da Amazônia", diz.
Marivaldo faz parte de um projeto do Museu Emílio Goeldi, onde artesãos e arqueólogos são capacitados a desenvolver o trabalho das peças arqueológicas. "Sempre quando vem pessoas de todo lugar do mundo pesquisar no museu Goeldi, depois das pesquisas elas perguntam onde podem comprar uma peça e o museu nos aponta como uma referência em Icoaraci", relata o mestre.
Ao ser questionado sobre a importância da cerâmica para sua vida, Marivaldo não poupa detalhes. "A cerâmica faz parte da minha vida desde os meus 10 anos de idade, eu nasci e me criei dentro da cerâmica. Eu nunca trabalhei em nenhum outro segmento, sempre estudando e pesquisando novos tipos de trabalho e tudo que eu adquiri hoje, meus filhos formados foi através da cerâmica, então a cerâmica na minha vida é tudo. Tem uma importância muito grande no meu desenvolvimento artístico e profissional", finaliza emocionado.
Comemoração
Nesta terça-feira (28), a prefeitura de Belém realiza uma festa no bairro do Paracuri. O evento começa às 8h com café da manhã especial na Olaria do mestre Rosemiro e reúne artesãos e artesãs em uma grande confraternização.
Em seguida, os doze ceramistas mais antigos serão homenageados com certificados pelo importante trabalho desenvolvido, pelo fortalecimento e valorização da cultura local. Para além de reconhecimento, o agradecimento por levar a arte da cerâmica mundo afora.